A chuva acompanha o comboio até o aeroporto. Nenhum dos homens fala muito, mas a tensão dentro dos SUVs é quase tangível. Don David Lambertini mantém o olhar fixo na estrada, os dedos tamborilando no joelho num ritmo lento, calculado. Não há pressa nos movimentos dele, mas todos ali sentem que a urgência é real.
Ao pousarem em São Paulo, a noite ainda cobre a cidade como um manto. A mansão Schneider permanece iluminada, cada luz refletindo o cuidado extremo com a segurança. Isadora e Jéssica aguardam na entrada da casa, rígidas como sentinelas.
— Nada a relatar, senhor, Isadora informa, entregando o relatório rápido.
David apenas acena, passando direto para o interior. Marta e Lizandra não aparecem, é como ele quer, quanto menos envolvidas agora, melhor.
No salão de jogos, Ravi e Derick já ligam os equipamentos, conectando o celular de Alan Moretti aos sistemas de rastreamento.
— Últimos dados de localização de Vivian, Ravi começa, digitando com velocidade, indicam que ela estava a cerca de 100 quilômetros daqui, a noroeste. Movimentação recente no cartão dela em dois pedágios.
— E o menino? David pergunta, sem tirar os olhos da tela.
— Câmeras dos pedágios registraram o carro. Ele está no banco traseiro, dormindo. Derick amplia a imagem, deixando claro que Vivian dirige, óculos escuros, rosto tenso.
David se inclina para frente, analisando cada detalhe.
— Olhar fixo, ombros tensos… ela não está apenas viajando. Está fugindo, ou não.
— E sem um destino claro, completa Ravi. Os movimentos parecem erráticos. Ela muda de rota, entra em estradas secundárias.
David se endireita, a voz firme:
— Ela está testando se está sendo seguida. Isso significa que sente medo.
— Medo de quê? Pergunta Derick.
— Do que a gente encontrou no corpo do Alan? Do desaparecimento da Cassandra? Ou do que mais pode vir à tona?
David o encara, sério.
— De todos. Ela sabe que carrega algo que o mundo inteiro quer, e não é o dinheiro. É o menino.
Ele pega o envelope ainda fechado, coloca sobre a mesa e empurra para Derick.
— Entregue a Jonathan. Pessoalmente. Mas não agora. Primeiro, eu preciso que ele mantenha a cabeça fria.
Enquanto isso, nos monitores, o rastro de Vivian continua surgindo e desaparecendo. Ravi conecta as imagens de pedágio, câmeras de trânsito e registros de cartão em uma única linha do tempo.
— Temos três horas de vantagem dela sobre nós, se sairmos agora. Ele olha para o Don.
— Quer que eu acione a equipe de interceptação?
David pensa por um momento.
— Não ainda. Primeiro, precisamos prever para onde ela vai. Se interceptarmos cedo demais, ela pode reagir e colocar o menino em risco.
— E se ela estiver indo para outro país? Derick questiona.
— Então, vamos cortar a rota antes da fronteira, responde o Don, com a naturalidade de quem fala sobre um jogo de xadrez.
— Mas primeiro, preciso entender o que houve antes dela fugir.
Ravi conecta novamente o celular de Alan. Entre as mensagens recentes, a última ligação recebida do prefeito do interior, é reproduzida em viva voz.
A voz do homem soa nervosa, quase trêmula:
"Alan, você falou com a Cassandra? Ela sumiu. Não atende o telefone, a empresa dela foi dada baixa. Você sabe onde ela está? Eu estou com contratos na mão e sem saber como proceder…"
A gravação é curta. Alan responde seco: "Não sei de nada."
David recosta-se na cadeira.
— Ele mentiu. E pouco depois, decidiu morrer.
— Talvez para não entregar a Vivian, sugere Derick.
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