O volante treme levemente sob suas mãos, mas não tanto quanto o coração que b**e acelerado no peito. Vivian mantém os olhos fixos na estrada à frente, as luzes dos postes e dos faróis vindo na direção oposta criando um corredor hipnótico que ameaça arrastá-la para um torpor perigoso. O trecho entre o Rio de Janeiro e São Paulo deveria durar cinco horas, mas já são mais de sete desde que saiu. O motivo não é só o trânsito ou o cansaço: é o menino no banco de trás, seu Vitor, seu Jeff, o nome real ecoa como um sussurro que ela tenta abafar, mas não consegue.
Ela parou inúmeras vezes: para brincar com ele, ´para que ele esticasse as pernas, para que tomasse água, para que não percebesse o quanto ela está triste. Agora, restam pouco mais de sessenta quilômetros, mas Vivian sente como se a estrada fosse infinita. O corpo dói, o estômago está embrulhado e a cabeça pulsa, martelando perguntas que não quer responder.
— Vai dar tudo certo, meu amor… murmura, mais para si mesma do que para o filho.
No retrovisor, vê o rosto sonolento do menino. As feições dele parecem mais puras do que qualquer coisa que já tenha visto, e é nesse contraste que o medo cresce. Se o que Alan disse em seu momento de embriaguez for verdade… se realmente Vitor for Jeff Maia Schneider… então todo o mundo seguro que ela construiu é uma mentira.
Vivian pisca várias vezes para conter as lágrimas, mas elas escorrem de qualquer jeito. Uma mão segura firme o volante, a outra se estende para trás, buscando a dele. O menino segura os dedos dela, e por alguns instantes, a estrada e os perigos parecem distantes.
O celular vibra no console com uma notificação que ela ignora. Não quer ouvir ninguém, não quer atender ninguém. Mas o destino, cruel como é, intervém e a tela se apaga. A bateria morreu. Vivian procura às cegas o carregador, tateando o porta luvas, as bolsas, mas nada. Um vazio se instala no estômago. Sem GPS, sem forma de avisar para onde vai, sem sequer a hora certa.
O sono começa a pesar. Pisca demoradamente, o carro balança na faixa e ela se corrige com um tranco. O medo cresce. Não pode correr o risco de adormecer ao volante com o filho. Então decide: precisa parar.
O primeiro letreiro luminoso na estrada parece um farol de salvação: Motel Estrela da Serra – 2 km. O coração dispara. É um lugar barato, discreto, mas, sobretudo, longe dos olhos de quem a procura. Vira o volante e entra.
A recepção é silenciosa, o atendente nem questiona. Entrega a chave e indica a vaga coberta. Vivian estaciona, pega o filho ainda sonolento e sobe. Ao entrar no quarto, o cheiro de desinfetante e lençóis limpos a acolhe. Ela fecha a porta, encosta-se nela e finalmente desaba em lágrimas, abraçando Vitor com força.
— Você é tudo o que eu tenho, sussurra, enquanto o menino sorri e toca seu rosto molhado.
Vivian o deita na cama, liga o chuveiro e, como num gesto mecânico, começa a organizar as poucas coisas que trouxe. O banho vem primeiro para ele. Água morna, shampoo infantil. O menino ri quando a espuma cai no rosto. É uma cena simples, mas que parte o coração dela, porque atrás de cada sorriso há um medo escondido: o de perder o filho.
Ela o seca com cuidado, veste um pijama leve e prepara a mamadeira. Sentam-se juntos na cama, ele encostado no peito dela, mamando devagar. Vivian fecha os olhos e tenta acreditar que ainda existe um amanhã onde estarão seguros.
Naquele instante, imagens fragmentadas invadem sua mente, Alan chegando em casa bêbado, dizendo coisas que ela não queria ouvir; a raiva no olhar dele, a confissão cuspida como veneno.
— “Ele não é Vitor… é Jeff Maia Schneider”.
O rosto dela se contrai. Parte de si quer acreditar que foi só uma provocação cruel, outra parte sabe que Alan não era capaz de inventar mentiras tão elaboradas. E se for verdade? Se ele roubou o bebê de uma maternidade, como disse?
— Deus… murmura, quase num sussurro.
— Se isso for verdade… eu nunca vou perdoar o meu marido, não posso conviver com isso.
Vitor termina a mamadeira e ri quando ela lhe faz cócegas na barriga. Brincam por alguns minutos, e a leveza daquele momento é como um sopro de vida no meio do caos. Vivian o abraça e, exausta, deita-se com ele na cama.
A última coisa que sente é o calor do corpo do filho contra o seu. E adormecem, mãe e filho, juntos, como se o mundo lá fora não existisse.
Enquanto isso, o ponteiro do relógio no painel avança implacável. Já são mais de duas horas de estrada e, apesar de todas as rotas analisadas, nenhuma leva ao paradeiro de Vivian. David, ja no banco de trás, observa o GPS no tablet de Ravi, um mapa com linhas, pontos e áreas vermelhas marcando as últimas possibilidades de localização.
Derick, no carro de apoio, mantém contato pelo rádio:
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