O silêncio pesa na sala como uma lâmina suspensa. Don David Lambertini entra, o sobretudo ainda úmido da chuva, e nos olhos o peso de quem carrega más notícias, e algo mais. Ele não fala nada no início, apenas caminha até Jonathan, deixando sobre a mesa um envelope dobrado com a precisão de um bisturi.
— Achei isso ao lado do corpo de Alan, diz com voz baixa e controlada.
— Acho que é melhor você ler.
Jonathan encara o envelope como se pudesse queimar só de tocar. Ao lado, Jeff brinca inocente com Lua, sob supervisão de Lizandra , balbuciando sons doces, alheio ao peso das palavras que ainda não conhece. Vivian, sentada num canto, aperta os dedos com força, como se já soubesse o conteúdo.
Jonathan abre o envelope. O cheiro de papel úmido se mistura ao de tinta quase fresca. É a caligrafia de Alan Moretti. Ele começa a ler, mas a cada linha o ar parece rarear na sala.
"Jonathan,
Não vou pedir desculpas. Eu não me arrependo de nada.
Sempre amei a vida que tive, até você destruí-la. O Grupo Moretti era sólido, respeitado… seu concorrente direto. Mas você nos massacrou.
Na primeira crise, você comprou a minha empresa. E não teve nem a decência de me deixar na diretoria. Você me expulsou como se eu fosse um rato de esgoto. Acabou com a minha reputação. Fiquei sem rumo, prestes a perder tudo, até o meu casamento.
Minha sorte foi ter Vivian. Ela sempre me amou… foi o meu porto seguro. E eu, um verdadeiro filho da putta, sempre a manipulei.
Quanto mais você prosperava, mais eu te odiava. Um casamento feliz, uma esposa linda e grávida… Você teria um filho homem.
Foi aí que decidi dar fim à sua vida. Paguei para sabotarem o seu carro. Queria ver a morte nos seus olhos. Mas vi Aira Schneider morrer, com seu filho no ventre. Eu, obstetra, matei uma gestante. A morte era para você, seu desgraçado. Por que não estava naquele carro? Por que ela foi no seu lugar?
A imagem dela tentando proteger a barriga me persegue até hoje. Talvez seja por isso que Vivian nunca conseguiu engravidar. Castigo, talvez. Mas, no fundo, eu sei: ela não foi meu alvo. O alvo sempre foi você.
Anos depois, mandei pegar a Marta. Vocês salvaram ela… e mataram meu homem de confiança. O jogo seguiu. Até que, ironicamente, o destino me devolveu Marta, à beira da morte, com os filhos prestes a nascer.
Ela teve uma parada cardíaca. Nós reanimamos. Fizemos a cesariana. Vi dois bebês. O menino… meu Vítor… nasceu roxo, sem vida. Reanimamos. Ele chorou. A menina, Lua, tinha duas circulares no pescoço, nasceu parada também. Salvamos. Nossa equipe conseguiu salvar os três!
Foi nesse instante que vi outra oportunidade. Esperei o momento certo, fui até a UTI neonatal e levei o menino. O seu filho. Porque você tinha perdido um menino antes… e eu sabia que isso te esmagaria ainda mais.
Entreguei o bebê a Hermes, um enfermeiro amigo. Ele passou para Cassandra, que também foi esmagada por você e te odeia. Ela cuidou dele até Hermes sair do plantão. Depois, ele levou Vítor para Vivian. Ela o viu… e se apaixonou na mesma hora. Nunca perguntou de onde vinha. Acreditou na primeira mentira bonita que contei.
Registrar? Fácil. Uma DNV preenchida por uma residente e por Hermes. Nada que alguns carimbos e assinaturas falsas não resolvessem.
Hermes morreu. Cassandra sumiu há aproximadamente quinze dias. Vivian fugiu com Vítor quando contei a ela a verdade, que ele é Jeff Maia Schneider.
Não maltrate a Vivian. Ela ama esse menino como se tivesse saído dela. Eu também amo. Mais do que imaginei ser capaz. Ele me fez melhor. Me deu um motivo para não ser um completo lixo. Com ele, aprendi que amor não precisa de sangue.
Quanto à Marta, peço perdão. Quanto à Aira e ao bebê que ela carregava… também. Eles nunca foram os meus alvos.
Mas você, Jonathan… não consigo me arrepender. A desgraça da sua vida, fui eu. Não ela.
Vivian só pecou por me amar. E eu a amei… mais que tudo.
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