O ar no quarto é pesado, impregnado de medo e cheiro metálico de sangue impregnado no ambiente. Cassandra está encolhida na cama, o corpo retorcido pela dor, o corpo marcado por queimaduras e hematomas, o rosto distorcido num reflexo grotesco no espelho preso no teto. Cada respiração é um esforço, cada batida do coração parece anunciar o próximo golpe. A maçaneta gira com um estalo. Ela congela. Don David Lambertini entra. Não há pressa em seus passos, apenas a confiança letal de quem já sabe que controla todas as peças desse jogo de dor.
Ele fecha a porta com um clique suave, quase gentil, mas o silêncio que se segue é mais ameaçador do que qualquer grito.
— Está confortável, Cassandra?
A voz dele é calma, quase afetuosa, mas o olhar é de um predador que saboreia a caça antes do abate.
Ela não responde. Os lábios rachados se mantêm fechados, os olhos fixos no lençol sujo, como se fugir do olhar dele pudesse torná-lo menos real.
David puxa uma cadeira, senta-se com a elegância calculada de quem sabe que o tempo está do seu lado.
— Hoje, vamos brincar um pouco mais.
Ele se inclina para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.
— Não se preocupe, não vou tocar nas queimaduras… não ainda.
Cassandra estremece.
— Por favor… me mate.
A voz dela é um sussurro rouco.
— Acabe logo com isso…
Ele sorri, mas não é um sorriso humano.
— Matar você? Agora?
Ele ri baixo, balançando a cabeça.
— Seria um desperdício. Você ainda me deve muitas respostas.
Ela fecha os olhos, as lágrimas surgindo.
— Eu não sei onde ele está…
O olhar de David se estreita, mas o tom continua sereno.
— Onde está Jeff Maia Schneider?
— Eu… a respiração dela falha, não sei, juro.
Ele suspira como um pai paciente com uma criança teimosa. Então, sem aviso, ele pressiona o joelho contra uma área inflamada na coxa dela.
— AAAAHHH AAAAAHHH!
O grito dilacera o ar.
— Onde. Está. Jeff? Ele aumenta a pressão, observando-a se contorcer.
— Eu só sei… que está com Alan Moretti… no Rio de Janeiro!
As palavras saem entre soluços.
— Mas… eu nunca estive lá!
David retira a mão do joelho dela e se recosta.
— Melhor.
Ele a observa com um brilho cruel nos olhos.
— Mas ainda é pouco.
Ela respira rápido, o corpo tremendo.
— É tudo o que sei…
— Não.
Ele se levanta, caminha devagar até a cabeceira e, com um movimento rápido, aperta um ponto onde a carne está mais avermelhada, infeccionada.
Cassandra solta um grito tão agudo que chega a perder o fôlego. Um calor vergonhoso se espalha pela cama, ela urinou de dor.
— Olha só… David comenta, divertido.
— Tão fácil de quebrar.
Ela chora, quase sem ar.
— Por favor… me dê alguma coisa… qualquer coisa para dor…
— Sabe o que eu quero? Ele segura o queixo dela e a força a olhar para o espelho no teto.
— Que você veja o que se tornou. Olha bem. Enquanto isso, lembra que Marta e Islanne são lindas, e você… é isso. — A palavra “isso” sai como um cuspe, carregada de desprezo.
Ela tenta desviar o olhar, mas ele aperta mais forte.
— Hoje, ele se chama Vitor… está com Alan… e a esposa dele… ela murmura, esgotada.
— Interessante… mas ainda é pouco.
Ele aumenta a pressão no ponto inflamado, fazendo-a gemer e tremer.
— Você pode mais.
Ela grita, a voz falhando, até que desmaia.
David estala os dedos. Um de seus homens entra com um balde e despeja água gelada sobre ela. Cassandra acorda num sobressalto, arfando, o desespero estampado no rosto.
— Vamos lá… ainda temos muito jogo.
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