Dias depois
O envelope sobre a mesa parece pulsar, como se carregasse não apenas palavras, mas o destino de todos ali. O ar na sala é denso, cada respiração pesada, cada olhar fixo naquelas letras ainda invisíveis. Jonathan, imóvel por longos segundos, finalmente ergue os olhos para Rui.
— Abra.
Sua voz sai baixa, quase um comando.
Rui rasga o lacre com precisão, retira o laudo e começa a ler, a tensão crescendo a cada palavra. Então, ele diz o que todos temem e, ao mesmo tempo, desejam ouvir:
— Confirmado. O bebê testado… é Jeff Maia Schneider.
O silêncio é quebrado por um soluço. Marta desaba nos braços de Jonathan, que a segura como se jamais fosse soltá-la. É choro de alívio, de gratidão, de dor e amor misturados. Vivian, sentada num canto, fecha os olhos e deixa uma lágrima cair, sabendo que, apesar de tudo, fez a coisa certa.
— Agora podemos contar para minha família… Marta murmura, sem largar o marido.
— Sim. Mas faremos isso do jeito certo. Jonathan assente, olhando para Rui.
O advogado ajeita os óculos, a postura profissional se impondo:
— Vamos iniciar o processo de guarda definitiva. Primeiro, notificaremos o Conselho Tutelar e o Ministério Público. Com o resultado do DNA, não há dúvidas jurídicas. Mas, como Vivian não pretende voltar ao Rio, precisaremos ajustar os termos de convivência. É importante que esse vínculo seja reconhecido formalmente.
— Não queremos afastá-la.
Jonathan fala firme.
— Então incluiremos isso no acordo preliminar.
Rui anota rapidamente.
— Mas, a partir de agora, tudo será oficial, para proteção legal de todos, principalmente do Jeff.
Quando a formalidade se dissipa, David faz sinal para Jonathan.
— No escritório.
A porta se fecha atrás deles. O Don se encosta na mesa, postura relaxada, mas olhar cortante.
— Fiz o que precisava. Agora volto para casa.
Jonathan hesita.
— E os custos? Os acertos? Eu sei que a máfia não trabalha de graça.
David ergue uma sobrancelha, um meio sorriso no canto da boca.
— Já está pago.
— Deve haver algum engano. Eu não paguei nada.
— Não. Quem pagou foi a cobra Cassandra.
Jonathan fica em silêncio, processando. David então se aproxima, a voz mais baixa, carregada de autoridade.
— A partir de agora, Jonathan, você me deve um favor. E na minha mesa… favores não vencem, não expiram e não se discutem. Quando eu chamar, você vem. Não importa o dia, a hora ou o que esteja fazendo.
Ele dá um leve tapa no ombro do amigo, como quem sela um pacto invisível.
— A máfia não esquece. Nem perdoa quem quebra palavra.
David caminha lentamente até a porta, gira a chave e o clique metálico ecoa como um aviso. Sem dizer nada, volta e abre o notebook sobre a mesa, a tela iluminando seu rosto impassível. Com poucos toques, um vídeo começa a rodar.
Jonathan se inclina, mas logo o estômago revira. No vídeo, Cassandra está presa no carro, as chamas consumindo a lataria e a pele dela. O som é abafado, mas os gritos cortam qualquer defesa mental.
— Meu Deus… Jonathan leva a mão à boca, os olhos arregalados.
David pausa, avança alguns arquivos, e um novo vídeo começa. A imagem agora é de um quarto sujo, com iluminação amarelada. Na cama, um corpo magro, amarrado. A respiração é pesada, quase um rosnado. O rosto… ou o que restou dele… é desfigurado, apenas um olho, as orelhas e nariz foram queimados, toda a extensão do corpo destruído, até mesmo o couro cabeludo.
— Isso… isso é Cassandra?
Jonathan pergunta, a voz cheia de incredulidade.
— Você sabe o que está dizendo?
— Sei. Nossa dívida com você… e com a máfia… será eterna.
O Don se recosta na cadeira, um leve aceno de aprovação.
— Aceito. É só avisar. Mas lembre-se… isso tem um preço.
— Qualquer preço.
Jonathan afirma, sem hesitar.
David fecha o notebook e se levanta.
— Então, a partir de hoje, Lua e Jeff são protegidos da máfia. Quem tocar neles… toca em mim. E quem toca em mim… não vive para contar.
David fecha o notebook e apoia as mãos sobre a mesa, medindo Jonathan com um olhar que, até pouco tempo, carregava apenas frieza e cálculo. Agora, há algo diferente — um reconhecimento silencioso.
Jonathan se levanta, contornando a mesa. Os dois homens ficam frente a frente, e o aperto de mão que trocam é firme, pesado, quase uma assinatura invisível de um pacto que vai além de palavras.
— Não é só dívida, Don David… é respeito. Jonathan diz, com a voz baixa, mas convicta.
— E amizade. David completa, com um raro meio-sorriso.
— Daquelas que não se compram, nem se quebram.
Ele dá um leve tapa no ombro de Jonathan, gesto de camaradagem que só existe entre homens que já viram o pior lado do mundo e sobreviveram.
— Quando vierem à Argentina, não se preocupem com hotel. Vocês vão ficar na mansão Lambertini. E, antes de voltarem, passaremos alguns dias na fazenda de Lizandra. Vai ser ótimo… vinho, cavalos, e um pouco de paz.
Jonathan sorri de volta, como quem entende que aquele convite não é comum.
— Está combinado.
Não há necessidade de mais palavras. Ambos sabem que, naquele escritório, nasceu algo raro, uma aliança que começou com sangue e termina com um respeito mútuo, que vão carregar pelo resto da vida.

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