O sol alto derrama luz sobre a varanda ampla do sítio dos Maias, e o cheiro de comida boa escapa pela porta da cozinha, se espalhando no ar quente. É um dia tranquilo e calmo demais, talvez, mas ninguém ali imagina que, antes que a tarde acabe, um daqueles segredos capazes de mudar vidas será revelado.
Eduardo e Darlene chegam de mãos dadas, ela com o corpo já marcado pelos oito meses de gestação, o rosto iluminado e os olhos vivos de quem ama a vida que está construindo. A felicidade deles é quase palpável. Dona Miriam, a cozinheira da fazenda, tirou o dia de folga, e eles resolveram aproveitar para almoçar no sítio dos Maia. Dona Maria preparou um almoço farto, com tudo que eles gostam. Seu Heitor voltou da lida cedo, ainda com a camisa manchada de poeira do trator, depois de passar a manhã preparando o pasto para o milho. Miguel havia saído mais cedo para buscar Mariana, para que todos estivessem reunidos.
Na varanda, o papo flui fácil. As cadeiras de balanço rangem, as xícaras de café tilintam nos pires, e o som distante do canto dos pássaros no campo cria uma moldura perfeita. É nesse clima que se ouve, de repente, a voz de Darlene ecoar do portão, alta e divertida:
— Pelo amor de Deus, cadê esse almoço? Eu e o meu filho estamos morrendo de fome!
Todos riem. Eduardo corre até ela, apoiando-a pelo braço, mas não sem antes receber a provocação certeira de Miguel:
— Tá criando coragem, cunhado? Desse jeito, até o neném vai puxar mais para mãe do que para o pai…
— Engraçadinho, retruca Eduardo, estreitando os olhos, mas o sorriso no canto da boca entrega que ele não leva a sério.
Na mesa, o clima é de festa. Darlene, sempre afiada, brinca:
— Nem tempo de cozinhar eu tive… fiquei no curral cuidando dos bezerros.
Dona Maria serve a comida enquanto o riso corre solto. Entre uma garfada e outra, os olhares se cruzam como quem sabe que, naquele instante, tudo está exatamente como deveria ser.
Depois do almoço, todos se reúnem novamente na varanda. A conversa vai e vem até que Miguel, com um tom quase casual, deixa escapar:
— Hoje sonhei que o Jeff voltava pra casa… e que a Marta me ligava contando.
A frase parece prender o ar. Seu Heitor troca um olhar rápido, mas carregado, com Dona Maria. Eles conhecem o jeito do filho, sabem que Miguel e Marta sempre tiveram um laço forte, daqueles que atravessam distâncias e anos. E sabem também que ele não costuma falar desse tipo de sonho à toa.
O clima é cortado por Darlene que diz que não vai morrer de curiosidade, então faz uma video chamada para Marta.
— Olha só, Tempestade, quando é que esse bebê lindo vai nascer? Brinca Marta, usando o apelido que só ela consegue dizer sem levar um olhar torto de Darlene.
Todos se inclinam para perto do celular, curiosos. Marta, rindo, comenta:
— Espera aí… você tá no sítio dos meus pais?
— Tô sim, mulher! — responde Darlene, mostrando com a câmera todos reunidos.
Dona Maria e Seu Heitor aparecem no quadro, e Marta não contém o riso. Mas então, Seu Heitor se adianta:
— Miguel… conta para a sua irmã o seu sonho.
Miguel encara o celular, sério, e repete:
— Eu sonhei que o Jeff tinha voltado pra casa.
Do outro lado da tela, o silêncio de Marta é interrompido por um soluço. Ela não diz nada, apenas se levanta e caminha até um berço. A câmera do celular balança até focalizar Jeff e Lua, dormindo juntos, abraçados, como se o mundo lá fora não existisse.
O mundo para.
Miguel sente as pernas cederem, e Mariana o segura pelo braço. Ele a puxa para perto e a abraça forte, as lágrimas descendo sem controle. Eduardo, tomado por uma emoção crua, vibra como quem acaba de vencer uma guerra.
— Karalho… ele tá aí… ele tá aí mesmo! Explode, sem conseguir segurar as palavras.
Dona Maria leva a mão à boca, e Seu Heitor a envolve pelos ombros, sentindo o tremor dela. Darlene, que sempre tem uma piada pronta, agora não segura as lágrimas.
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