Rui Campos deixa o Grupo Schneider com passos firmes, o blazer perfeitamente alinhado e a pasta de documentos sob o braço. O sol da manhã ilumina a fachada imponente, mas ele já está com a mente na tarefa que o espera. Ao entrar no carro, respira fundo antes de ligar o motor. O trajeto até a mansão Schneider, onde Vivian Moretti está hospedada parece mais longo do que realmente é e ele sabe que o dia será decisivo.
Vivian já o aguarda no portão, vestida de forma elegante, os cabelos presos num coque apressado, ela conversa com Isadora animadamente. Ao vê-lo, força um sorriso tímido, mas o nervosismo está estampado no rosto. Rui estaciona, sai para abrir a porta do passageiro e a cumprimenta com um aceno breve.
No interior do carro, o silêncio inicial é quebrado pela voz calma, mas incisiva, do advogado:
— Vivian, preciso que entenda… o delegado pode ser duro. É o trabalho dele pressionar, provocar, tentar encontrar contradições. Ele a encara de relance, enquanto mantém uma das mãos no volante. — O mais importante é que você fale apenas a verdade. Sempre.
Ela assente, os dedos entrelaçados sobre o colo.
— E se… e se ele não acreditar em mim?
— Não é seu trabalho convencê-lo, Rui responde, firme.
— É o meu. O seu papel é se manter calma. Não caia em provocações, não se altere. Mesmo que ele levante a voz ou tente fazer você duvidar de si mesma… mantenha a serenidade.
Vivian solta o ar devagar, como se tentasse controlar o batimento acelerado.
— Eu tenho medo…
Rui suaviza o tom, embora não perca a objetividade:
— O medo é natural, mas a verdade é a sua maior proteção. E eu estarei ao seu lado o tempo todo. Se eu achar que uma pergunta é abusiva ou sem relação com o caso, eu vou intervir.
O carro segue pela avenida movimentada, e cada quilômetro parece pesar sobre Vivian. Rui, porém, continua transmitindo segurança:
— Hoje é só mais um passo. Respire, responda com clareza e não invente nada para “ajudar”. A verdade, nua e crua, é sempre o melhor caminho.
Vivian fecha os olhos por alguns segundos, tentando gravar cada palavra, como se fossem âncoras para quando o mar da pressão começasse a subir.
O som seco da porta da sala de interrogatório se fechando ecoa pelo ambiente, cortando o ar como uma lâmina. Vivian Moretti senta-se diante da mesa, os olhos claros marejados, enquanto o delegado ajeita uma pasta volumosa diante de si. Rui Campos, ocupa a cadeira ao lado dela, postura ereta e olhar vigilante. O clima é tenso, e até o zumbido do ar condicionado parece amplificar o peso do momento.
— Senhora Moretti, o delegado começa, voz firme, porém controlada, vamos retomar desde o início. Conte como o menino Jeff Maia Schneider chegou até a senhora.
Vivian respira fundo, as mãos tremendo levemente sobre o colo.
— Foi o Hermes… um amigo do meu marido. Ele trabalhava como enfermeiro no mesmo hospital que o Alan trabalhava na época, em Matão. Ele me trouxe o bebê… e me entregou, não disse nada, pediu apenas que esperasse o Alan chegar do plantão.
Quando ele chegou, eu nem pensei em perguntar nada, estava completamente envolvida com o bebê, eu sempre sonhei em ser mãe… mas infelizmente não aconteceu…
Depois ele disse que a mãe era uma adolescente que não podia criá-lo. Eu… eu não questionei. Só… só amei aquele menino desde o primeiro momento, não iria permitir que ele fosse para um orfanato, eu já o amava.
O delegado inclina-se para frente, os dedos tamborilando na mesa.
— Nunca desconfiou da história? Nenhum detalhe lhe pareceu estranho?
Vivian engole em seco, o rosto se contorcendo.
— Não… eu… confiei no meu marido. Ele disse que a mãe estava desesperada, que a família a expulsaria de casa se ela voltasse com o bebê. Eu… só quis proteger o meu filho.
— Proteger… o delegado repete, com um tom levemente irônico.
— E como explica o fato de uma adolescente pobre dar à luz num hospital particular?
Ela hesita. As lágrimas rolam, e a voz sai embargada.
— Eu… eu nunca pensei nisso… nunca passou pela minha cabeça. Eu só… cuidei dele.
O delegado se recosta na cadeira, avaliando cada palavra, cada gesto. O silêncio é denso, quase palpável. Rui percebe a tensão e intervém:
— Delegado, minha cliente já respondeu. Não há indício de que tenha participado de qualquer ato ilícito. Ela agiu como mãe, não como cúmplice.
O delegado mantém o olhar fixo em Vivian, que limpa as lágrimas com as costas da mão. Há uma sinceridade crua em sua expressão, a mesma de quem não está escondendo nada… ou é boa demais em fazer parecer que não esconde.
Ele fecha a pasta lentamente.
— Está bem, dona Vivian. Mas entenda… às vezes, a verdade não é apenas o que a gente acredita. É o que realmente aconteceu.
Vivian abaixa os olhos, e Rui pousa uma mão firme sobre o braço dela, num gesto de apoio.
Enquanto o delegado observa em silêncio, uma pergunta ecoa apenas em sua mente: e se ela realmente não souber de nada… ou souber muito mais do que está dizendo?
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