O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino romance Capítulo 405

O ar do quarto é denso, pesado de cheiro de antisséptico e algo mais, um aroma nauseante de pele queimada. As paredes, amareladas pela luz fraca do abajur, parecem se fechar sobre Cassandra. Cada sombra parece mais longa, cada som mais alto. Ela está deitada, o corpo marcado, costurado em remendos de carne viva, a respiração irregular. A dor já é sua companheira há dias, mas o que entra pela porta agora carrega outro tipo de ameaça.

Don David Lambertini.

Ele fecha a porta com um empurrão suave, quase cortês, mas o som conhecido reverbera como um disparo no peito dela. O olhar dele, frio e divertido ao mesmo tempo, percorre o quarto como se fosse o dono do lugar e de tudo que nele respira.

— Veio me matar? Cassandra tenta manter a voz firme, mas o timbre falha miseravelmente.

— Não. Ele caminha até a beira da cama.

— Vim… te ver.

O sorriso é lento, calculado. Ele se senta ao lado dela, tão perto que ela pode sentir o cheiro amadeirado do perfume dele misturado a um toque metálico de pólvora.

— Sabe… um tapa em um adulto arde, em um bebê dói. Arde. Ele fala como quem conta uma história à beira da lareira.

— Agora imagine… um corpo aberto, carne exposta. Imagine o que acontece quando… algo mais entra na ferida.

Do lado da cadeira, uma pasta de couro. Ele a abre e retira um pequeno frasco de vidro transparente. A luz amarela do abajur revela o líquido oleoso vermelho escuro que dança lá dentro. Ele tira a tampa devagar, deixando que o cheiro forte de pimenta invada o quarto como uma presença invisível.

— David… por favor… ela implora com a voz miseravelmente baixa.

— Ah, Cassandra… Ele balança a cabeça.

— Quantas vezes você disse “por favor” quando encostou suas mãos naquele bebê?

Sem esperar resposta, ele mergulha a ponta dos dedos enluvados no líquido. O calor oleoso da pimenta adere ao couro. Com um gesto controlado, pressiona sobre a pele inflamada do braço dela.

O grito explode dos pulmões de Cassandra com uma força quase sobre humana. É um som que mistura dor e pavor, ecoando nas paredes como um animal preso em uma armadilha letal. Ela se contorce, mas cada movimento apenas faz o ardor se espalhar, como se labaredas corresse por debaixo da pele.

— Arde? Ele pergunta, como um cientista curioso diante de um experimento.

Ela não responde, apenas chora e se encolhe. Ele repete o gesto, desta vez na lateral do tronco, onde as bandagens deixam uma faixa de carne viva exposta. O grito dela é mais agudo, mais desesperado, o corpo arqueando com tal força que parece querer se soltar dos próprios ossos. A bexiga cede, e um jato quente de urina escorre pelo lençol.

— Misericórdia!!!

David observa. E ri.

— Misericórdia? — Ele repete, como quem saboreia a palavra.

— Você não sabe o que é misericórdia.

Ele mergulha a mão novamente no frasco, o líquido escorrendo lentamente pela luva preta. Cassandra tenta virar o rosto, como se não ver fosse o mesmo que não sentir. Mas ele já está sobre ela, espalhando a pimenta com calma, como quem massageia um creme caro, só que nos sei0s deformados e sensíveis, onde a pele ainda lateja de queimaduras.

— Sempre tão vaidosa… tão orgulhosa. Ele sorri.

— Veja no que se tornou.

Ela grita até ficar rouca, as lágrimas lavando o rosto, misturando-se com o suor frio. O peito sobe e desce rápido, os olhos procurando uma saída que não existe.

David aproxima a mão ensopada de pimenta da região onde Cassandra mais teme. Ela tenta fechar as pernas, mas ele as afasta com um gesto firme, quase preguiçoso, como quem move uma cortina para deixar entrar a luz, só que, desta vez, a luz é fogo líquido invadindo através dos dedos do seu algoz.

O contato é instantâneo.

A primeira sensação é um calor súbito, quase como se alguém tivesse encostado ferro em brasa. Mas não é apenas na pele. O ardor se infiltra, atravessando como um veneno, serpenteando cada parte da sua mísera existência. É um incêndio que não se contenta em queimar por fora, ele cava, mergulha, toma posse.

O grito que explode da garganta de Cassandra não é apenas alto, é irregular, partido, um som que sobe e desce como se o corpo tentasse expelir a dor e ela voltasse mais forte.

— NÃÃÃO!

A voz dela rasga o ar, grave e aguda ao mesmo tempo.

As mãos agarram os lençóis, arrancando fios de tecido, enquanto os pés batem contra a cama numa cadência caótica. O quadril arqueia sem controle, tentando fugir do toque, mas a dor parece acompanhá-la, como se estivesse colada ao corpo.

O calor vira labareda. A labareda vira lâmina. A lâmina corta, rasga por dentro.

O abdômen se contrai violentamente, cada músculo em espasmo. Ela sente o corpo convulsionar, como se estivesse sendo eletrocutado, tremores desordenados percorrendo-a dos ombros aos dedos dos pés.

Os olhos se arregalam até o branco ficar quase todo exposto. Em segundos, a visão turva começa a se fixar em um ponto fixo no teto, e a pupila dilata, como se tentasse absorver o pouco de luz e escapar dali por dentro. É o olhar de alguém que já está deixando o próprio corpo.

David observa. Não apressa. Não recua.

— Olhe para mim, Cassandra. A voz dele é baixa, quase suave.

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