O motor do carro ainda ronca quando Rui deixa a mansão Schneider para trás, mas a mente dele está em outro lugar. As lembranças vêm como facadas, a imagem de Islanne, nua, entregue a Ravi, seu amigo, ainda queima em sua mente. Ele já não sente a mesma revolta de antes, mas o gosto amargo continua preso na garganta.
Já não sente aquela raiva explosiva e hoje já consegue entender que nunca foi traído, hoje está claro que Ravi e Islanne não foram culpados, ele foi o maior culpado em não se declarar ou tentar viver, sabe que só a procurava em busca de sex0 e no fundo, se envergonha disso.
Pensa nas férias em que tentou se distrair, nas mulheres que passaram por sua cama, nos corpos quentes, nos 0rgasmos intensos… mas tudo, absolutamente tudo, terminou em vazio. Sem nomes, sem rostos, sem alma. Apenas sex0 bruto, suado, e nada mais. Pela primeira vez, ele entende Jonathan, que sempre dizia preferir não olhar no rosto, só possuir e deixar para trás. Rui percebe que seguiu o mesmo caminho e vive na necessidade de calar o silêncio com o corpo de outra pessoa, mas no fim, sobra apenas o eco da solidão.
Enquanto dirige, uma lembrança diferente o invade, o olhar de Vivian Moretti. Ela não o julgou. Ela simplesmente contou sobre as suas dores e conseguiu enxergar que ele também tem um passado que causa dor.
Linda, educada, mas, acima de tudo, verdadeira. Ele sentiu a dor dela como se fosse a sua. Talvez por isso a vontade de se aproximar tenha nascido, não como homem que deseja levar uma mulher para a cama, mas como alguém que precisa de uma alma que compreenda. Rui sabe que ela está vulnerável, despedaçada pelo que viveu com Alan, e jura a si mesmo que jamais será um aproveitador. Ainda assim, não pode negar que ao lado dela, se sentiu bem de um jeito que há muito tempo não sentia. E isso o assusta.
— Sexta-feira… murmura, num sorriso discreto, como se já contasse os dias para o reencontro.
Chega em casa, larga a chave sobre a mesa de centro e vai direto para o chuveiro. A água quente escorre sobre o corpo forte e cansado, como se pudesse lavar as memórias que insiste em carregar. Depois, veste uma calça leve, serve-se de um café forte e liga o notebook. A tela ilumina o quarto silencioso, e Rui mergulha no que conhece melhor, o trabalho. Pilhas de documentos confidenciais do grupo Schneider exigem a sua atenção. Ele revisa contratos, corrige cláusulas, prepara relatórios. O foco profissional é seu único refúgio, sua trincheira contra o caos interno.
Mas enquanto digita, a mente traiçoeira retorna a Vivian. Ao sorriso triste. Ao olhar carregado de dor. Àquele instante em que ela pareceu enxergar através dele. Rui se pega pensando: será que ela pode ser a única capaz de compreender a sua ferida? Será que, no fundo, é com ela que ele finalmente conseguirá se reconstruir? Ou será que ambos, esmagados pela vida, estão prestes a se afundar ainda mais em suas próprias dores?
Rui tenta afastar os pensamentos e fecha um dos arquivos, recosta-se na cadeira e esfrega os olhos cansados. O relógio marca quase meia noite, mas ele não sente sono. A mente, inquieta, insiste em voltar à sexta feira. Não ao processo que precisa entregar, não às reuniões já agendadas, mas ao compromisso com Vivian. Um simples encontro, uma saída para distrair, e mesmo assim algo nele pulsa diferente.
Levanta-se, serve mais um café, desta vez sem açúcar, amargo como o gosto que carrega dentro de si. Caminha até a janela e observa a cidade. As luzes de São Paulo brilham como constelações artificiais, mas para Rui não passam de pontos distantes, sem calor, sem verdade. Ele solta um suspiro longo e deixa escapar um pensamento em voz baixa:
— Talvez ela entenda… talvez só ela consiga.
O celular vibra sobre a mesa, quebrando o silêncio. Uma mensagem de Jonathan: "Documento recebido. Ótimo trabalho, Rui. Amanhã falaremos sobre os próximos passos."
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