Rui entra na vice presidência com a pasta de documentos debaixo do braço, passos firmes e postura impecável. Islanne o recebe atrás da mesa, elegante, com aquele ar confiante que sempre o desarmou. Ao lado, a estagiária do jurídico, já organiza anotações e relatórios.
— Rui, precisamos fechar os detalhes do processo da filial da Bahia.
Islanne vai direto ao ponto, como sempre.
Ele abre a pasta, coloca os documentos sobre a mesa e explica ponto por ponto, minucioso, quase cirúrgico. A cada dúvida dela, Rui responde com calma, voz firme, já prevendo riscos, sugerindo alternativas, mostrando domínio absoluto da situação. É o advogado precavido, que pensa três passos à frente e que não deixa brecha para imprevistos.
Por fora, ele é impecável. Mas por dentro… cada vez que Islanne o olha nos olhos, mesmo em um contexto estritamente profissional, Rui sente uma pontada. Não é mais dor, não é mágoa, isso ele deixou para trás. Mas ainda existe aquele eco, uma lembrança quase adormecida do que sentiu por ela, que teima em se acender sempre que estão próximos.
Ele respira fundo, disfarçando. Você já superou isso, Rui. Já virou a página.
Quando a reunião termina, Islanne agradece:
— Excelente, como sempre. Você realmente antecipa problemas antes mesmo de acontecerem.
Rui apenas sorri, discreto. Não quer deixar transparecer nada além de profissionalismo. A estagiária recolhe os papéis, e ele aproveita para se levantar.
— Qualquer novidade, me avise. Vou revisar novamente os contratos e deixo tudo pronto para assinatura na próxima semana.
Islanne assente, e por um segundo, seus olhares se encontram de novo. Rui sente o coração apertar, mas mantém a postura, dá meia volta e sai com a estagiária.
O corredor parece mais leve quando ele fecha a porta atrás de si. Ele sabe que ainda sente algo quando está perto dela, seria mentira negar, mas também sabe que já não existe espaço para rancor. Conseguiu seguir em frente.
Ao deixar o prédio do grupo Schneider naquela tarde, Rui sente algo inesperado, a empolgação. Não pelo passado, mas pelo presente. Pela vida que começa a tomar outro rumo, pela companhia de alguém que, talvez, finalmente possa compreender sua dor sem julgá-lo.
Vivian Moretti.
E é com esse pensamento que ele respira fundo, ajusta a gravata e segue em direção ao futuro que, pela primeira vez em muito tempo, parece ter novas cores.
Segura firme o volante, o coração acelerado de um jeito que há muito não sentia. Ele já enfrentou tribunais, juízes implacáveis e negociações que poderiam derrubar empresas, mas agora, a simples expectativa de uma noite ao lado de Vivian faz suas mãos suarem. O advogado frio e calculista dá lugar a um homem que teme perder o controle. Será apenas um jantar entre amigos… ou algo está prestes a mudar para sempre?
Vivian o recebe com um sorriso delicado, envolta em um vestido que realça sua elegância natural. Rui, como sempre, abre a porta do carro, gesto que a faz corar discretamente. O percurso até o restaurante é marcado por uma conversa leve, sem cobranças, sem máscaras.
No jantar, a mesa é preenchida por risadas fáceis e memórias compartilhadas. Rui pede uísque. Vivian o surpreende ao acompanhá-lo.
— Confesso que achei que escolheria um vinho suave, ele comenta, divertido.
— Aprendi com o meu pai. Sempre brindávamos com uísque em casa… Bebidas doces nunca foram para mim, ela responde, erguendo o copo, o olhar firme no dele.
O tempo passa sem que percebam. O restaurante se torna apenas cenário, pano de fundo para uma troca cada vez mais íntima. Logo, os dois estão na parte aberta, música ao vivo embalando passos improvisados. Rui a puxa para perto, os corpos colados, o perfume dela invadindo seus sentidos. Ele luta contra a vontade de apertá-la mais forte, de ceder ao impulso de beijá-la.
Vivian sente a respiração dele roçar sua pele, o calor do toque na cintura. O coração dispara, mas uma voz interna insiste em lembrá-la, um homem como Rui jamais se interessaria por uma viúva quebrada. Ela tenta afastar o pensamento, mas a intensidade nos olhos dele quase a desarma.
— Você dança bem… ela diz, tentando quebrar o silêncio carregado.
— Eu só sigo o ritmo, ele sorri de lado. — E você torna isso mais fácil.
Eles riem, brindam de novo, falam da juventude, dos tropeços, das escolhas que mudaram o rumo de suas vidas. As horas avançam, a madrugada os envolve como cúmplice. A cada copo, a cada passo de dança, a atração cresce, um fio invisível puxando-os para mais perto.
E quando Rui a conduz de volta ao carro, a cidade silenciosa ao redor parece sumir. Apenas os dois existem. Apenas a tensão existe.
Rui segura firme o volante enquanto dirige pelas ruas silenciosas de São Paulo. A madrugada parece ter parado no tempo, o céu escuro apenas cortado pelas luzes dos postes, e o coração dele b**e em descompasso. Vivian, no banco ao lado, observa a cidade pela janela, mas sua mente está distante. Ambos sabem que algo mudou naquela noite.
Ele ajeita a postura, pigarreia, tentando se distrair do fato de que a respiração dela, tão próxima, está lhe provocando como se fosse um sopro quente em sua pele. Vivian cruza as pernas devagar, o vestido deslizando sobre suas coxas claras, e Rui precisa apertar ainda mais o volante para não se perder em devaneios.
— Você está quieta… ele comenta, voz baixa, rouca.
Vivian vira o rosto, e seus olhos encontram os dele por um instante.
— Só estou pensando… ela responde, quase num sussurro.
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