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O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino romance Capítulo 416

O sol não deveria doer. Não desse jeito. Cassandra Reimann caminha devagar pela calçada, e cada passo é um lembrete cruel de que não é mais quem foi um dia. Antes, era a mulher imponente do Grupo Schneider, a temida chefe do RH que decidia destinos com uma simples assinatura. Seu salto alto ecoava nos corredores como martelo de juiz, e seu perfume caro anunciava sua chegada antes mesmo de alguém vê-la. Agora, não há salto, não há perfume. Só o arrastar de chinelos baratos e o fedor das ataduras velhas coladas às feridas que ainda não cicatrizaram por completo.

O moletom com capuz cobre sua cabeça, mas não esconde as marcas do inferno que sobreviveu. E os olhos das pessoas não perdoam.

Um grupo de jovens a encara de longe. Riem entre si, cochicham, e um deles se atreve a gritar:

— Ei, senhora! Está pronta para o Halloween?

As risadas explodem, cruéis, afiadas como lâminas. Cassandra aperta os dentes que sobraram e continua andando. O peito arde, mas ela não olha para trás. Se olhar, se reagir, se mostrar que dói, será pior.

Mas os risos ficam, como fantasmas que a seguem.

Ela dobra uma esquina e se aproxima de um ponto de ônibus. Precisa respirar, precisa parar. Mas mal se encosta no poste, uma mulher segura a mão do filho pequeno e o puxa para trás, como se Cassandra fosse morder.

— Fica perto de mim, não olha, não olha! A mãe sussurra, com olhos cheios de pavor.

O garoto, curioso, encara de novo. Cassandra sente a garganta fechar quando ouve o menino perguntar em voz clara, alta o bastante para todos ouvirem:

— Mamãe, por que o monstro não volta para o esgoto?

O mundo gira. O estômago se revira. Cassandra aperta os punhos, sente as cicatrizes repuxarem. Monstro. Sempre essa palavra. Sempre esse eco.

Outros passageiros se afastam dela, uns mudam de ponto, outros preferem esperar de pé, do outro lado da calçada. Como se ela fosse uma praga. Como se só de respirar perto dela, já fossem contaminados pela maldição do fogo.

Ela tenta subir no ônibus quando ele chega, mas o motorista a barra.

— Desculpa, senhora… mas não pode entrar com o rosto coberto. Regras da empresa.

Cassandra, exausta, obedece. Levanta o capuz devagar. O silêncio cai pesado no veículo. Alguns gritam, outros xingam, uma mulher chega a tapar os olhos da filha.

— Pelo amor de Deus! Alguém berra do fundo.

— Essa coisa não pode andar aqui!

O motorista, desconcertado, balança a cabeça.

— Senhora, é melhor descer. Vai dar confusão.

O coração de Cassandra dispara. Confusão. Não é só confusão. É ódio. É medo. É linchamento disfarçado.

Ela desce, tropeçando, e ouve os gritos atrás de si.

E então vem o silêncio. Um silêncio pesado, sufocante.

Cassandra cobre o rosto com as mãos deformadas e desaba. O choro sai em soluços desesperados, feios, sem controle. Ela não chora como uma mulher; chora como uma criatura ferida, como um animal encurralado. As lágrimas descem quentes, misturando-se à sujeira da pele, e cada soluço é um grito de dor contido.

Ela se lembra de quem foi. Da mesa de mogno, dos ternos de corte perfeito, das joias cintilando sob as luzes do escritório. Lembra da forma como as pessoas a temiam, não pelo rosto, mas pelo poder. Hoje, não há poder, não há beleza, não há dinheiro. Só sobra a deformidade. Só sobra o medo que ela desperta.

A realidade nua e crua se impõe, ela está pobre, está sozinha, está feia. E não há como escapar disso.

O choro se prolonga até que a garganta arde e o corpo inteiro dói. Cassandra pensa em sair dali, mas o medo de ser vista de novo a paralisa. Se for pega, se alguém a reconhecer, será pior. O povo tem sede de monstros para odiar. E agora ela é o alvo perfeito.

Ela se encolhe, abraça os próprios joelhos, e balança levemente para frente e para trás, como uma criança tentando se consolar. Mas não há consolo. Só a lembrança cruel de que um dia ela foi Cassandra Reimann, a mulher que decidia quem tinha futuro e quem não tinha. Hoje, é só uma sobra humana, um farrapo.

No fundo do peito, algo ainda pulsa: ódio. Ódio do Don David Lambertini, que a reduziu a isso. Ódio de Marta e Jonathan, que reconstruíram a vida enquanto ela foi jogada ao fogo. Ódio do mundo inteiro, que a vê como um monstro.

Mas entre soluços, uma pergunta a devora: quem a ajudará agora?

Porque até mesmo a vingança precisa de forças. E Cassandra, naquele beco escuro, entre lágrimas e sujeira, descobre a verdade mais cruel, sozinha, do jeito que está, não vai conseguir nada.

A dignidade está morta. Mas o ódio… o ódio ainda respira.

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