O silêncio que antecede a despedida é quase mais pesado que a própria partida. Não é um silêncio vazio, mas sim um que carrega dentro dele a densidade de tudo o que foi vivido nos últimos dias. A mansão Schneider, tão imponente por fora, parece agora um refúgio quente, onde se acumularam risos, reencontros inesperados, lágrimas contidas e abraços demorados. As paredes guardam o eco das vozes, como se tentassem reter a essência daquela reunião rara.
Do lado de fora, o sol ainda não arde em seu auge, mas o calor já começa a se instalar. O vento que passa pelo jardim não traz frescor, apenas levanta discretamente as cortinas da varanda, como se até a casa quisesse espiar o momento em que a família se divide mais uma vez.
Eduardo ajusta a mochila sobre o ombro com certo descuido, o peso não é nada comparado ao que sente no peito. Seu olhar vagueia, como quem procura encontrar no espaço algo que alivie o nó na garganta. Darlene, ao contrário, não consegue ficar parada. Anda de um lado para o outro, inquieta, os passos rápidos denunciando que a ansiedade não lhe permite repouso.
— Não adianta, Jonathan... diz, tentando soar leve, embora a voz denuncie um tremor.
— Eu preciso voltar. Até as vacas já devem estar com saudade da minha voz.
A tentativa de brincar é quase heroica. Mas os olhos marejados a traem, brilhando como duas pequenas poças que se recusam a transbordar.
Mariana, firme ao lado de Miguel, aperta a mão dele como se buscasse coragem no calor do toque. A voz dela surge, serena, mas com fundo de urgência:
— E eu tenho atendimentos esperando. Se eu não voltar, meus pacientes vão acabar me caçando no mato.
O comentário arranca um riso coletivo, mas não passa de um disfarce. Todos sabem que é o riso que serve de escudo contra o aperto no peito.
Na soleira da porta, Seu Heitor e Dona Maria permanecem juntos. O casal, marcado pelo tempo, parece uma rocha inabalável, mas até eles sentem a pontada amarga da despedida.
— Vamos ficar para mimar mais um pouco esses netos, diz Dona Maria, afagando a cabeça de Lua, que balbucia sons desconexos, como se entendesse perfeitamente o que se passa.
A cena enternece a todos. É como se a inocência de Lua fosse a única capaz de suavizar a aspereza daquele momento.
Miguel, sempre pragmático, se adianta e encara o pai com firmeza.
— Fica tranquilo, pai. Eu dou conta do sítio. Vou conferir os galpões, depois passo nas plantações. Qualquer coisa, eu me viro.
O olhar de Heitor repousa sobre o filho com um misto de orgulho e confiança. A resposta é simples, mas carregada de significado:
— Eu sei, meu filho. Você sempre deu conta de tudo.
No pátio, a Hilux permanece imóvel, testemunha silenciosa, mas é a F 250 de Darlene que os conduzirá. Miguel se lembra que, chegando lá, ainda tem a RAM que ganhou de Jonathan. Esse pensamento o tranquiliza por um instante: ao menos, as ferramentas para seguir estão garantidas.
As despedidas se intensificam. Catia e Afonso se aproximam, abraçando cada um com ternura.
— Foi um presente conhecê-los, diz Catia, a voz embargada mas doce.
— Assim que tivermos uma folga, queremos conhecer o sítio e a fazenda.
Darlene respira fundo, tenta manter o humor como armadura:
— Vão gostar até das minhas amigas vacas.
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