O corredor do Grupo Schneider é silencioso, mas para Vivian cada passo ecoa como um trovão. O som metálico do salto contra o piso polido reverbera dentro dela como um lembrete cruel de está em território inimigo. Os olhos percorrem as paredes de vidro e aço, tão impecáveis quanto frias, e o coração b**e em descompasso. Ainda consegue ver a cena gravada em sua mente, repetida como uma tortura, Rui abrindo um sorriso caloroso para Marta e, segundos depois, descartando-a com a palavra seca que a destruiu por dentro, “cliente”.
É como se o ar pesasse toneladas. Vivian aperta a bolsa contra o peito, buscando uma proteção que não existe. Tudo nela parece funcionar no automático, andar, respirar, manter a postura. Mas dentro da mente, o caos grita. A dor é funda, quase física, como se alguém tivesse arrancado algo essencial de dentro dela.
Alan surge em seus pensamentos, não como lembrança doce, mas como fantasma. Ele, que foi seu primeiro e único homem até então. Ele, que nunca a fez se sentir invisível, nunca a tratou como segunda opção. Alan a amava com intensidade simples, verdadeira, sem necessidade de máscaras, nos momentos de lucidez. E mesmo assim, a vida o levou e ela mal se despediu, foi de forma abrupta, deixando em Vivian apenas ausência e saudade.
Agora existe Rui. O homem que a fez despertar sensações que acreditava enterradas junto com Alan. O homem que a olhou com intensidade, que a fez sentir única, desejada, viva. A lembrança daquela noite a invade como fogo, o toque, os sussurros, o calor. Tudo tão vivo que sua pele ainda se arrepia. Mas o contraste com o presente é devastador. Se para ela foi intensidade, para ele… apenas conveniência?
A pergunta lateja em sua mente como veneno, fui apenas um escape? Um brinquedo para afogar a dor dele?
O elevador desce lentamente, como se zombasse de sua pressa em fugir dali. Vivian fecha os olhos e tenta controlar o nó na garganta. O peso da humilhação queima. Marta está ao seu lado, discreta, atenta.
O coração de Vivian se debate. Alan nunca mais voltará. Rui talvez nunca tenha sido dela. E ela? Onde está nessa equação perversa? Suspensa entre a memória de um amor perdido e a brutalidade de um novo que já nasce fraturado.
Quando chegam ao estacionamento, Marta toca de leve o braço da amiga.
— Você não está bem, Vivian. Quer falar?
A pergunta quebra algo por dentro. Vivian quase cede, quase deixa a dor transbordar. Quase confessa que se sente usada, descartada, reduzida a um rótulo impessoal, como se não fosse nada além de um corpo que serviu por uma noite. Mas o orgulho, ferido, ergue uma muralha.
Ela força a voz a sair firme:
— Estou cansada, só isso.
Marta não insiste, mas o olhar diz tudo, sabe que não é apenas cansaço. Vivian abre a porta do carro, lançando um olhar triste a amiga, mas não comenta.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino