O sol da tarde se deita sobre o sítio, pintando o céu em tons de ouro e cobre. O ar carrega o cheiro doce de grama recém cortada misturado ao aroma do bolo que espera na mesa principal, coberta de enfeites tropicais. Balões coloridos balançam ao sabor do vento leve, e há um burburinho crescente de vozes animadas. Não é uma festa qualquer. Todos os presentes sabem disso. É mais do que o primeiro aniversário de Jeff e Lua. É um símbolo. Um recomeço. Uma vitória contra forças que pareciam impossíveis de enfrentar.
No meio de todo esse cenário, uma figura se destaca sem fazer esforço algum, Oliva, a cadela escolhida a dedo por Lizandra para ser não apenas presente, mas guardiã. Desde que chegara, mantém-se firme, atenta a cada detalhe. As orelhas erguidas captam ruídos quase imperceptíveis, os olhos cor de âmbar percorrem constantemente o entorno. Sua postura transmite algo quase humano, um senso de responsabilidade absoluta. Quem a observa entende que, para Oliva, proteger aqueles gêmeos não é uma tarefa, é um destino.
De repente, o silêncio é quebrado pela pequena Lua. A menina, apoiada nas próprias perninhas trêmulas, solta um latido infantil.
— Au, au, au! Grita, tentando imitar a cadela.
O som é desengonçado, mas tão cheio de pureza que arranca risos instantâneos. Marta, Vívian e Isadora trocam olhares cúmplices. Jeff, no colo de Jonathan, começa a bater palminhas, encantado com a cena. Oliva não se move, mas seu olhar se suaviza. É como se, em seu silêncio animal, ela entendesse a tentativa de comunicação da criança.
— Eu acho que eles aprovaram o presente, comenta Vívian, com um sorriso emocionado.
É então que David se aproxima. Seus passos são firmes e pesados. Lua o encara, sem hesitar, e estende os braços para ele. O homem, acostumado a lidar com frieza e sangue, sente por um instante a máscara de ferro derreter. Ele a pega no colo. Os dedinhos da menina exploram seu rosto com curiosidade, como se mapeassem cada cicatriz invisível da sua alma. Quem observa vê a dureza se diluir em ternura inesperada.
— Ela gosta de você, provoca Jonathan, sorrindo.
David não responde, mas o rubor contido em seu rosto diz tudo.
Aos poucos, mais convidados chegam. Risos, passos e vozes misturam-se à música suave que ecoa no gramado. Caio e Estela aparecem carregando presentes em papéis coloridos. Marta os recebe calorosa e logo apresenta Estela a Lizandra e o papo entre as veterinárias flui rapidamente, e logo desliza fácil para manejo animal e parcerias futuras.
Enquanto adultos se dispersam em conversas, Oliva continua em estado de vigília. Ora senta-se próxima aos gêmeos, ora ronda discretamente pelo gramado. Nada escapa à sua atenção, um prato que cai no chão, uma pessoa falando mais alto, até mesmo um olhar atravessado entre adultos. Para Oliva, cada detalhe importa.
É nesse clima de risos e expectativa que Rui surge. Ele chega com um sorriso diplomático, cumprimentando Marta e Jonathan com abraços rápidos. Ele cumprimenta David, um aceno breve e um aperto de mãos quase formal. Mas quando seus olhos encontram os de Vívian, o ar parece rarefeito. Um desconforto palpável se instala entre os dois. Ela desvia o olhar, forçando um sorriso educado. Ele, porém, não se satisfaz.
Mais tarde, quando as conversas se dispersam, Rui se aproxima dela. Sua voz baixa, mas firme:
— Precisamos conversar.
Vívian endurece a expressão, segura.
— Não há necessidade alguma, Rui. O que tínhamos para falar já ficou no passado.
— Não para mim, insiste ele. — Só alguns minutos depois da festa.
Ela respira fundo, controlando a tensão.
— Depois da festa, talvez. Me manda uma mensagem… ou liga. Mas aqui, agora, não.
Rui aceita, mas o incômodo não desaparece. Seu olhar fica preso nela mesmo quando tenta interagir com outros convidados.
A tarde avança. Marta e Vívian entram na casa para trocar a roupa das crianças. Quando retornam, os olhares se voltam em uníssono. Jeff surge em uma jardineira verde com estampa de leãozinho e Lua usa um vestido amarelo vibrante e uma tiara delicada de girafa. A fofura arranca suspiros coletivos.
— Eles parecem saídos de um conto de fadas, diz Vívian, emocionada.
— Eles são perfeitos, responde Marta, com lágrimas contidas nos olhos.
Por um instante, Vívian se perde em lembranças. Revê o momento em que Jeff entrou em sua vida, a sensação de vazio que foi preenchida ao segurá-lo nos braços, o amor incondicional que surgiu sem pedir permissão. Sente uma pontada de culpa, afinal, vivera o papel que sempre pertenceu a Marta, mas logo sorri. Agora entende que não existe divisão. Jeff e Lua pertencem às duas. São filhos de ambas, de maneiras diferentes, mas igualmente legítimas.
No meio da celebração, entre risos, abraços e a alegria que ecoa pelo sítio, Darlene começa a sentir algo estranho. Primeiro, uma pontada discreta, quase como uma cólica comum. Ela respira fundo, ajusta a postura na cadeira e força um sorriso, tentando não chamar atenção.
Mas Eduardo percebe. Ele sempre percebe. De onde está, conversando com Caio e Jonathan, seus olhos voltam constantemente para ela. Nota o jeito como Darlene pressiona a mão contra o ventre, o modo como os dedos tocam levemente a mesa, buscando apoio.
— Está tudo bem? Pergunta ele, num tom baixo, aproximando-se devagar.
Ela volta o olhar para Vívian.
— Obrigada por ter amado o meu filho como se fosse seu. Obrigada por ter sido mãe quando eu não podia. Você sempre fará parte dessa história.
As lágrimas rolam pelo rosto de Vívian. Marta segura sua mão e corrige com um sorriso:
— Melhor dizendo… obrigada por ter amado os nossos filhos.
O abraço das duas arranca soluços entre os convidados. Jonathan sorri com orgulho. David, mais atrás, permanece de braços cruzados, mas seus olhos revelam a emoção que sua boca se recusa a expressar.
Marta ergue a voz novamente, voltando-se para ele:
— David… nada disso teria sido possível sem você. Você foi longe, desmontou cada pedaço da teia até encontrar Jeff. Minha dívida de gratidão é eterna.
Ele apenas inclina a cabeça, aceitando em silêncio a declaração.
E então, Marta abre um sorriso, enxuga as lágrimas e conclui:
— Agora sim, vamos cortar o bolo e comemorar os nossos pequenos milagres!
As velas se apagam, os aplausos enchem o espaço. O cheiro doce de açúcar queimado mistura-se ao da grama e ao da pele quente das crianças. Mas, entre gargalhadas e música, Oliva não relaxa. A cadela permanece imóvel entre os gêmeos, os olhos atentos, a respiração firme, como uma sombra protetora.
E então, enquanto todos celebram, paira uma sensação incômoda, quase imperceptível. Uma pergunta silenciosa, que ninguém ousa formular em voz alta, será que uma guardiã, por mais leal e treinada, pode de fato prever todos os perigos? E mais, o que Rui realmente quer de Vívian? Será apenas uma conversa?
Será que o bebê decidiu nascer justamente hoje, no meio da festa? Ou o corpo dela está apenas pregando um susto, anunciando que o momento está próximo, mas ainda não chegou?

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