A mansão Schneider respira tranquilidade naquela tarde clara. As crianças correm pelo jardim, rindo, suas vozes leves ecoando como música. O vento balança suavemente as árvores e o sol faz brilhar o gramado úmido. Mas sob a superfície dessa calma, um mal rasteja, silencioso e faminto.
Cassandra.
Ela conseguiu o que parecia impossível, penetrar nos limites da propriedade, com os olhos ardendo em desespero e o corpo frágil consumido pelo ódio. Seus pés arrastam-se pelo chão de pedras, mas seu olhar se acende quando vê os gêmeos brincando, sozinhos no jardim.
O coração dela dispara.
A boca seca.
O veneno transborda.
— Agora… agora vocês serão meus. Sussurra para si mesma, a saliva pesada na boca, como se já pudesse saborear a vingança.
Com um ímpeto de fera, Cassandra corre. O vestido amarrotado sobe, os braços estendidos como garras em direção às crianças. Os gêmeos se viram e congelam, os olhos arregalados diante da figura grotesca que avança sobre eles.
Mas Cassandra não chega até eles.
Um latido, quase um rugido, explode pelo ar.
Oliva.
A cadela surge da lateral como um míssil lançado. O corpo atlético se estica em velocidade total, as patas cravando força contra o solo, o olhar fixo no alvo. O salto é técnico e a boca encaixa no antebraço de Cassandra antes mesmo que ela perceba.
O travamento é instantâneo. Os dentes fecham em torno do braço com pressão de tonelada por centímetro quadrado. Cassandra é puxada para baixo, tombando no gramado com um grito cortante.
— Aaaaaaaah!
Ela tenta se soltar, tenta bater na cadela com a outra mão, mas Oliva gira o corpo com a destreza de quem nasceu para proteger. Um segundo ataque. Outra mordida, profunda, no ombro. Cassandra perde o equilíbrio e cai no gramado, mas Oliva não cede.
A cena é caótica. Os gêmeos correm, as perninhas rápidas, gritando pela mãe. Marta surge na varanda, desesperada, e Isadora, já vem em disparada pelo corredor lateral. Jonathan, logo atrás, para ao ver o quadro diante dele.
É Cassandra.
Ou o que sobrou dela.
— Meu Deus… murmura Isadora, o choque estampado no rosto.
A visão é grotesca. O rosto de Cassandra, marcado e queimado, os olhos injetados de ódio, a boca escorrendo baba misturada com sangue. Ela berra:
— Jonathan! Jonathan, seu desgraçado! É a Cassandra! Eu vou matar os seus filhos, vou queimar eles vivos como vocês me queimaram, vou fazer você assistir cada grito desses mallditos!
As palavras dela cortam o ar como lâminas. Jonathan fica imóvel, incrédulo. A aberração diante dele é a sombra retorcida de alguém que um dia foi poderosa, mas agora não passa de um espectro enlouquecido.
Instintivamente Cátia pega os netos com ajuda do marido e se trancam no escritório de Jonathan.
Oliva não larga. A cadela gira o corpo, dando uma sacudida lateral que desarticula e rasga fibras musculares. O braço de Cassandra cede.
No segundo andar, Marta chega à janela. Os olhos dela se arregalam em puro horror. Ela cobre a boca com a mão, mas não consegue desviar o olhar da cena. Os gêmeos já estão protegidos com os avós, mas ela permanece sozinha, testemunha muda da violência.
Cassandra esperneia, berra, esmurra a cadela com a outra mão. Mas Oliva é um bloco de disciplina. As orelhas coladas para trás, o rabo firme, cada músculo tensionado. O adestramento fala mais alto, não soltar até o comando.
Isadora mantém a mão na arma, mas observa antes de agir. Jonathan paralisado, encarando o rosto de Cassandra, grotesco, a pele queimada, o olho cheio de ódio.
— Jonathan! Cassandra urra, cuspindo sangue.
— Eu vou queimar seus filhos vivos! Vou fazê-los gritar até a garganta rasgar!
O grito reverbera, mas Jonathan não se move. Não há compaixão no olhar dele.
Oliva entende a escala da ameaça. Ela solta o braço e avança para a recomposição, reposiciona as patas, calcula o centro de massa, e salta no tronco de Cassandra. A próxima mordida é no ombro, mais próxima da jugular. O corpo da mulher desaba.
O protocolo é claro, imobilizar e, se necessário, neutralizar.
Marta, do alto, deixa um soluço escapar. O coração dela disparado, mas não consegue gritar. A cena é tão brutal quanto inevitável.
Cassandra ainda tenta erguer a cabeça, a baba misturada ao sangue escorrendo pelo queixo.
— Malditos… eu vou queimar… vou queimar…
Mas antes que termine, Oliva aplica o golpe final. Com precisão, salta sobre o pescoço da mulher, cravando a mordida. O ar se enche do som úmido da carne cedendo. A pressão é absoluta, o lock perfeito. O sangue jorra em arco, manchando a cadela e a grama.
Cassandra gargareja, engasgada, até que a voz morre na garganta.
— Aus! O comando de Isadora corta o ar.
E Oliva obedece de imediato. Larga a presa, recua três passos, senta-se firme. O peito arfando, orelhas em alerta, os olhos ainda cravados no corpo caído, pronta para avançar ao menor sinal de movimento. O adestramento é impecável, cumprir a ordem, aguardar instruções.
No chão, Cassandra estremece. O olhar busca Jonathan, ódio até o último suspiro.
— Você… vai… pagar… balbucia, antes de tombar, inerte.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino