O relógio marca pouco depois das oito da manhã quando o celular de Jonathan vibra sobre a mesa. Ele nem precisaria olhar para a tela para saber que o dia não será comum. O presidente do Grupo Schneider, conhecido por sua frieza impecável e pela postura inabalável, já sente no peito o peso de um prenúncio. Ainda nem o café chegou à metade e já é informado de uma paralisação inesperada na área industrial. O sangue lhe ferve. Produção parada significa prejuízo em cadeia. Ele respira fundo, veste o paletó e, sem titubear, chama Islanne. A guerra corporativa começa antes mesmo das intermináveis reuniões.
— Vamos, diz ele com a voz seca, já abrindo a porta.
— Não temos um minuto a perder.
No elevador, o silêncio é cortado apenas pelo ranger dos dentes de Jonathan. Islanne o observa de soslaio, conhece aquele semblante carregado, de quem equilibra mil pesos invisíveis. Ao chegarem ao setor industrial, a cena é de caos controlado. Funcionários andam de um lado a outro, engenheiros debruçados sobre máquinas, alarmes desligados, mas o ambiente ainda carregado de tensão.
— Presidente, paramos tudo por segurança, anuncia o gerente de chão de fábrica, tentando soar calmo.
Jonathan não perde tempo. Avança como um general em campo de batalha.
— Onde está o engenheiro responsável? Pergunta, a voz cortando como lâmina.
— Está com a equipe de instrumentação e mecânica. Tentando contornar a falha no sistema principal.
Islanne intervém, medindo cada palavra:
— Precisamos saber se há risco de contaminação ou de dano estrutural.
O engenheiro surge, rosto suado, camisa encharcada.
— Não há contaminação, apenas falha crítica na instrumentação. Mas é grave, muito grave.
Jonathan o encara fixamente.
— Grave é parar uma produção que custa milhões por hora. Preciso de números, relatórios, projeções. Quero cenários, todos eles.
Durante horas, a tensão se arrasta como uma tempestade que não rompe. O calor das máquinas paradas sufoca. Funcionários se entreolham, medrosos com a presença do presidente, cujo silêncio muitas vezes é mais ameaçador que seus berros. Jonathan caminha de um lado a outro, dando ordens rápidas, cobrando, exigindo.
Por fim, quando os últimos ajustes são feitos e a produção começa a retomar lentamente, um alívio silencioso percorre o setor. Mas Jonathan não relaxa. Ao contrário, sua mente já está dois passos adiante.
— Islanne, preciso de um orçamento detalhado.
Ele fala sem olhar para a irmã, os olhos fixos no painel das máquinas.
— Quero saber se compensa continuar investindo nesses reparos ou se devemos comprar equipamento novo. E não me venha com relatórios em semanas, eu quero isso em dias.
— Vou acionar a equipe de compras e engenharia de custos imediatamente, responde ela, firme.
Jonathan acena sem emoção. O peso da decisão, ele sabe, pode definir milhões.
De volta à presidência, mergulha em uma pilha de reuniões, contratos e crises menores que se acumulam como pedaços de um quebra cabeça. Sua sala, ampla e elegante, parece cada vez mais uma prisão dourada.
Em meio à rotina sufocante, um diretor entra apressado.
— Jonathan, temos um problema no conselho. Há questionamentos sobre os atrasos e os custos extras da manutenção.
Ele respira fundo.
— Ótimo. Que venham os questionamentos. Eu mesmo os responderei.
Islanne entra logo atrás, pastas em mãos.
— Já consegui os primeiros números. A manutenção contínua pode custar quase o mesmo que um equipamento novo em médio prazo. Mas o prazo de entrega de um equipamento novo pode passar de quatro meses.
Jonathan se recosta na cadeira, fecha os olhos por um segundo. O silêncio é pesado. Então abre os olhos, gélidos.
— Quatro meses de atraso, Islanne, e estamos fora de contratos internacionais. Manutenção drena dinheiro, mas é imediata. Vamos preparar ambos os relatórios. Mas já adianto, não existe margem para erro.
A irmã assente.
Ao fim da tarde, o clima no Grupo Schneider é de exaustão. Funcionários cruzam corredores em silêncio, como soldados sobreviventes de uma batalha. Jonathan, porém, continua em pé, postura ereta, mente trabalhando. Conversa com engenheiros, revisa relatórios, exige precisão.
No fundo, há algo mais que preocupa, uma intuição sombria de que aquela falha não foi mero acidente técnico. O olhar de alguns funcionários, a pressa em dar respostas incompletas, o silêncio constrangido em reuniões. Tudo isso corrói sua mente treinada para não confiar cegamente.
No escritório, já tarde avançada, Jonathan encara a cidade pela janela. O reflexo no vidro mostra um homem cansado, mas incansável. Ele sabe que não pode demonstrar fraqueza. O Grupo Schneider é mais que uma empresa; é um império que carrega nas costas da família.
Islanne retorna, mais uma vez, trazendo um novo relatório.
— Há inconsistências nos registros da manutenção preventiva, diz ela, baixo, como quem teme ser ouvida pelas paredes.
— O engenheiro responsável assinou relatórios que parecem… incompletos.
Jonathan gira a cadeira lentamente, encara a irmã. — Está insinuando negligência? Ou sabotagem?
O silêncio dela é mais eloquente do que qualquer resposta.
Ele se levanta, caminha até a mesa, b**e a mão sobre os papéis.
— Se for negligência, eu resolvo com demissões. Se for sabotagem… a voz baixa, carregada de veneno, alguém vai pagar caro.
A tarde segue, mas Jonathan não descansa. Telefones tocam, mensagens chegam, relatórios são atualizados. O Grupo Schneider sobrevive a mais um dia infernal. Mas no fundo, a dúvida lateja, aquela falha foi mesmo um acidente?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino