Jonathan sabe que o melhor a fazer agora é respirar fundo e desligar completamente do mundo lá fora, todas as suas responsabilidades necessitam de perfeição e para isso a mente tem que trabalhar em sintonia com o corpo.
Ele fecha os olhos, o som do tatame rangendo sob os pés, a respiração pesada, e o impacto seco de corpos se chocando. É assim que Jonathan tenta calar a tempestade dentro de si, lutando.
Eduardo o acompanha, tão concentrado quanto ele, como se os dois buscassem no jiu-jitsu a única forma de continuar de pé num mundo que insiste em desmontá-los. Cada golpe, cada queda, cada estrangulamento parece um grito preso sendo expurgado do corpo. Eles não dizem nada, não precisam. A luta fala por eles.
— Cotovelo mais colado, Schneider! — grita o sensei do outro lado da academia, observando os dois com atenção de falcão.
— Você tá abrindo demais e facilitando a raspagem.
Jonathan assente com a cabeça e ajusta a postura. O suor escorre pela testa, os músculos estão no limite, mas ele continua. Ele precisa continuar.
Eduardo o pressiona com uma chave de braço, mas Jonathan escapa com agilidade, revertendo a posição e imobilizando o amigo no chão por poucos segundos antes que tudo recomece.
— Tá mais afiado hoje, hein — diz Eduardo, ofegante.
— Eu tô com raiva — responde Jonathan, sem rodeios.
O sensei se aproxima, dá um leve sorriso e comenta:
— Você devia vir mais vezes. Seu corpo agradece. Sua mente também.
Jonathan limpa o rosto com a toalha e respira fundo.
— Vou tentar aparecer mais, sensei. Tô precisando.
— Não tenta, faz. A luta não resolve tudo, mas ensina a suportar.
Jonathan olha para o tatame como se aquelas palavras fizessem mais sentido do que qualquer terapia.
Eles voltam para a luta. Eduardo aplica uma chave de perna, Jonathan defende. A intensidade cresce. O corpo se cansa, mas a mente... a mente ganha clareza. Pelo menos por alguns instantes.
— Vamo mais uma? — pergunta Eduardo, rindo.
— Até eu cair de vez.
O som dos corpos se chocando volta a dominar o ambiente. A respiração pesada, o foco nos olhos. A guerra íntima de cada um sendo traduzida em técnica, suor e resistência.
O suor ainda escorre pelas têmporas quando Jonathan entra na segunda sala de treino. Os músculos doem do jiu-jitsu, mas isso não o impede. O corpo está em alerta, em prontidão. Ele precisa disso, do esforço físico, da dor que distrai, do foco que vem com cada movimento. Ali, não há espaço para lembranças nem sentimentos. Só instinto.
Eduardo, um passo atrás, balança a cabeça.
— Você é maluco, cara. Já tá arrebentado e vai encarar krav magá agora?
Jonathan gira os ombros, solta o pescoço e responde com um sorriso torto.
— Maluco seria voltar para casa com essa energia toda acumulada.
— Ou para cama com ela — murmura Eduardo com um sorriso malicioso, mas Jonathan não responde. O olhar dele endurece, sério.
O instrutor de krav magá os cumprimenta com um aceno firme e dá início ao treino. Nada de aquecimento. Krav magá é objetivo. É real. É letal.
— Defesa contra faca. Vem, Schneider — diz o instrutor, jogando uma réplica metálica na direção de Jonathan.
Ele segura a arma falsa com firmeza e avança. A sequência de movimentos é rápida: imobilização do pulso, contra-ataque direto, cotovelada, chute no joelho. Tudo rápido, agressivo, preciso.
— De novo. Mais rápido. — ordena o instrutor.
Jonathan obedece. A lâmina de treino quase não toca sua pele. Ele bloqueia, desarma, ataca. Como se cada golpe fosse uma válvula de escape para a culpa, o medo, a impotência. Ele repete o movimento até que o corpo automatize. Até que a mente desacelere.
— É assim que você sobrevive — diz o instrutor. — Não é bonito. Não é justo. É necessário.
Eduardo entra na sequência, rindo.
— Agora é minha vez. Quero ver se esse seu instinto de proteção serve pra alguma coisa.
Eles trocam alguns golpes, simulam ataques surpresa, reagem com força contida. O ritmo do treino é intenso. A cada bloqueio, Jonathan sente a tensão aliviar. A cada chute, a raiva se dissolve um pouco. Ele está treinando para sobreviver… mas no fundo, está tentando reaprender a viver.
— Última rodada — diz o instrutor.
— Ataque múltiplo. Dois contra um.
Jonathan sorri, ofegante.
— Traz.
Dois alunos se aproximam. O cenário simulado é de um ataque em uma esquina qualquer. Jonathan reage rápido, como um animal acuado. Um chute afasta o primeiro. O segundo tenta um golpe alto, mas ele gira, bloqueia, ataca com força. É um vendaval de movimentos. Quando termina, o suor pinga no tatame e os dois oponentes estão no chão, não feridos, mas rendidos.
— Isso é sobrevivência, Schneider — diz o instrutor.
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