A casa dorme.
O silêncio é absoluto, denso, sufocante. Cada parede carrega o eco de risos que não existem mais. Marta recolheu-se. Eduardo partiu. O mundo lá fora continua, mas aqui dentro… o tempo parou.
Jonathan está sozinho no corredor. De pé, diante da porta que não ousava tocar. A porta que esconde, atrás de si, o coração partido que ele nunca teve coragem de encarar.
O antigo quarto de hóspedes.
O quarto dela.
A chave gira em sua mão suada. Ele hesita. Respira fundo. O coração aperta como se quisesse impedir o gesto. Mas já passou da hora.
Com um clique seco, a fechadura cede.
E o mundo dele desmorona.
O cômodo permanece intocado, como um relicário silencioso do que poderia ter sido. O perfume da mulher que amou loucamente ainda está lá, doce e morno, misturado ao cheiro da lembrança dela, Aira. Suave como o toque que ele não sente há anos. E cruel como a ausência que nunca deixou de arder.
Ele entra devagar, fechando a porta atrás de si com o cuidado de quem não quer acordar fantasmas.
Mas eles já estão acordados.
Cada passo dentro daquele quarto é um corte novo. A penteadeira com os pincéis ainda manchados do batom que ela usava. A almofada bordada. O livro de nomes de bebê. O tempo congelou ali, naquele instante malldito em que a vida decidiu interromper um futuro.
Jonathan caminha até o armário. Suas mãos tremem ao tocar as portas. Ele as abre como se abrisse um túmulo e, de certa forma, é isso mesmo.
Os vestidos continuam ali. Os lenços coloridos que ela amava. As roupas de maternidade, algumas com etiquetas ainda. Ela não teve tempo de usá-las.
Ele segura um deles. Um azul, de seda fina, que ela vestiu no último jantar em casa.
E então, tudo vem.
O sorriso dela. A risada leve. A forma como ela passou a mão sobre a barriga com tanto carinho. A promessa de um lar. De uma família.
A promessa quebrada.
Jonathan cai de joelhos. O vestido contra o rosto. O tecido encharcado pelas lágrimas que ele não consegue conter. Ele não soluça, ele geme. Um som que rasga, que fere, que arranca a alma.
— Aira… — ele sussurra, como se pudesse trazê-la de volta com o nome.
— Meu amor…
Não há culpa em sua dor. O acidente… foi isso. Um acidente. Injusto. Estúpido. Implacável. Ela não sobreviveu. Nem o bebê.
E esse é o fardo.
Ter ficado para trás.
Ele rasteja até a cômoda. Puxa a gaveta.
E ali estão eles.
Os restos de um futuro interrompido.
O teste de gravidez com as duas listras marcadas. As primeiras ultrassonografias, tão pequenas, mas tão vivas. A pulseirinha que ela havia preparado com cuidado. E aquele sapatinho branco. Tão pequeno que cabe na palma da mão.
Jonathan o segura como se fosse vidro.
— Meu filho… — ele sussurra, com a voz quebrada.
— Eu nunca te conheci. Nunca te carreguei. Mas eu te amei. Eu ainda te amo. E sempre vou.
Ele fecha os olhos. E por um instante, não é mais um homem. É apenas um pai que não pôde ser pai. Um marido que perdeu a mulher. Um ser humano tentando entender como se vive com metade do coração.
O quarto inteiro parece se fechar ao redor dele.
E então…
Uma brisa.
Leve. Impossível. Real.
As cortinas se movem, embora nenhuma janela esteja aberta.
E junto com ela, aquele cheiro. Adocicado. O cheiro dela.
Jonathan para.
O ar muda.
Há algo ali. Uma presença. Não visível, mas inegável. Quente. Doce. Reconfortante. Como o abraço que ele daria tudo para sentir de novo.
Ela está ali.
Não como um fantasma, mas como um amor que não morreu.
E ele sente.
Sente Aira.
Sente o filho que nunca nasceu, mas que existiu em cada plano, em cada toque, em cada respiração.
Lágrimas voltam, agora calmas.
Ele sorri em meio à dor.
— Obrigado… — ele sussurra, olhando para o vazio cheio de presença.
— Por ter me escolhido. Por ter me amado. Por ter me deixado sentir, por pouco tempo, o que era ser inteiro.
Ele pega algumas coisas, o quadro em que eles sorriam, no dia do casamento, uma foto deles na lua de mel, o sapatinho branco.
O resto, ele embala.
Com carinho.
Com amor.
Com a alma aos pedaços.
Como quem embala um adeus.
Ao amanhecer, ele desce as escadas. As caixas estão empilhadas. No hall, à espera de alguém que virá buscá-las. O sol entra tímido pela janela. A casa, agora, parece mais leve.
Jonathan permanece ali, imóvel, cercado pelo silêncio que, pela primeira vez, não dói tanto.
Uma última brisa acaricia seu rosto.
Ele fecha os olhos.
Sorri.
E ouve, no fundo da alma, como um sussurro no vento:
"Aproveite a segunda chance que a vida está te dando."
E ele entende.
Não é sobre esquecer.
É sobre aprender a viver com a dor, e mesmo assim, seguir.
Porque ela amaria vê-lo sorrindo de novo.
Porque o filho deles mereceria ser lembrado com amor, não com sombras.
Jonathan respira fundo.
E começa, finalmente, a viver.
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