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O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino romance Capítulo 70

A casa dorme.

O silêncio é absoluto, denso, sufocante. Cada parede carrega o eco de risos que não existem mais. Marta recolheu-se. Eduardo partiu. O mundo lá fora continua, mas aqui dentro… o tempo parou.

Jonathan está sozinho no corredor. De pé, diante da porta que não ousava tocar. A porta que esconde, atrás de si, o coração partido que ele nunca teve coragem de encarar.

O antigo quarto de hóspedes.

O quarto dela.

A chave gira em sua mão suada. Ele hesita. Respira fundo. O coração aperta como se quisesse impedir o gesto. Mas já passou da hora.

Com um clique seco, a fechadura cede.

E o mundo dele desmorona.

O cômodo permanece intocado, como um relicário silencioso do que poderia ter sido. O perfume da mulher que amou loucamente ainda está lá, doce e morno, misturado ao cheiro da lembrança dela, Aira. Suave como o toque que ele não sente há anos. E cruel como a ausência que nunca deixou de arder.

Ele entra devagar, fechando a porta atrás de si com o cuidado de quem não quer acordar fantasmas.

Mas eles já estão acordados.

Cada passo dentro daquele quarto é um corte novo. A penteadeira com os pincéis ainda manchados do batom que ela usava. A almofada bordada. O livro de nomes de bebê. O tempo congelou ali, naquele instante malldito em que a vida decidiu interromper um futuro.

Jonathan caminha até o armário. Suas mãos tremem ao tocar as portas. Ele as abre como se abrisse um túmulo e, de certa forma, é isso mesmo.

Os vestidos continuam ali. Os lenços coloridos que ela amava. As roupas de maternidade, algumas com etiquetas ainda. Ela não teve tempo de usá-las.

Ele segura um deles. Um azul, de seda fina, que ela vestiu no último jantar em casa.

E então, tudo vem.

O sorriso dela. A risada leve. A forma como ela passou a mão sobre a barriga com tanto carinho. A promessa de um lar. De uma família.

A promessa quebrada.

Jonathan cai de joelhos. O vestido contra o rosto. O tecido encharcado pelas lágrimas que ele não consegue conter. Ele não soluça, ele geme. Um som que rasga, que fere, que arranca a alma.

— Aira… — ele sussurra, como se pudesse trazê-la de volta com o nome.

— Meu amor…

Não há culpa em sua dor. O acidente… foi isso. Um acidente. Injusto. Estúpido. Implacável. Ela não sobreviveu. Nem o bebê.

E esse é o fardo.

Ter ficado para trás.

Ele rasteja até a cômoda. Puxa a gaveta.

E ali estão eles.

Os restos de um futuro interrompido.

O teste de gravidez com as duas listras marcadas. As primeiras ultrassonografias, tão pequenas, mas tão vivas. A pulseirinha que ela havia preparado com cuidado. E aquele sapatinho branco. Tão pequeno que cabe na palma da mão.

Jonathan o segura como se fosse vidro.

— Meu filho… — ele sussurra, com a voz quebrada.

— Eu nunca te conheci. Nunca te carreguei. Mas eu te amei. Eu ainda te amo. E sempre vou.

Ele fecha os olhos. E por um instante, não é mais um homem. É apenas um pai que não pôde ser pai. Um marido que perdeu a mulher. Um ser humano tentando entender como se vive com metade do coração.

O quarto inteiro parece se fechar ao redor dele.

E então…

Uma brisa.

Leve. Impossível. Real.

As cortinas se movem, embora nenhuma janela esteja aberta.

E junto com ela, aquele cheiro. Adocicado. O cheiro dela.

Jonathan para.

O ar muda.

Há algo ali. Uma presença. Não visível, mas inegável. Quente. Doce. Reconfortante. Como o abraço que ele daria tudo para sentir de novo.

Ela está ali.

Não como um fantasma, mas como um amor que não morreu.

E ele sente.

Sente Aira.

Sente o filho que nunca nasceu, mas que existiu em cada plano, em cada toque, em cada respiração.

Lágrimas voltam, agora calmas.

Ele sorri em meio à dor.

— Obrigado… — ele sussurra, olhando para o vazio cheio de presença.

— Por ter me escolhido. Por ter me amado. Por ter me deixado sentir, por pouco tempo, o que era ser inteiro.

Ele pega algumas coisas, o quadro em que eles sorriam, no dia do casamento, uma foto deles na lua de mel, o sapatinho branco.

O resto, ele embala.

Com carinho.

Com amor.

Com a alma aos pedaços.

Como quem embala um adeus.

Ao amanhecer, ele desce as escadas. As caixas estão empilhadas. No hall, à espera de alguém que virá buscá-las. O sol entra tímido pela janela. A casa, agora, parece mais leve.

Jonathan permanece ali, imóvel, cercado pelo silêncio que, pela primeira vez, não dói tanto.

Uma última brisa acaricia seu rosto.

Ele fecha os olhos.

Sorri.

E ouve, no fundo da alma, como um sussurro no vento:

"Aproveite a segunda chance que a vida está te dando."

E ele entende.

Não é sobre esquecer.

É sobre aprender a viver com a dor, e mesmo assim, seguir.

Porque ela amaria vê-lo sorrindo de novo.

Porque o filho deles mereceria ser lembrado com amor, não com sombras.

Jonathan respira fundo.

E começa, finalmente, a viver.

Jonathan não vê, mas sabe.

É ele.

O menino.

O filho que nunca chegou, mas que sempre existiu.

E agora está ali.

E abraça.

E se encaixa no outro lado do peito.

Aira de um lado.

O filho do outro.

E ele no meio.

Inteiro.

Por um momento, o tempo para outra vez.

Mas desta vez, não para doer.

Para curar.

Jonathan sorri.

Um sorriso aberto, banhado em lágrimas.

Porque doeu.

Ainda dói.

Sempre vai doer um pouco.

Mas agora… não machuca.

— Eu amo vocês… — ele diz, com a alma leve.

— E vou continuar amando. Mas agora… eu vou viver.

A brisa sopra novamente.

As cortinas dançam.

O céu lá fora fica mais azul.

E, pela primeira vez em muito tempo, Jonathan se levanta…

livre.

Aira e o filho se foram de verdade e a dor se torna uma doce lembrança, dando lugar à presença eterna do amor.

E com o coração em paz, ele sussurra, para o vento e para a eternidade:

— Obrigado por me abraçarem… pela última vez. E pela primeira.

E então, caminha para o dia que começa.

De alma aberta.

Com os dois no coração.

E o futuro nos olhos.

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