Jonathan
Eu achei que nunca teria coragem.
Durante meses, talvez anos, me escondi desse momento, como se adiar a dor fosse a única forma de continuar respirando.
Mas hoje... hoje eu entrei naquele quarto, e alguma coisa dentro de mim desmoronou.
E, ao mesmo tempo, algo floresceu.
Eu vi você, Aira.
Tão viva na memória que doeu abrir os olhos.
Senti seu cheiro, ouvi seu riso baixinho enquanto arrumava as coisas para a chegada do nosso bebê.
Nosso filho...
Eu nem cheguei a tocá-lo.
Nunca o embalei nos braços, nunca senti o seu peso contra meu peito.
Mas eu o amei.
Desde o instante em que vi aquele pontinho na ecografia, eu o amei como só um pai pode amar.
E é por isso que doeu tanto perder vocês.
Mas não foi minha culpa.
Foi um acidente.
E eu repeti isso tantas vezes... tentando acreditar.
Mas, no fundo, me castiguei todos os dias, como se eu devesse pagar com sofrimento o preço de ainda estar aqui.
Só que hoje eu entendi.
Eu não preciso me punir para continuar te amando.
Eu não preciso sofrer para lembrar que vocês existiram.
Porque vocês não se foram de verdade.
Vocês vivem em mim.
Eu embalei os seus vestidos, Aira, como quem embala as páginas de um livro sagrado.
Toquei os sapatinhos, os exames, como quem segura o próprio coração com as mãos.
E ali, de joelhos, no meio das suas lembranças, eu chorei tudo o que guardei por tanto tempo.
Sem vergonha. Sem medo.
E pela primeira vez, eu senti você me abraçar de novo.
Não como antes. Não com o corpo.
Mas com tudo o que você foi e ainda é para mim.
E eu senti ele também… o nosso filho.
Do jeitinho que imaginei tantas vezes.
Pequenino. Quentinho.
Com as mãozinhas agarradas em mim como se nunca quisesse soltar.
E vocês me abraçaram.
De um jeito que me costurou por dentro.
E eu percebi...
Essa despedida não é o fim.
É o começo.
Hoje eu libertei vocês.
E, ao fazer isso, libertei a mim mesmo.
Porque amor de verdade… não prende.
Ele deixa ir.
Mas nunca deixa de ser amor.
Eu vou viver, Aira.
Por mim.
Por ele.
Por nós.
E vou sorrir.
Mesmo com os olhos cheios d’água.
Mesmo com o peito apertado.
Porque eu carrego vocês comigo.
E, onde quer que eu vá… vocês vão também.
Eu pensei que te trairia se seguisse em frente…
Que amar de novo seria apagar vocês.
Mas não é.
Porque o amor que tive por ti, Aira… ele é eterno.
Ele moldou quem eu sou.
Ele me ensinou a ser mais humano, mais presente, mais inteiro.
E por mais que doa, eu sei…
Vocês não são mais daqui.
Mas eu ainda sou.
E se eu continuar me enterrando com as lembranças, eu morro com elas.
Hoje, entre caixas, lágrimas e silêncio, eu disse adeus.
Um adeus que não nega o amor.
Um adeus que honra tudo o que vivemos.
Senti teus braços ao redor de mim, suaves como vento.
Senti o cheirinho adocicado, e aquela calma…
Aquela calma que só você sabia trazer.
E o mais impressionante…
Senti ele. Nosso menino.
Como se encostasse a cabecinha no meu ombro.
Como se dissesse, com aquele silêncio de alma pura:
‘Vai, papai… vive. Ama. Por nós.’
E eu entendi.
Entendi que o amor não é estático.
Ele é rio.
Ele flui, contorna, se transforma, mas nunca deixa de ser.
A Marta…
Ela entrou na minha vida sem fazer alarde.
Com aquela presença doce, firme, que não cobra, que não exige…
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