O celular de Marta vibra ininterruptamente no interior da bolsa preta largada sobre a poltrona. Ela não ouve. Não sente. Está deitada, olhos fechados, num mundo onde só existe música suave, óleo de calêndula e as mãos precisas da massoterapeuta. Mas do lado de fora, o mundo de Jonathan já desmoronou três vezes em menos de uma hora.
Após um dia cheio no escritório, almoço com uma executiva sedutora, Marta se despede de Mônica, a secretária da presidência, com um sorriso leve.
— Até amanhã, Mônica. E vê se vai para casa hoje, hein?
— Só se você for também! — responde Mônica, rindo.
Marta desce de salto firme até o estacionamento, onde sua RAM preta a espera. A porta se fecha, o ronco do motor ecoa suave. Ela dirige até o shopping para "desligar um pouco", como costuma dizer. A noite está agradável, e o cheiro de liberdade a acompanha como um perfume novo.
No shopping, ela se entrega ao prazer de andar sem rumo. Experimenta vestidos, compra dois pares de sapatos, testa um perfume. Depois, os olhos pousam sobre um pequeno espaço de massagem. Luz baixa, ambiente calmo. Um convite irrecusável.
— Relaxante, por favor. E pode caprichar, estou precisando — diz, entregando o cartão.
Ela coloca o celular no silencioso e o deixa de lado.
A massoterapeuta sorri. — Pode deixar, querida. Hoje você vai flutuar.
Enquanto Marta se afunda na maca, mergulhada no cheiro de óleos e na música ambiente, Jonathan está no grupo Schneider... e em alerta. Ele tenta ligar. Nada. Mais uma vez. Caixa postal. Liga para os seguranças.
— Marta já chegou? — pergunta, tenso.
— Não, senhor. Nenhuma movimentação registrada até agora.
— Ela saiu do trabalho faz quase duas horas…
Ele liga para Eduardo. Voz trêmula. Palavras picadas.
— Você consegue rastrear a RAM da Marta?
— Claro.Agora mesmo. Que porrah aconteceu, Jonathan?
— Ela sumiu. Não atende. Não voltou. Eu... eu não sei.
Eduardo, com o sangue frio de quem já viu o pior, em poucos minutos localiza o veículo estacionado no shopping.
— Tá tudo certo. Tá no shopping. Mas vamos lá. Por precaução.
Minutos depois, Jonathan está lá, nervoso, transtornado, andando em círculos. Eduardo apenas observa, braços cruzados, segurando o riso.
— Cara, respira. Ela tá viva, comprando roupa e sapato. Tu vai infartar à toa.
Marta sai da loja de massagens leve, com a pele brilhando e a alma lavada. Passa pela escada rolante sorrindo, até que o vê, Jonathan, parado, com os olhos em chamas. Eduardo ao lado, rindo escancarado.
— Mas... o que tá acontecendo aqui? — pergunta, confusa.
Jonathan não responde. Caminha até ela como se o mundo estivesse prestes a acabar.
— O celular, Marta. Onde estava o malldito celular?
Ela arregala os olhos, pega a bolsa, revira e mostra.
— Silencioso. Eu estava fazendo massagem, Jonathan!
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino