A saudade é um fantasma silencioso, e hoje, ela decide sentar à mesa com Marta. Está no brilho úmido dos olhos dela, no jeito como os dedos tocam o volante da sua RAM preta, como se quisessem agarrar algo que ficou lá atrás, no tempo. Jonathan percebe antes mesmo que ela diga qualquer coisa. Um silêncio melancólico se instala entre os dois, e ele, mesmo sem entender, respeita. Mas não ignora.
— Vou sair mais cedo hoje — ela diz suavemente, já pegando a bolsa.
— Quero preparar um jantar especial.
— Tudo bem. Mas... você está bem? — Jonathan pergunta, atento.
— Estou, só estou com saudade. Só isso.
Ele não acredita completamente, mas sorri e assente. Assim que ela fecha a porta atrás de si, ele pega o celular e digita rápido para Eduardo.
"Fique de olho nela, algo não está certo."
— Jonathan.
Marta dirige pelas ruas em silêncio, apenas o ronco do motor da RAM preenche o ar. Lá atrás, a uma distância segura, Eduardo acompanha. Sempre discreto, sempre alerta. Ele não está ali apenas como segurança, Jonathan confiou a ele o bem mais precioso que tem.
Ao chegar em casa, Marta desliga o alarme, entra e respira fundo. O cheiro do lar, o silêncio confortável, mas hoje... tudo parece ecoar mais do que o normal. Ela chama:
— Eduardo? Pode entrar.
Ele aparece segundos depois, calmo como sempre. Mas ela o encara com uma intensidade incomum.
— Está tudo certo? — ele pergunta, firme.
— Está. Só... só estou com a cabeça cheia.
— Tem certeza? Marta, se precisar conversar—
— Está tudo bem, Eduardo. Vai descansar. Eu só quero ficar sozinha.
Ele hesita, mas respeita. Sai e fecha a porta devagar, deixando-a no conforto da cozinha. Mas não vai longe. Discretamente, ativa o monitoramento remoto pelas câmeras internas. Ele a observa, preocupado.
Lá dentro, Marta começa a preparar o jantar. Coloca a água no fogo, separa os temperos, corta os legumes... mas as lágrimas vêm sem aviso. Uma... duas... depois uma enxurrada. Ela limpa o rosto com as costas da mão, mas não para. Não pode parar.
— Mãe... — sussurra. — Será que a senhora ainda pensa em mim?
A imagem de Maria surge vívida em sua mente, junto com a do pai, Heitor, sempre sério mas cheio de amor. E Miguel, o irmão que era mais que sangue, era parceiro, confidente, metade da sua alma. Como será que eles estão? Como foi sua vida depois que ela desapareceu sem deixar rastros? O sítio... a pequena cidade... os rostos que ela deixou para trás sem despedidas. A culpa pesa no peito como chumbo.
Ela sorri, enfim. Um sorriso molhado de saudade.
Lá fora, Eduardo assiste em silêncio. Cenas que não entende. Um enigma que não consegue decifrar.
Mais tarde, Jonathan chega. Encontra Eduardo na entrada, de braços cruzados, a expressão fechada.
— Ela chorou? — Jonathan pergunta, direto.
— Sim. E não me contou por quê. Mas... acho que você precisa ir com calma.
Jonathan franze o cenho.
— Com calma? Ela está escondendo algo, Eduardo. Eu preciso saber o quê!
— E você contou tudo sobre Aira para ela? Tudo mesmo? — Eduardo rebate, olhando firme.
— Talvez ela também tenha os fantasmas dela, Jon. Você só vai descobrir quando ela confiar que pode te mostrar.
O silêncio entre eles é tenso. Mas Jonathan entende. Respira fundo e caminha para dentro da casa. Vai vê-la. Com calma, com amor.
E enquanto a noite cai, a pergunta paira no ar, como brisa gelada antes da tempestade:
Por que Marta desapareceu da própria vida? O que ela esconde do passado?
Jonathan entra na cozinha. O cheiro dos temperos, do arroz recém-cozido, do molho espesso borbulhando na panela, o faz sorrir. Marta está de costas, mexendo o refogado com delicadeza, os cabelos presos num coque frouxo, a camisa larga pendendo pelo ombro, despretensiosa. Mas para ele, é a imagem mais bonita do mundo.
— Eu te amo, Marta. E se depender de mim, ninguém nunca mais vai te ferir.
Ela se vira, lentamente, e olha dentro dos olhos dele. E ali, naquele instante, não há medo, nem passado, nem dor. Só amor. Gratidão. E entrega.
O beijo vem devagar, sem pressa. Um toque de almas antes dos corpos. Marta segura o rosto dele com as duas mãos, como se quisesse gravar cada traço, cada curva da mandíbula, cada respiração.
— Me leva para cama — ela sussurra, com os olhos marejados.
Ele obedece. Enrola-a em uma toalha macia, seca cada pedacinho do corpo com paciência e reverência. Depois, a carrega até o quarto. A deita com cuidado, como quem coloca uma flor no lugar mais bonito do jardim. Se deita ao lado dela, a cobre, e puxa para o peito.
Ela suspira, os dedos traçando círculos preguiçosos no peito dele.
— Nunca imaginei que fosse me sentir assim outra vez.
— Como?
— Amada.
Jonathan a segura com mais força, como se pudesse protegê-la até dos próprios pensamentos.
— Dorme, meu amor. Eu tô aqui. Sempre.
E assim, Marta adormece. Envolvida por braços que não deixam, por um peito que embala, por um amor que cresce, silencioso... mas firme como rocha.
A pergunta paira no ar, como brisa gelada antes da tempestade:
Por que Marta desapareceu da própria vida, deixando todos os seus sem notícias?
O que ela esconde do passado?
E o que acontece quando os fantasmas antigos voltam... batendo à porta?

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