O cheiro de sangue e desinfetante ainda impregna o ar, misturando-se ao frio cortante que vaza pelas paredes da enfermaria do Grupo Schneider. Cada passo de Jonathan ressoa pelo corredor como o bater de um coração aflito, e o mundo ao seu redor parece em suspensão, como se a qualquer momento pudesse desmoronar.
Ele empurra a porta da enfermaria com uma força contida que denuncia o turbilhão dentro dele. No instante em que seus olhos encontram Marta deitada sobre a maca, seu peito se contrai num espasmo invisível. A respiração falha. Ali, tão pequena e frágil sob os lençóis brancos, ela parece uma versão quebrada da mulher forte que ele ama.
A médica, de semblante sereno e firme, se adianta com o prontuário nas mãos, interrompendo seus pensamentos.
— Senhor Schneider — começa ela, a voz calma — ela está estável. Já foi medicada, os exames estão normais. Em cerca de uma hora, poderá ir para casa.
Jonathan avança dois passos, incapaz de se manter imóvel.
— Tem certeza que não seria melhor um hospital? — pergunta, a inquietação palpável em cada sílaba. — Quero o melhor para ela. Tudo.
A médica sorri, compreensiva, quase maternal.
— Aqui ela está sendo muito bem cuidada. — Ela pausa, como para lhe oferecer algum alívio. — Se o senhor desejar, pode levá-la para acompanhamento em casa. Ela está medicada com analgésicos, anti-inflamatórios, e não há sinais de trauma interno.
Jonathan assente, mas seu corpo continua tenso, como se não conseguisse baixar a guarda, nem mesmo por um segundo. Marta é preciosa demais. Insuportavelmente preciosa.
Sem mais perguntas, ele caminha até a poltrona ao lado dela. Quando seus olhos se encontram, Marta sorri, um sorriso pequeno e trêmulo, como uma vela acesa em meio à tempestade.
— Você voltou rápido… — sussurra ela, a voz frágil.
— Eu prometi — responde ele, tomando a mão dela entre as suas, como se pudesse transferir força pela pele. — E agora ninguém mais vai tocar em você. Nunca mais.
Jonathan vê o curativo delicado no pulso dela, um detalhe pequeno que para ele parece uma ferida aberta. Algo dentro dele se retorce com violência. Baixa a voz, falando apenas para ela:
— Vou reforçar sua segurança. — Sua mão aperta a dela com um fervor protetor. — Eduardo vai ficar ao seu lado vinte e quatro horas. — Ele levanta os olhos e encara a porta, onde a irmã, Islanne, aparece recostada, os braços cruzados. — E você, Islanne, vai ter um guarda-costas grudado em você. Se tentar despistar Dante… eu mesmo te dou uma surra.
Islanne revira os olhos, o sorriso exasperado aquecendo o clima tenso.
— Tá bom, chefe... — resmunga ela, mas é impossível ignorar o carinho escondido na resposta — ...mas, por favor, sem espancar essa irmã sua.
— Não prometo isso. — Jonathan sorri de canto, mas o sorriso é breve, pesado demais.
Ele volta-se para Marta com ternura absoluta.
— Como você se sente? De verdade?
Antes que ela consiga responder, a porta se abre para revelar Ravi e Eduardo, agora limpos, a postura firme e os olhos atentos. Eduardo se aproxima de Marta com reverência, como se se aproximasse de algo sagrado.
— Como se sente? — pergunta ele, a voz suave em contraste gritante com a violência que todos presenciaram naquela noite.
Marta se esforça para se sentar, mesmo sentindo as dores, e envolve Eduardo num abraço cheio de gratidão.
— Você me salvou... obrigada, Eduardo.
Jonathan observa a cena, e algo dentro dele se aquece. Gratidão pura. Uma dívida eterna.
— Se não fosse você, ela não estaria aqui — diz ele, a voz firme, sincera. — Estou em dívida eterna.
Eduardo apenas abaixa a cabeça.
— Só fiz o que precisava ser feito — responde ele, humilde.
A médica retoma, profissional:
— Ela já pode ir. Só repouso absoluto, sem esforço físico.
Jonathan imediatamente a ajuda a se levantar, cuidando de cada movimento dela como se Marta fosse feita de porcelana. No estacionamento vazio, a RAM preta de Marta já espera, o motor vibrando de ansiedade, como se o próprio carro partilhasse da urgência silenciosa de todos.
Eduardo se adianta.
— Eu levo a RAM.
Jonathan concorda com a cabeça, decidido:
— Obrigado. Marta vai comigo. Você nos segue de perto.
Então, volta-se para Ravi:
— Leva Islanne para casa e fica com ela até amanhã. Não quero minha irmã sozinha nem por um segundo.
Ravi arqueia uma sobrancelha, brincando com a tensão no ar:
— Prometo. — Sua voz é uma rocha. — Eduardo, Dante, Ravi... todos estarão por perto. E eu... nunca vou sair do seu lado.
O rádio toca uma música suave, melancólica, como se o próprio destino se manifestasse através dos acordes. A cidade se dissolve em faixas douradas e sombras inquietas.
Marta treme levemente. Jonathan percebe. Retira a jaqueta e cobre os ombros dela com uma ternura tão palpável que parece quase sólida.
A cidade se desenrola diante deles, mas Jonathan só tem olhos para o reflexo dela no retrovisor. Um misto de amor, culpa e uma necessidade avassaladora de protegê-la arde dentro dele.
— Sabe... — começa ele, hesitante — eu fico me perguntando... onde foi que eu falhei? Como deixei alguém chegar tão perto de você?
Marta segura sua mão com força.
— Não foi sua culpa. — A sua voz é um bálsamo. — Eles planejaram tudo. Você não tinha como saber.
— Mesmo assim... — Jonathan aperta os olhos, sufocado. — Eu juro que vou descobrir tudo. Vou encontrar quem foi. Vou destruir quem ousou tocar em você.
— Eu confio em você — diz Marta, com uma fé tão pura que quase o derruba.
Jonathan solta o ar devagar, reconfortado. Mas o olhar dele ainda se perde na estrada molhada e escura.
Naquela noite, apesar de levar Marta para casa, algo permanece suspenso entre eles, algo maior e mais ameaçador.
O SUV preto corta o silêncio da madrugada.
E, no fundo da mente de Jonathan, perguntas ecoam como tambores de guerra:
Quem foi o traidor que abriu as portas para o perigo?
Quantos outros inimigos ainda se escondem nas sombras do império Schneider?
E até onde ele terá de ir para proteger quem ama?
A estrada se estende diante deles, um convite sombrio para o próximo ato da batalha.
E Jonathan sabe, com um frio na espinha, a guerra está apenas começando.

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