O silêncio da madrugada pesa como concreto sobre a mansão escurecida. Nenhum som de motor na rua, nenhum latido distante. Apenas o tique-taque preguiçoso de um relógio antigo ecoa pela cozinha vazia, onde Alan Moretti, de olhos injetados e rosto abatido, encara o copo meio cheio de uísque como se pudesse encontrar ali respostas que a sua mente já não é capaz de fornecer. As luzes estão apagadas, um pedido mudo para que o mundo lá fora esqueça que ele ainda existe. Mas a verdade é que Alan não consegue esquecer. Nem por um segundo.
Ele costumava ser alguém. Um Moretti. Um nome que inspirava respeito ou medo. O Grupo Moretti já foi símbolo de tradição, um império construído sobre décadas de prestígio e estratégias ousadas no meio farmacêutico. Agora não passa de uma lembrança empoeirada. Um papel velho em alguma gaveta do jurídico do Grupo Schneider. Vendido. Comprado. Engolido vivo.
O telefone vibra sobre a bancada de mármore frio. Três vezes. E ele deixa tocar, hesitante, porque há algo no som, algo na urgência das chamadas durante a madrugada que carrega um péssimo presságio. Só atende na terceira vez, como quem se resigna ao destino.
— Fala — murmura, a voz rouca, arrastada, um fiapo de quem já não tem forças para parecer forte.
Do outro lado, uma voz masculina e tensa entra direto ao ponto, sem rodeios, sem piedade:
— Temos um problema. Jonathan descobriu tudo.
O copo escapa da mão de Alan, mas ele ainda consegue pegá-lo antes de cair. Seus olhos arregalam-se. Um frio percorre sua espinha.
— Do que está falando? — pergunta, tentando manter a voz firme, mas falhando miseravelmente.
— O homem que você mandou atrás da mulher dele, a Marta. Ele tá morto. Jonathan matou o cara com as próprias mãos. Descobriu tudo. Já ligou os pontos. O sequestro, a emboscada, o mandante. Ele vai atrás de você.
O silêncio que se instala parece puxar todo o ar da cozinha. Alan sente o estômago virar. A lembrança do plano mal executado, sim, mas audacioso volta como uma lâmina suja: atingir Jonathan pelo coração. Marta. Tirá-la de cena, deixá-lo de joelhos, exposto, vulnerável… era isso que ele queria. Era isso que achava que precisava para se vingar.
Mas agora, o jogo virou. E ele sabe que Jonathan Schneider não é o tipo de homem que perdoa.
— Como ele descobriu? — rosna Alan entre os dentes, a mandíbula tensa.
— O cara deve ter falado antes de morrer. Jonathan rastreou tudo. Aquele maldito império dele é feito pra guerra. É só questão de tempo até ele chegar em você. E, meu amigo… isso não vai ser bonito. Isso não é mais sobre negócios. É pessoal. E você sabe o que acontece quando ele leva para o pessoal.
Alan fecha os olhos. Uma onda de náusea ameaça vencê-lo. Ele se apoia na pia com a mão trêmula. A lembrança de quando perdeu tudo volta com a força de uma avalanche. O Grupo Moretti, enfraquecido por anos de má gestão, ele jamais admitiria isso em voz alta, mas sabia no fundo que não resistiu à pressão econômica. E Jonathan, como um tubarão sentindo cheiro de sangue, chegou sorrindo, com contrato em mãos e olhos impiedosos.
Alan esperava manter ao menos o nome, um assento na diretoria, alguma dignidade. Mas Jonathan o desfez. Retirou-o da empresa como quem arranca uma erva daninha. Nem sequer uma cerimônia de despedida. Só um aviso seco:
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