O céu escurece como um pano de veludo, engolindo lentamente os últimos traços dourados do entardecer. As luzes da cidade tremeluzem à distância, como se vacilassem diante da noite que se impõe com força. No banco traseiro do carro, Islanne observa tudo com a expressão dura de quem passou o dia dominando salas de reunião, assinando decisões que impactam milhões. Mas agora, naquele silêncio raro, há algo em seu olhar que escapa ao controle. Uma dúvida. Um vazio. Um chamado.
Dante dirige com discrição. Ela o dispensou minutos atrás, mas ao chegar no seu carro, ele a aguardava, mas conhece bem o humor da chefe e sabe que há momentos em que o silêncio é a única companhia bem-vinda. O carro segue em direção à mansão dos Schneider, e quanto mais se aproxima, mais Islanne sente o peito apertar, não de ansiedade, mas de um sentimento ainda mais raro: ternura. Ela não sabe explicar por que decidiu ir até ali. Não exatamente. Só sabe que precisava ver. Precisava tocar com os próprios olhos aquilo que, até pouco tempo, achava impossível: Jonathan feliz de novo.
Quando o portão se abre e a luz amarela da entrada banha a fachada da casa, Islanne prende a respiração. Marta surge na porta, descalça, de avental manchado, um sorriso sereno nos lábios e o cabelo preso de qualquer jeito. A imagem é quase doméstica, íntima, e ainda assim poderosa.
— Vim ver como vocês estão... — diz Islanne, entrando com a confiança de quem carrega o sobrenome como armadura. — E deixar claro que podem continuar desaparecidos o tempo que quiserem. Eu seguro tudo lá fora.
O olhar de Marta suaviza ainda mais, e ela abre espaço com um gesto acolhedor. O aroma de molho, alho e queijo derretido vem da cozinha como um abraço.
— Você não imagina o quanto isso significa — diz Marta, tocando o braço de Islanne com carinho. — Fica para jantar com a gente. Fiz lasanha. Você vai gostar.
Islanne pisca, surpresa. Convites assim não fazem parte do seu cotidiano. Não há tempo para jantares. Não há espaço para gestos simples. Mas alguma coisa naquele ambiente a toca.
— Tá bom... Mas só se eu puder repetir.
O riso delas se mistura como se estivessem nesse papel há anos. Pouco tempo depois, a mesa está posta. A lasanha fumegante, os copos cheios de vinho tinto, o clima aconchegante. Marta é uma anfitriã dedicada, com gestos pequenos, mas cheios de cuidado. E Jonathan... Jonathan está diferente. Mais leve. Os olhos, antes cansados e endurecidos pela dor, agora brilham com um calor novo. Ele se senta ao lado da mulher que ama, a mão repousando sobre a dela com naturalidade, como se aquele toque o sustentasse.
— Marta, essa massa está simplesmente... perfeita. — Islanne se serve novamente, sem cerimônia. — E olha que eu não elogio fácil, hein?
— Não mesmo — Jonathan brinca, levantando a taça. — Anota aí, amor. Um milagre aconteceu nesta casa.
Todos riem. A gargalhada de Jonathan é sincera, profunda, e aquilo mexe com Islanne. Há meses não ouvia o irmão rir assim. O som preenche a sala, o peito dela, e por um segundo, tudo parece certo no mundo.
Todos riem, até Eduardo, que aparece no meio da noite com cara de quem queria encontrar o chefe em modo CEO, e não em modo “jantar em família”. Ele entra meio sem graça, mas logo Marta o convida a se sentar e comer.
Depois da refeição, enquanto todos ainda estão à mesa, relaxados, Jonathan apoia os braços na cadeira, observa o amigo e diz:
— Eduardo, amanhã tira o dia para você, sim? Não vou sair. Fica em casa, descansa. Você merece.
O olhar de Eduardo é de pura surpresa.
— Tem certeza?
— Absoluta. Pode aproveitar o dia, por minha conta.
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