O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino romance Capítulo 98

A fazenda é simples, antiga, com cheiro de madeira úmida e tempo parado. O chão range sob os passos, as janelas empoeiradas deixam a luz entrar em feixes tímidos. Não há luxo, não há conforto, só o som do vento passando pelas árvores e o canto de pássaros que ignoram o peso que Alan e Vivian carregam.

Os dias passam devagar.

Alan passa horas calado, andando entre os campos, observando as galinhas, reparando no velho celeiro que precisa de conserto. Vivian cozinha em silêncio, limpa a casa, cuida das plantas do jardim abandonado, tentando encontrar alguma rotina em meio à incerteza.

Mas naquela noite, o céu está limpo, salpicado de estrelas. A lareira improvisada estala baixinho na sala. Vivian está enrolada em um cobertor velho no sofá. Alan entra, com as mãos cheias de lenha, o olhar cansado, mas diferente, menos sombrio.

Ele senta-se no chão, diante dela, com as pernas cruzadas e o olhar baixo, como um homem em julgamento. O silêncio pesa por um instante, até ele erguer os olhos e dizer, com a voz embargada:

— Eu sei que isso aqui não é nada. Não tem luxo, não tem segurança, não tem futuro certo… mas é o que eu tenho agora. E queria te pedir… uma chance. Só uma.

Vivian encara o marido. Ele parece menor agora, despido do orgulho, do sarcasmo, da armadura. Ele é só um homem quebrado, tentando juntar cacos com as mãos nuas.

— Uma chance pra quê, Alan?

— Para recomeçar. Para te mostrar que, mesmo falido, mesmo sujo, mesmo f0dido… eu ainda te amo. Talvez do meu jeito torto, imperfeito, mas ainda amo. — Ele estica a mão, tocando o joelho dela. — Eu não quero mais fugir. Mas também não quero ser preso. Eu quero você. Aqui. Comigo. Nem que eu tenha que levantar essa casa com as próprias mãos.

Ela respira fundo, sem conseguir conter as lágrimas que enchem os olhos. Há uma honestidade crua nas palavras dele, uma entrega que ela não via há muito tempo.

— Você me promete que vai tentar… de verdade?

— Prometo — ele diz sem hesitar. — Não sei se sou capaz de dar o mundo que você sonhou, mas amor não vai faltar. Nem esforço. Nem arrependimento. E se tudo o que sobrou de mim puder construir alguma coisa… quero que seja com você.

Vivian leva a mão ao rosto dele, acariciando com ternura. A barba por fazer, o olhar cansado… mas ainda há algo ali. Algo que ela conheceu um dia. Algo que talvez ainda exista.

— Então me mostra, Alan. Me mostra que ainda vale a pena amar você.

Ele a puxa com delicadeza para o colo, abraçando-a como se temesse perdê-la no segundo seguinte. Pela primeira vez em muito tempo, Alan Moretti chora, não de raiva, nem de ódio, mas de alívio. De esperança.

E naquela fazenda esquecida, onde ninguém mais os procura, os dois começam a costurar um novo capítulo. Ainda machucados, ainda com medo… mas lado a lado.

As manhãs na fazenda começam com o canto dos galos e o cheiro de café sendo passado devagar. Vivian acorda cedo, mesmo sem pressa, como se a terra exigisse isso dela. Alan, por sua vez, demora mais a sair da cama. Não é preguiça. É o peso. Há dias em que ele acorda com o som do freio, os gritos de Aira. O sangue. O olhar dela morrendo. A lembrança do ventre arredondado. A morte que ele causou.

Vivian percebe. Ela sente quando ele acorda encharcado de suor, com o peito arfando como se estivesse sendo sufocado. Mas não pergunta. Só deixa a caneca de café quente ao lado da cama e sai. Ele sempre aparece depois, calado, de olhar perdido, mas sempre toma o café até o fim.

Às vezes, à noite, ele fala. Pouco, quase como quem confessa um crime num altar improvisado de silêncio.

O Silêncio da Terra 1

O Silêncio da Terra 2

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