Zoe caminhava com passos duros, sem olhar para os lados, como se os sons dos monitores cardíacos e dos respiradores fossem agulhas invisíveis cutucando a sua mente. A enfermeira que a acompanhava indicou a porta do leito com um leve aceno, mas Zoe mal registrou. Seus olhos estavam cravados no vidro, além do qual Arthur estava deitado, imóvel.
Havia tubos demais.
Máquinas demais.
Silêncio demais.
Ela parou antes de entrar. Observou por segundos longos — ou talvez eternos — aquele homem que, horas antes, era só velocidade, voz e mentiras. Agora, era só corpo. Um corpo ferido, vulnerável, ligado a fios e números. O peito subia e descia de forma controlada, como se cada respiração dependesse de permissão.
Zoe respirou fundo, uma, duas vezes, como se estivesse treinando para não desmoronar. Abriu a porta com cuidado, sentindo o cheiro metálico e estéril da sala. Seu salto ecoou no chão de resina clara, cada passo mais pesado que o anterior.
Ela parou ao lado da cama, os olhos presos ao rosto pálido de Arthur. Havia cortes sutis perto da sobrancelha, a barba por fazer, e uma sonda no nariz. A cabeça estava levemente virada para o lado, como se até no inconsciente ele evitasse encará-la.
— Você está vivo... — disse ela, com voz baixa, quase inaudível, como se falasse mais para si do que para ele.
Nenhuma resposta, apenas o som ritmado dos aparelhos. O monitor cardíaco piscava com indiferença, como se dissesse: "Ele está aqui. Só isso."
Zoe sentou-se na cadeira ao lado da cama. Passou as mãos nos joelhos, tentando acalmar o tremor que insistia em expô-la. Seus olhos analisaram cada detalhe — o lençol impecável, o cateter no braço, a marca roxa no pescoço. Por um momento, sentiu uma vontade absurda de gritar. Mas não gritou. Engoliu o nó. Sempre engolia.
— Você... vai sair dessa. — disse, quase num sussurro. — Eu tenho certeza que vai. Você é forte!
Ela fechou os olhos por um instante. Lágrimas pesadas se acumularam, mas não caíram. Não permitiria. Ainda não.
— Você correu... como se quisesse desaparecer. Como se o mundo não pudesse te alcançar.
O olhar dela se desviou para o monitor ao lado. Bateu os dedos lentamente no encosto da cadeira, como se estivesse cronometrando os batimentos. Uma pausa longa, então ela voltou a encará-lo.
— Eu vim porque... precisava olhar nos seus olhos. Mesmo que você não abra. Mesmo que não esteja me ouvindo.
Sua voz oscilou pela primeira vez.
— Meu coração gritou mais alto do que minha raiva, meu orgulho. Por isso estou aqui. Foram tantas promessas, tantos sonhos, Arthur.
Os olhos de Zoe se estreitaram com as lembranças de tudo o que aconteceu e que queimava por dentro. A frase ficou suspensa entre os dois, um espectro flutuando na UTI.
— A água do rio, ela não fica parada, ela segue seu fluxo. Mas eu não vim aqui para falar disso. Nem para te dar promessas.
Ela ajeitou o cabelo atrás da orelha, com um gesto automático. Sua mão chegou perto da de Arthur, mas não o tocou. Faltou coragem. Faltou vontade. Faltou perdão.
— Só queria que você soubesse... que eu vim. Só isso.
Ela se levantou com a mesma lentidão com que havia chegado. O salto ecoou de novo no chão limpo. Ao chegar à porta, parou e olhou por cima do ombro.
Zoe desabou. Um soluço rasgado escapou de sua garganta, e as lágrimas finalmente desceram com fúria. Eloísa a apertou contra o peito.
— Eu estou com tanta vergonha de olhar pra você, Zoe...
Zoe se afastou sutilmente, enxugando os olhos, e disse com firmeza:
— A senhora não tem que ter vergonha de nada. A senhora não tem culpa de nada disso.
Mas Eloísa balbuciou, quase sem voz:
— Mas eu tenho... Porque meu filho não tirou você de uma esquina, ele tirou você da casa da sua mãe. E mesmo que tivesse tirado de uma esquina, isso não dava a ele o direito de fazer o que fez. Como vou olhar para sua mãe minha filha? Eu falei várias vezes para ela que meu filho era um homem de caráter. Que ia cuidar de você, te fazer feliz, te proteger. E olha o que aconteceu. Olha onde estamos.
Zoe assentiu, tocando levemente a mão da sogra.
— Não fica assim. A senhora precisa ser forte agora. Ele vai precisar de você. Com relação a minha mãe, tudo vai permanecer do mesmo jeito. Ela ama a senhora.
Eloísa sorriu, um sorriso triste e maternal.
— Eu vou torcer com todas as minhas forças pra que tudo entre vocês se resolva. Vocês tem uma história linda. Não pode acabar assim. Tem certeza que não quer que eu te leve?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR
depois que começou a cobrar ficou ruim seguir com a leitura...
Desde quando esse site cobra? Já li inúmeros livros e é a primeira vez que vejo cobrar....
Pq não abre os capítulos? Mesmo pagando?...
Eu comprei os capítulos, mas eles não abrem. Continuam bloqueados, mesmo depois de pago...
Comprei os capítulos, mas não consigo ler. Só abrem depois de 23:00 horas. Não entendi...