A luz da tarde penetrava fracamente pelas janelas da Unidade de Terapia Intensiva, pintando tons pálidos no chão branco e nos aparelhos que cercavam a cama de Arthur. O bipe constante do monitor cardíaco era a única trilha sonora daquele ambiente estéril e silencioso. O ventilador sussurrava baixinho, embora Arthur já respirasse por si. Havia horas que ele se mantinha sedado, mas naquele momento, seus dedos estremeceram.
O médico residente ao lado percebeu e rapidamente chamou o titular. Em poucos instantes, dois profissionais se aproximaram da cama, enquanto a enfermeira ajustava os parâmetros da máquina. O médico-chefe, experiente, colocou a mão no ombro de Arthur.
— Arthur? Doutor Arthur? Você consegue me ouvir?
Os olhos dele se moveram sob as pálpebras, e com esforço, abriram-se lentamente. O teto branco surgiu como um borrão. O som ficou mais nítido.
— Estou... onde? — murmurou com a voz rouca.
— Você sofreu um acidente de carro. Está na UTI. Sobreviveu, mas passou por uma cirurgia delicada.
Arthur tossiu, sentindo uma dor cortante nas costelas.
— Eu sou médico. — A voz saiu trêmula, mas determinada. — Me diga... me diga logo. Sem rodeios.
O médico respirou fundo.
— Fizemos a descompressão da medula. A lesão foi grave. Estamos realizando testes motores. Ainda é cedo para confirmar qualquer prognóstico definitivo.
Arthur fechou os olhos com força, depois os abriu com uma clareza gelada.
— Diga a verdade. Não estou sentindo as pernas, estou?
O médico hesitou por segundos que pareceram eternos.
— Não, ainda não há sensibilidade nas extremidades inferiores. Mas precisamos de tempo. O inchaço pode estar interferindo. Ainda há esperança, mas precisamos iniciar a fisioterapia o quanto antes.
— Não. — Arthur foi firme. — Não quero. Não vou fazer tratamento. Isso aqui... — ele apontou fracamente para si — é pouco. Pouco diante do que eu fiz com ela. Eu destruí a vida da minha esposa. Destruí minha vida. Eu mereço isso.
O médico tentou argumentar, mas Arthur virou o rosto, lágrimas escorrendo pelos olhos castanhos. Naquele momento, a dor que o consumia não era física.
Pouco depois, os pais de Arthur chegaram, chamados às pressas. Eloísa entrou primeiro, os olhos marejados, a boca trêmula. Otto veio logo atrás.
— Meu filho... — sussurrou Eloísa, aproximando-se da cama. — Graças a Deus você acordou. Você está vivo, meu amor. Você está com dor?
— Mãe. — Arthur disse, com um fio de voz. — A Zoe... Ela veio aqui?
Eloísa hesitou. Olhou para Otto, que assentiu levemente. Ela engoliu em seco.
— Ela veio sim. Ficou a madrugada inteira conosco esperando você sair da cirurgia. Mas foi embora assim que autorizaram ela te ver aqui.
Arthur apertou os olhos com força, tentando conter o choro.
— Como ela está? Me fala a verdade Mãe.
— Ela... está destruída, Arthur. Esta é a palavra que descreve minha nora. Parece uma outra Zoe.
— Vamos repetir os testes motores, Arthur. Só por protocolo.
Fizeram estímulos nos pés. Nenhuma reação.
— Nada. — murmurou o médico.
Otto abaixou a cabeça. Eloísa segurou a mão do filho. Estava se segurando para não chorar.
Arthur suspirou, a alma em pedaços.
— Eu não sou mais o mesmo, pai. Essa é a minha sentença. E por mais que doa, talvez seja o justo. O certo mesmo teria sido eu não sobreviver àquele acidente.
— Não diga uma coisa dessas, meu filho. Todo mundo tem o direito de se arrepender, de se redimir, de tentar ser alguém melhor — respondeu Eloisa, com a voz embargada pela dor.
— O que eu fiz, mãe… não tem perdão!
Otto ficou em silêncio por um tempo, depois se aproximou mais, com a voz grave e firme.
— Você cometeu erros, sim. Mas se punir até o fim da vida não é redenção. É covardia. Entenda isso Arthur.
— Eu não quero redenção. Eu quero pagar. Cada segundo. Porque eu a quebrei por dentro. E agora sou eu que estou quebrado. Justo, não acha?
Silêncio.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR
depois que começou a cobrar ficou ruim seguir com a leitura...
Desde quando esse site cobra? Já li inúmeros livros e é a primeira vez que vejo cobrar....
Pq não abre os capítulos? Mesmo pagando?...
Eu comprei os capítulos, mas eles não abrem. Continuam bloqueados, mesmo depois de pago...
Comprei os capítulos, mas não consigo ler. Só abrem depois de 23:00 horas. Não entendi...