Zoe caminhava ao lado de Arthur, com as mãos entrelaçadas. O polegar dela se movia devagar sobre o dorso da mão dele, num gesto instintivo, quase inconsciente, de quem quer transmitir segurança. Arthur, no entanto, mantinha o olhar fixo à frente, o maxilar rígido e os ombros tensos.
Ao chegarem à parede de vidro, Zoe percebeu que uma enfermeira, lá dentro do berçário, já tinha notado a presença deles. Ao reconhecer Arthur e Otto, ela sorriu de leve e fez um aceno discreto com a cabeça.
Com movimentos silenciosos para não acordar os outros bebês, aproximou-se do berço de Clarisse, a envolveu nos braços com delicadeza.
O pequeno embrulho rosa parecia ainda menor nos braços experientes da profissional. O jeito como a segurava revelava prática e segurança, mas também um respeito silencioso pela importância daquele momento.
Otto, ao ver a neta novamente tão de perto, ajeitou os óculos como se quisesse captar cada detalhe. Eloísa ficou com os olhos marejados, incapaz de esconder o sorriso emocionado.
Zoe sentiu o coração acelerar. Olhou para Arthur, mas ele não respondeu. Apenas manteve os olhos fixos no movimento da enfermeira.
A profissional se virou, posicionando-se de forma que todos pudessem ver. E então, lá estava ela.
Clarisse.
Tão pequena que parecia caber inteira nas mãos de quem a segurava. O rosto sereno, bochechas arredondadas e rosadas, lábios entreabertos num suspiro adormecido. As mãos fechadas em punhos minúsculos, os dedos tão delicados que pareciam frágeis demais para o mundo.
Otto foi o primeiro a quebrar o silêncio.
— Não exagerei quando disse que ela é linda… — disse, a voz firme, mas com um brilho emocionado nos olhos. Virou-se para Arthur e Zoe. — Eu e Eloísa estamos completamente apaixonados.
Eloísa sorriu, com lágrimas contidas.
— Parece uma bonequinha.
Thor, apoiado casualmente na parede, soltou um sorriso travesso e olhou para Arthur.
— Olha só, Ferraz… se eu fosse você, já começava a treinar as desculpas pra quando ela começar a partir corações.
Celina, de braços cruzados e um sorriso carinhoso, completou:
— Vai ser amiguinha da Safira e da Antonella. — Olhou para Arthur. — Parabéns, de verdade, ela é uma Princesinha.
Arthur não disse nada. Seu olhar estava preso na filha, mas havia um muro invisível entre ele e aquela imagem.
Zoe, percebendo o silêncio dele, tentou trazer leveza.
— Ela é todinha você amor… mas loirinha como a mãe. — Virou-se para Eloísa. — A senhora sabe a cor dos olhos dela?
Eloísa assentiu.
— Quando a vimos pela primeira vez, ela abriu os olhos por um instante. Tudo indica que serão azuis, como os da mãe.
Zoe apertou a mão de Arthur. Ele ainda não desviava os olhos do vidro.
— Ela é linda, Arthur… — disse suavemente. — Aposto que o Miguel vai ser super protetor com ela.
E foi nesse instante que a defesa dele cedeu um pouco. Os olhos marejaram, e ele respirou fundo, como quem tenta impedir que a emoção transborde.
Zoe sorriu e continuou, pintando uma cena com as palavras:
— Já consigo imaginar… ela vindo falar comigo: “Tia Zoe, o Miguel não deixa nenhum menino chegar perto de mim na escola. Fica dizendo que é meu irmão mais velho e tem que me proteger. Mas eu que sou a mais velha, tia! Fala com ele?”
Os demais sorriram.
— Claro que eu vou falar… mas só depois de pegar a pipoca pra assistir a cena. — completou Zoe, no seu tom divertido.
Thor entrou na brincadeira, balançando a cabeça.
— Apoio o Miguel nessa. Segurança máxima.
— Foi mesmo. Na adolescência, a mãe dela conheceu um empresário. Ele era divorciado e eles se casaram. Sabrina gostava muito dele, chamava-o de pai. Foi ele quem pagou escola, cursos… e com isso, ela passou numa universidade pública. Mas, antes disso, a infância dela foi bem difícil. A mãe precisava dormir no trabalho e só voltava aos sábados. O pai biológico nunca a assumiu.
— Triste. — disse Zoe, baixinho.
— Foi. — Ele mudou de tom. — Mas não quero falar dela. Tudo bem?
Zoe forçou um sorriso.
— Sem problemas, lindo. Eu estou doida pra chegar em casa, tomar um banho, fazer outro lanche… — passou a mão pela barriga sorrindo — esse Miguel está me deixando gorda.
Arthur colocou a mão na coxa dela e falou baixo, firme:
— Você está cada dia mais gostosa.
Ela sorriu, balançando a cabeça.
— Doutor Ferraz… ainda bem que Miguel não entende nada disso.
Mais tarde, Zoe rolou na cama pela enésima vez. O edredom já estava embolado em volta das pernas, e o travesseiro não encontrava um lugar confortável sob a cabeça. A respiração de Arthur, compassada e profunda, indicava que ele dormia profundamente.
Mas ela… ela não conseguia desligar.
A conversa com Sabrina mais cedo ainda ecoava na mente. Cada palavra. Cada súplica. A imagem de Clarisse — tão pequena, tão indefesa — teimava em voltar, como se o rosto da bebê estivesse grudado na retina dela.
Virou-se na cama e fitou Arthur. O rosto dele estava relaxado no sono, mas ainda havia traços de tensão no maxilar. Zoe suspirou, estendeu a mão até o celular na mesinha ao lado e acendeu a tela, era quatro da madrugada.
— Ótimo… — murmurou para si mesma. — Mais um dia começando com olheiras de panda.
Deslizou devagar para fora da cama, cuidando para não acordar Arthur. Pegou o robe, calçou as pantufas e saiu pelo corredor até a sala.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR
depois que começou a cobrar ficou ruim seguir com a leitura...
Desde quando esse site cobra? Já li inúmeros livros e é a primeira vez que vejo cobrar....
Pq não abre os capítulos? Mesmo pagando?...
Eu comprei os capítulos, mas eles não abrem. Continuam bloqueados, mesmo depois de pago...
Comprei os capítulos, mas não consigo ler. Só abrem depois de 23:00 horas. Não entendi...