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O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR romance Capítulo 391

Zoe caminhava ao lado de Arthur, com as mãos entrelaçadas. O polegar dela se movia devagar sobre o dorso da mão dele, num gesto instintivo, quase inconsciente, de quem quer transmitir segurança. Arthur, no entanto, mantinha o olhar fixo à frente, o maxilar rígido e os ombros tensos.

Ao chegarem à parede de vidro, Zoe percebeu que uma enfermeira, lá dentro do berçário, já tinha notado a presença deles. Ao reconhecer Arthur e Otto, ela sorriu de leve e fez um aceno discreto com a cabeça.

Com movimentos silenciosos para não acordar os outros bebês, aproximou-se do berço de Clarisse, a envolveu nos braços com delicadeza.

O pequeno embrulho rosa parecia ainda menor nos braços experientes da profissional. O jeito como a segurava revelava prática e segurança, mas também um respeito silencioso pela importância daquele momento.

Otto, ao ver a neta novamente tão de perto, ajeitou os óculos como se quisesse captar cada detalhe. Eloísa ficou com os olhos marejados, incapaz de esconder o sorriso emocionado.

Zoe sentiu o coração acelerar. Olhou para Arthur, mas ele não respondeu. Apenas manteve os olhos fixos no movimento da enfermeira.

A profissional se virou, posicionando-se de forma que todos pudessem ver. E então, lá estava ela.

Clarisse.

Tão pequena que parecia caber inteira nas mãos de quem a segurava. O rosto sereno, bochechas arredondadas e rosadas, lábios entreabertos num suspiro adormecido. As mãos fechadas em punhos minúsculos, os dedos tão delicados que pareciam frágeis demais para o mundo.

Otto foi o primeiro a quebrar o silêncio.

— Não exagerei quando disse que ela é linda… — disse, a voz firme, mas com um brilho emocionado nos olhos. Virou-se para Arthur e Zoe. — Eu e Eloísa estamos completamente apaixonados.

Eloísa sorriu, com lágrimas contidas.

— Parece uma bonequinha.

Thor, apoiado casualmente na parede, soltou um sorriso travesso e olhou para Arthur.

— Olha só, Ferraz… se eu fosse você, já começava a treinar as desculpas pra quando ela começar a partir corações.

Celina, de braços cruzados e um sorriso carinhoso, completou:

— Vai ser amiguinha da Safira e da Antonella. — Olhou para Arthur. — Parabéns, de verdade, ela é uma Princesinha.

Arthur não disse nada. Seu olhar estava preso na filha, mas havia um muro invisível entre ele e aquela imagem.

Zoe, percebendo o silêncio dele, tentou trazer leveza.

— Ela é todinha você amor… mas loirinha como a mãe. — Virou-se para Eloísa. — A senhora sabe a cor dos olhos dela?

Eloísa assentiu.

— Quando a vimos pela primeira vez, ela abriu os olhos por um instante. Tudo indica que serão azuis, como os da mãe.

Zoe apertou a mão de Arthur. Ele ainda não desviava os olhos do vidro.

— Ela é linda, Arthur… — disse suavemente. — Aposto que o Miguel vai ser super protetor com ela.

E foi nesse instante que a defesa dele cedeu um pouco. Os olhos marejaram, e ele respirou fundo, como quem tenta impedir que a emoção transborde.

Zoe sorriu e continuou, pintando uma cena com as palavras:

— Já consigo imaginar… ela vindo falar comigo: “Tia Zoe, o Miguel não deixa nenhum menino chegar perto de mim na escola. Fica dizendo que é meu irmão mais velho e tem que me proteger. Mas eu que sou a mais velha, tia! Fala com ele?”

Os demais sorriram.

— Claro que eu vou falar… mas só depois de pegar a pipoca pra assistir a cena. — completou Zoe, no seu tom divertido.

Thor entrou na brincadeira, balançando a cabeça.

— Apoio o Miguel nessa. Segurança máxima.

— Foi mesmo. Na adolescência, a mãe dela conheceu um empresário. Ele era divorciado e eles se casaram. Sabrina gostava muito dele, chamava-o de pai. Foi ele quem pagou escola, cursos… e com isso, ela passou numa universidade pública. Mas, antes disso, a infância dela foi bem difícil. A mãe precisava dormir no trabalho e só voltava aos sábados. O pai biológico nunca a assumiu.

— Triste. — disse Zoe, baixinho.

— Foi. — Ele mudou de tom. — Mas não quero falar dela. Tudo bem?

Zoe forçou um sorriso.

— Sem problemas, lindo. Eu estou doida pra chegar em casa, tomar um banho, fazer outro lanche… — passou a mão pela barriga sorrindo — esse Miguel está me deixando gorda.

Arthur colocou a mão na coxa dela e falou baixo, firme:

— Você está cada dia mais gostosa.

Ela sorriu, balançando a cabeça.

— Doutor Ferraz… ainda bem que Miguel não entende nada disso.

Mais tarde, Zoe rolou na cama pela enésima vez. O edredom já estava embolado em volta das pernas, e o travesseiro não encontrava um lugar confortável sob a cabeça. A respiração de Arthur, compassada e profunda, indicava que ele dormia profundamente.

Mas ela… ela não conseguia desligar.

A conversa com Sabrina mais cedo ainda ecoava na mente. Cada palavra. Cada súplica. A imagem de Clarisse — tão pequena, tão indefesa — teimava em voltar, como se o rosto da bebê estivesse grudado na retina dela.

Virou-se na cama e fitou Arthur. O rosto dele estava relaxado no sono, mas ainda havia traços de tensão no maxilar. Zoe suspirou, estendeu a mão até o celular na mesinha ao lado e acendeu a tela, era quatro da madrugada.

— Ótimo… — murmurou para si mesma. — Mais um dia começando com olheiras de panda.

Deslizou devagar para fora da cama, cuidando para não acordar Arthur. Pegou o robe, calçou as pantufas e saiu pelo corredor até a sala.

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