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O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR romance Capítulo 392

O silêncio da casa era tão absoluto que podia ouvir o leve zumbido da geladeira.

Foi até a poltrona próxima à parede de vidro. Abriu a cortina com um movimento lento, e a cidade lá embaixo, apareceu diante dela, iluminada pelos faróis dos poucos carros que cruzavam as avenidas. A madrugada tinha aquele tom meio azulado, frio, mas ao mesmo tempo acolhedor.

Ela ergueu os olhos para o céu, que mal se via entre os prédios, e sussurrou:

— Eu sei que disse que o Senhor não existia quando minha vida virou do avesso… — fechou os olhos por um instante, respirando fundo — me perdoa por isso. Hoje eu entendo porque meu filho veio no momento em que eu não queria. Obrigada pela vida dele, pelo meu casamento…

Um sorriso torto escapou, o lado “doidinha” surgindo mesmo na oração improvisada.

— Eu sei que estamos morando juntos, que já pequei bastante, meu Deus, e que pecado bom… — suspirou, quase sorrindo — desculpe, Deus, mas meu marido é um gostosão. Jesus, que homem… e eu virei uma pervertida. Será que ele já vai marcar o casamento?

Soltou um sorriso abafado, mas logo a mente disparou para outra direção.

— Hoje tenho que falar com a Celina sobre a surra que ela deu na Isabela… bem feito. Desculpa aí, Deus, mas eu já teria tirado sangue dela há mais tempo.

Por um segundo, ficou em silêncio, os olhos fixos nas luzes piscantes de um prédio distante.

— Hoje não quero trabalhar… minha mente está uma bagunça — murmurou, passando a mão no rosto, como se quisesse varrer os pensamentos. — Zoe, você não é irresponsável… só altamente criativa para inventar moda. — Soltou um meio sorriso cansado. — Acho que estou precisando do Arthur para aliviar minha tensão… e não é com massagem nas costas. — Suspirou, apoiando a mão na barriga e encarando o teto. — Mas, sinceramente, acho que minha cabeça precisa ser exorcizada…

Fez uma careta, se repreendendo mentalmente.

— Como vai ser o Miguel com a Clarisse? Será que o Arthur um dia vai ser um pai ciumento a ponto de prender a filha? — balançou a cabeça, rindo de nervoso. — Ai, Zoe, você estava falando com Deus sobre outra coisa…

Suspirou, acariciando a barriga sentada na poltrona.

— Minha mente não para um minuto… que nova prova é essa que o Senhor está me dando? É um teste? O que vai ser da vida daquela bebê?

O pensamento fez um caminho rápido para um momento específico, há algumas semanas.

Ela estava ali, sentada no sofá da sala dos sogros, quando Otto e Eloísa, em vozes firmes, discutiam com Arthur sobre o futuro da neta que ainda estava para nascer.

Otto falou firme, com a decisão que já havia tomado desde quando o teste de DNA saiu:

— Como já disse, não vamos deixar nossa neta ser criada pela família de Sabrina. Assim que ela tiver a bebê, vai direto para a cadeia. O advogado já está providenciando para que a guarda seja unilateral para você, Arthur. Mas eu e sua mãe iremos criar.

Arthur, sério, respondeu:

— Pai, eu vou assumir a criança, mas não quero criar. Não quero ter contato. Meu filho é o Miguel.

Eloísa olhou para o filho como se tentasse atravessar o coração dele.

— Filho, eu entendo tudo o que aconteceu… mas a criança não tem culpa. Ela vai vir ao mundo, ela existe, e vai precisar de amor, cuidado, proteção. Você é o pai, meu filho.

— Mãe, me perdoa… mas eu não queria essa criança. Não planejei ela. Ela existe, mas, pra mim, é como se não existisse. E eu não vou colocar minha esposa nisso. Ela não tem obrigação nenhuma de cuidar dela. Zoe sofreu muito com tudo que aconteceu.

Zoe fechou os olhos, engolindo em seco.

— Meu Deus… por que o Senhor está me fazendo lembrar disso? — levantou as sobrancelhas. — Se a ideia for me dar lição de vida, podia mandar por áudio no W******p, que é mais prático.

Tentou se convencer:

— A menina vai ter avós maravilhosos… meus sogros são 10, e ainda são bonitos, viu? A genética dessa família é covardia.

Mas uma outra voz dentro dela respondia:

— Isso, Zoe… você pode conversar com o Arthur e fazer ele mudar de ideia.

— Não, Zoe… você não vai se meter nisso. Seu filho vai nascer daqui a dois meses. — Passou as mãos no rosto, suspirando. — Ai, meu Deus… que perturbação. Minha mente não para.

E então, como se o destino quisesse atiçar ainda mais, voltou a ecoar a conversa com Sabrina:

— Eu fui criada sem pai, sei o quanto isso é ruim. Não quero isso pra minha menina. Ela não tem culpa da maldade da mãe… por favor, crie minha Clarisse.

Zoe se levantou de repente.

— Chega. Não quero mais pensar em nada. Vou dormir… vai que meu cérebro resolve inventar mais problema só pra me ver surtando.

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