Eva se pegou escondendo o próprio rosto ao entrar pelo hall do prédio aonde morava. Esquivou-se de Walter, pegando a escada em vez do elevador e evitou contato visual com o senhor do setecentos e dois quando cruzou com ele sentado sobre os degraus, acariciando seu cachorro. Seu estômago se embrulhava terrivelmente e ela se repreendia constantemente por ter sido tão desleixada.
Ela não se importava exatamente com a opinião dos vizinhos sobre ela, mas a maneira como eles a olhavam era carregada de censura e isso, certamente não passaria despercebido quando Eric voltasse para casa.
Ela entrou pela porta de seu apartamento e constatou, pelas persianas fechadas, que Jonathan ainda não havia voltado.
Como que por costume, seguiu até o quarto e ligou seu laptop, vestiu uma roupa mais confortável e se sentou em frente à tela. Abriu suas planilhas e encarou-as sem prestar atenção alguma. Decidiu, então, pegar seu celular para verificar as redes sociais.
Uma das notificações de mensagens na tela era de Melissa, que havia se mostrado preocupada. Por mais nervosa que Eva pudesse estar com a amiga, sabia que ela não havia tomado a decisão que havia tomado por má fé. Eva havia deixado o Galeria Café sem se despedir e sabia que Melissa devia estar roendo as unhas de ansiedade. Tentou acalmá-la, dizendo que estava bem e que precisava apenas de algum tempo para pôr as ideias no lugar, mas sabia que aquilo não seria suficiente. Ainda assim, se limitou a poucas palavras.
Eva abriu a página pessoal de Eric. Ela sabia que ele se mantinha ativo nas redes, postando fotos e status sem importância sobre basicamente tudo o que fazia. Na maior parte das vezes, postava fotos de pratos especialmente decorados, locais por onde costumava passar e de seu ambiente de trabalho.
Ele estava em São Paulo agora e, todas as noites, saia para jantar em algum local diferente, o qual citava em sua postagem. Suas ligações com Eva eram breves, se limitavam a contar um pouco sobre as trivialidades do dia e sobre o local onde iria jantar, normalmente acompanhado dos colegas de trabalho. Eva, por sua vez, inventava algo, também trivial para contar, esperando que ele logo se entediasse e se despedisse.
Em que momento ela dera razões para ele procurar a outra mulher? Estaria ela ficando feia aos seus olhos? Ou seria a força da rotina empurrando-o para outro lugar? Estaria ele apaixonado pela irmã mais nova de Melissa, uma garotinha de dezenove anos? Era praticamente a mesma idade de Jonathan. Como ela poderia julgar as atitudes de Eric fazendo exatamente o mesmo que ele?
Em dado momento, ela se pegou explorando a rede social de Marissa. Seu corpinho era esguio e bem desenhado. Os cabelos pretos eram curtos e lisos, os olhos, castanhos apresentavam uma inocência pueril e, pelas fotos que postava, parecia uma garota jovem, comum e alegre como Eva um dia já havia sido.
Eva suspirou profundamente sem saber o que sentir. Ela percebeu pelo ícone no canto da página pessoal de Marissa que ela havia postado alguns status recentemente. Abriu-os para checar e, como era comum de pessoas naquela idade, Marissa gostava de postar coisas com teor de indiretas, repostagens de páginas de personal coachings e fotos aleatórias. O último status, no entanto, a fez segurar a tela. Marissa havia postado uma foto sua do tipo selfie. Apenas metade do seu corpo aparecia na foto, mas o cenário atrás dela lhe chamou muito a atenção. Ela parecia estar em um salão com paredes de madeira, uma iluminação amarelada e um toque rústico. Não havia nenhuma menção ou localização marcada na foto, mas fez o estômago de Eva dar voltas ainda mais rápidas do que já estava dando. Ela rapidamente abriu a página de Eric para checar e o penúltimo dos status havia sido postado em um local com o mesmo tipo de iluminação e decoração.
Eva abriu a aplicativo de mensagens e escreveu para Melissa.
“Sabe se sua irmã está em casa?”
Eva continuou buscando nas fotos e encontrou o nome e a localização do restaurante marcado no status de Eric. Melissa não demorou a responder.
“Por que? Não pretende bater nela né?”
Eva revirou os olhos.
“É claro que não. Mas olha isso”
Ela enviou o print da tela dos status de ambos.
“Parecem ser o mesmo lugar, não?”
“Acho que sim, amiga. Ela disse que ia viajar com umas amigas para aproveitar as férias do trabalho. Sinto muito”
Eva experimentava um misto de fúria e alívio que a deixava confusa. Era estranho sentir raiva de Eric. Ele também era jovem quando a havia pedido em namoro. Estaria ele, assim como ela, saboreando novas experiências?
Eva se sobressaltou quando a campainha tocou. “Será que Jonathan perdeu suas chaves?” Se perguntou. Ela caminhou descalça, vestida apenas com seu pijama até a porta e a abriu sem perguntar quem era.
— Perdeu sua chav... – Eva se interrompeu ao abrir a porta e perceber que não era Jonathan quem estava ali.
Walter estava de pé sobre o capacho e tinha uma garrafa de vinho na mão. Ele vestia uma camiseta preta de algodão que acentuava seu peitoral e uma calça jeans.
— Olá vizinha. – Cumprimentou ele, olhando-a de cima a baixo, parando-se demoradamente sobre os seios de Eva que marcavam visivelmente o tecido do pijama.
Eva olhou através do corredor, checando se o senhor do setecentos e dois não estava ali, bisbilhotando como de costume e então sorriu demoradamente para Walter.
— Oi, Walter. Que surpresa. O que o traz aqui? – Perguntou, apoiando o braço no batente da porta, o que fez sua blusa de pijama se colar mais ainda aos seus seios e revelar sua barriga e umbigo.
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