O pecado original romance Capítulo 35

Uma semana de testes e provas, seguido de uma outra de visitação, trabalho e treinamentos nas diferentes bases e armazéns da empresa. Jonathan sentia-se exausto. Não que o que estivesse fazendo fosse realmente cansativo, mas, sem exceção, suas noites com Eva eram agitadas e ocupadas. Duas olheiras profundas começavam a se fazer visíveis em seu rosto e ele bocejava constantemente. Nunca, no entanto, havia se sentido tão vivo. Eva era criativa e faminta. Desejava-o a todo momento, elogiava-o e fazia questão de deixar claro o quão satisfeita ele a deixava durante e depois de seus intercursos. Para ser sincero, nunca havia se sentido tão másculo, ainda que vivesse cansado.

Mas apesar de seu estado constante de exaustão, o que mais o incomodava era o fato de ter se declarado para Eva uns dias antes. “Quão idiota você pode ser?” Se perguntava constantemente, envergonhado. “O que achou que ela faria? Largaria o Eric pra ficar com você?”.

— Ei. – Chamou Thomas, um dos outros candidatos que participavam do teste. – O que vai fazer depois daqui?

A hora do almoço já ia chegando e Jonathan se sentia ansioso para se encontrar com Eva. Ela havia dito que ia sair naquela tarde, mas se fossem breves durante o almoço, poderiam tirar tempo para um programinha rápido.

— Não sei, acho que nada. – Respondeu Jonathan, imaginando qual posição ou fantasia Eva gostaria de experimentar. – Por que?

Thomas era um ano mais velho do que Jonathan e morador da cidade. Era basicamente a única amizade que o rapaz havia feito e isso se dera principalmente por ele ser completamente extrovertido e insistente.

— Então. Tem essa pista de kart do outro lado da cidade. – Ele começou a falar, seguindo Jonathan enquanto ele caminhava pelo corredor. – Eu e os outros vamos lá mais tarde. Mas é legal chegar cedo para evitar filas, então eu e você podemos almoçar em um restaurante próximo e ser os primeiros a dar os nomes do pessoal. Quarta-feira é dia de promoção: Metade do preço, mas com o dobro das filas.

Jonathan não demonstrou muito entusiasmo. A bem da verdade, a cama de Eva lhe parecia muito convidativa para uma tarde em casa, sozinho.

— Acho que vou passar. – Respondeu Jonathan, não conseguindo parecer muito convicto. – Eu tenho que fazer... umas coisas.

— Ah, qual é Jonathan. – Thomas segurou-o pelo braço. – Como diabos você pode ser tão ocupado? Se tivesse um emprego, não estaria passando por um processo seletivo. E eu sei que já se formou na faculdade.

Jonathan levou a mão até a nuca para coçá-la, sentindo o relevo de um dos muitos e doloridos arranhões que Eva deixara em seu corpo enquanto atingia um de seus intensos orgasmos. Sentiu sua pulsação se acelerar quando a imaginou nua sob ele, pequena, delicada e selvagem. Repleta de uma curiosidade reprimida. Ele gostava de pensar em Eva. Sentia-se ansioso para estar com ela. Gostava da maneira como eles eram livres e indomados quando estavam juntos um do outro. Mas logo que começava a pensar sobre ela, a memória de ela lhe explicando, como se ele fosse uma criança, que ela não correspondia aos seus sentimentos, o atingia como um soco no estômago. Ele sentia os músculos de sua face se retesarem quando pensava nisso. Sentia raiva, tristeza e decepção em um misto dolorido que o fazia sentir como se se aproximasse em queda livre de um chão coberto de concreto.

— Vamos. – A voz de Thomas tirou Jonathan de seu breve devaneio. – Não venha com desculpinhas.

Jonathan suspirou, deixando os braços penderem livres ao lado do corpo.

— Tá legal, vai. – Respondeu, resignado. — Mas eu não vou ficar muito tempo.

— Fora de questão. Tem happy hour no Catharina depois das seis. – Thomas parecia uma criança quando estava entusiasmado e ele se entusiasmava com muita facilidade.

Os dois seguiram até o estacionamento e Thomas parou por um momento tentando se lembrar de onde havia deixado seu carro. Então, levou a mão ao bolso e dois segundos depois, Jonathan ouviu uma buzina em um ponto distante do local.

— Tá brincando? – Exaltou-se Jonathan ao se deparar com a Pajero Sport de Thomas. – É sua?

Thomas ergueu uma sobrancelha e torceu a boca num sorriso arrogante, abrindo a porta do carro. Jonathan deu uma volta completa ao redor do SUV, admirando-o antes de entrar e se sentar no banco do carona.

-É do meu pai, na verdade. – Ele disse, orgulhoso, apertando o botão de partida ao lado do volante.

Jonathan tinha predileção por veículos quatro por quatro, eles se faziam necessários na fazenda onde morava, mas comparado à Ford Ranger ano dois mil e dois que seu pai usava para cruzar as estradas de barro que cortavam os morros de lá, o SUV de Thomas parecia ter saído de um filme de ficção cientifica. Contava com comando de voz, piloto automático, sensores de aproximação e uma infinidade de outros dispositivos que Jonathan nem imaginava existirem. Aquilo o havia deixado um pouco mais entusiasmado e Thomas se aproveitou disso para, durante a viagem, convencê-lo a ficar para o happy hour.

A pista de kart ficava em um ponto um tanto afastado do centro da cidade, no entanto, uma churrascaria anexa a um posto de gasolina já lançava, em toda a região, um delicioso aroma de carne assada. Ela estava consideravelmente cheia e Jonathan percebeu que a maior parte dos clientes eram os caminhoneiros que paravam no posto para abastecer.

A comida era deliciosa e o ponto da carne estava perfeito. O rapaz comeu até estar farto enquanto ouvia Thomas tagarelar sem parar. Ele flertava discretamente com uma linda garçonete que sorria, encabulada com seus comentários. Havia uma plaquinha escrito Erica presa em seu peito. Era uma beldade. Jovem, entre os seus vinte e vinte e dois anos, cabelos ruivos que caíam em madeixas onduladas até a base das costas, olhos de um castanho claro que, dependendo da incidência da luz, brilhavam entre verde e cor de mel e um rostinho miúdo e delicado. Seu narizinho era levemente arrebitado e ela possuía uma pequena mancha cor de vinho no alto da testa. Thomas não parecia apenas estar lançando flertes à esmo. A maneira como se olhavam era de duas pessoas que já se conheciam a algum tempo.

Jonathan sorriu para Thomas, lhe lançando um olhar cheio de significados. O outro rapaz levou o gargalo da long neck até a boca, desviando o olhar.

— Algo me diz que vem aqui toda quarta-feira.

Thomas ignorou o comentário, sorrindo com o canto da boca.

— Gosta dela? – Perguntou Jonathan, curioso.

— Cara, quem faz esse tipo de pergunta? – Zombou Thomas, disfarçando o nervosismo. – Em que ano você vive?

Jonathan corou. Sentia-se realmente anacrônico desde que havia chegado ali. Era como se as pessoas vivessem aceleradas, sem tempo demais para interações sociais presenciais e cansadas demais para serem sinceras sobre seus próprios sentimentos. Cansadas ou amedrontadas.

Thomas seguia Erica com o canto dos olhos toda vez que ela passava e, apesar de haver tantos outros garçons no local, ele parecia fazer questão de chamar ela e apenas ela para atendê-lo. Ela parecia corresponder aos olhares do rapaz, sorrindo timidamente quando os olhos se encontravam.

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