O pecado original romance Capítulo 67

Muitas pessoas se aglomeravam à porta do Jack Steakhouse quando um Toyota Corolla preto parou diante da fachada. Os vidros, cobertos com película escura, não permitiam um vislumbre da figura que ocupava o banco traseiro aos poucos que pararam o que estavam fazendo para olhar.

A noite estava quente e abafada, porém, uma garoa fina e insistente induzia aqueles que se dispunham a esperar por mesas vagas a se aglomerarem sob a marquise. Alguns poucos se sentavam às mesinhas de espera na entrada, mas a maioria esperava de pé enquanto um burburinho alegre tomava conta do local.

O relógio bateu 20:27 quando o salto agulha de Eva tocou a calçada.

— Boa noite, muito obrigada. – Ela disse ao motorista do aplicativo. – Logo mais, lhe faço uma avaliação.

Eva captou, com o canto dos olhos, o virar de cabeça de um dos homens de uma dupla que conversava de maneira descontraída. Ela sentiu o olhar do estranho passear por todo seu corpo e se pousar sobre a sua coxa, branca como leite. Ela levou a mão para ajeitar o vestido, cujo qual possuía uma enorme fenda que lhe chegava quase até o quadril e revelava toda sua perna esquerda.

Ela sentiu seu corpo inteiro se arrepiar quando uma gota de água pingou da porta do carro sobre seu ombro. O cetim negro do vestido contrastava exageradamente com a tonalidade natural de sua pele e Eva se perguntava, constantemente, desde o momento em que havia posto os pés fora de casa, se aquilo não seria um exagero.

Ela usava o pingente de prata que havia ganhado de Jonathan e os cabelos castanho claros haviam sido deixados em uma cascata e encimados por uma delicada tiara de tranças. Seus lábios apresentavam um suave brilho rosado, aparentando estar constantemente umedecidos.

Ela sabia que o restaurante possuía duas áreas distintas, sendo uma delas, no térreo, onde o ambiente era convidativo a momentos como happy hours e reuniões entre amigos, e uma outra, dois pisos acima, onde o requinte se fazia presente em cada dobra dos guardanapos de duzentos e cinquenta fios.

Ela caminhou em seu salto de forma felina, sendo alvo de diversos olhares, o que a fez sentir um leve tremor a percorrer seu ventre.

Jonathan havia insistido para que ela fosse vestida daquela maneira depois de fazê-la desfilar com todos os seus vestidos para que ele a ajudasse a escolher. O rapaz a auxiliou em cada detalhe, provocando-a com elogios e olhares famintos que, durante toda a tarde, fizeram-na desejar, novamente, a semente dele dentro de si. Sempre que tinha a chance, o rapaz a tocava e apertava em locais perigosamente estratégicos e provocantes, o que, invariavelmente, faziam-na avançar sobre ele, em busca de saciedade. Ele, por sua vez, se esquivava de maneira incitante.

À porta do apartamento, antes que ela saísse, Jonathan se havia ajoelhado em frente a Eva e, levando sua mão por sob o vestido, lhe baixou, então, a calcinha até os pés enquanto a encarava com um sorriso coquete num dos cantos dos lábios. “Acho que isso só vai atrapalhar”, ele havia dito, arrancando um suspiro da boca de Eva quando ela sentiu o tecido, já úmido, liberar seu sexo desejoso.

Ela sentia o coração palpitar de maneira sonora em seu peito, acometida por um calor repentino. Lentamente, ela caminhou até a hostess à porta do restaurante. Mesmo a mulher a observou dos pés ao topo da cabeça de maneira cobiçosa.

— Boa noite. – Eva cumprimentou. – Tenho uma reserva.

A moça levou a mão a um tablet que ficava em um suporte à mesa e desbloqueou a tela com o indicador.

— Em nome de quem, senhorita?

Marcos percorreu todo o corpo de Eva com os olhos, sorrindo e apontando a direção para que ela tomasse a dianteira quando a hostess confirmou a reserva. Ele caminhou atrás dela, que por sua vez, seguiu um dos garçons até um elevador panorâmico que levava ao terceiro piso.

O garçom apertou um botão no painel e fez um meneio, desejando um boa noite de maneira cordial e permitindo que a porta se fechasse entre ele e o casal.

Quando ambos estavam sozinhos, seus olhares se encontraram e Marcos esboçou um sorriso repleto de lascívia que fez o corpo de Eva se arrepiar por completo.

— Por um momento, pensei em optar por jeans e camiseta por medo de estar exagerando. – No ambiente fechado, Eva pôde sentir melhor seu perfume, repleto de notas amadeiradas e másculas, dentre elas, couro e tabaco. – Mas você está simplesmente divina.

— Você também não está nada mau. — Ela corou, levando a mão até o braço de Marcos e inspirou o ar. – Além de estar cheiroso.

— Obrigado. – Ele se virou para a porta do elevador. – Quem sabe não esqueçamos que esta é uma reunião de negócios?

“Direto e charmoso, como sempre. Maldito Jonathan, por que diabos tinha de me provocar tanto antes de sair de casa? O que espera de mim, afinal?”. Eva e Jonathan não haviam tido uma conversa conclusiva sobre o que ambos esperavam daquela noite e ela temia que aquele fosse um teste de confiança. “O que devo fazer?”.