O pecado original romance Capítulo 74

Os olhos amendoados passeavam, de quando em quando, na direção de Jonathan. Ana era uma moça delicada e, apesar de pouco falar, mostrava-se expressiva em demasia. Melissa já a conhecia havia alguns anos por intermédio de sua irmã, Marissa e, para ela, ler os trejeitos da garota era fácil e intuitivo. Ela estava se deixando encantar por Jonathan, aquilo era certo.

Na verdade, Melissa tinha de admitir, era fácil se encantar por ele. Tanto que até mesmo Eva, que um dia havia parecido imune aos encantos de outros homens além de Eric, havia se atirado de cabeça no rio de águas caudalosas daquilo que vinha vivendo com o rapaz. Ele tinha um jeito contido que o fazia parecer, na medida certa, tímido e encantadoramente inocente. A angústia e ansiedade que carregava, naquele momento, expostas de maneira tão óbvia no olhar tristonho, podia despertar em algumas mulheres, um instinto protetor e quase maternal. Mas ele carregava, na postura ereta, incontestável confiança e hombridade que pareciam fazer com que qualquer mulher pudesse se sentir protegida por seus ombros largos e braços fortes. Seu corpo era grande, firme e talhado. O rosto tinha traços angulosos de maxilar quadrado e a testa e as sobrancelhas eram proeminentes, dando a ele um aspecto viril, apesar dos olhos gentis. A cortesia, sempre presente em detalhes como se dirigir a um interlocutor por senhor, senhora ou senhorita, demonstravam que sua educação de berço havia sido rígida e ele sempre se mostrava prestativo a todos de maneira igual.

— Minha mãe é uma professora e meu pai é fazendeiro – Ele respondeu, de maneira educada. – Temos plantação de todo tipo de coisa, uma granja e algumas cabeças de gado.

— Nossa. – Alberto ergueu uma sobrancelha, torcendo a boca e meneando a cabeça em aprovação. – Bonitão e rico, ainda. Aonde você arranjou esse, Melissa?

Melissa sorriu, fingindo orgulho, levando a mão ao ombro de Jonathan e percebendo Ana a baixar a cabeça.

Jonathan pareceu não perceber, mas Tobias, o homem que se sentava ao lado de Alberto dispensou a ele um olhar sério e repleto de ressentimento, que foi rebatido com um sorrisinho debochado.

— Ah, não, não, senhor. – Jonathan elevou as mãos à frente do peito. – Não somos ricos. Tem bastante trabalho a ser feito, no entanto. Eu e meus irmãos temos que ajudar meu pai, ou então, ele não daria conta.

— Mas está morando aqui, agora. – O homem constatara. – Se passar no processo seletivo, quais serão seus planos?

Jonathan tomou um gole do chopp, sentindo o líquido gelado a lhe esfriar a garganta.

— Estamos planejando alguns investimentos, modernização e expansão dos negócios. – Ele explicou. – Ao invés de vender a quem industrializa, a ideia seria industrializar algumas coisas nós mesmos. Produção de conservas, enlatados, laticínios e etc. Empresa familiar, à princípio. A ideia, aqui, é passar nesse processo seletivo, lidar tanto com a parte administrativa quanto com o gerenciamento na parte de produção e entender como funciona para, futuramente, pôr em prática na fazenda.

Jonathan tinha o costume de sempre concluir uma frase com um sorriso enquanto conversava, e aquilo parecia deixá-lo ainda mais encantador, fazendo a garota Ana corar quando seus olhares se encontravam em meio a uma conversa.

A noite se passava lenta, com Jonathan checando constantemente seu celular, esperando, talvez, por uma mensagem de Eva. Quando Ana se levantou, indo em direção ao quadro onde a fila do karaokê era anotada, Melissa pediu licença e a seguiu.

Quando conseguiu alcançá-la, Melissa a chamou.

— Vai cantar?

Ana a olhou com um olhar vago que se torceu em um sorriso.

— Vou sim. – O risinho era adoravelmente meigo. – E você?

Melissa respondeu automaticamente ao sorriso, pensando em quão frágil o corpo esguio da moça podia ser.

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