— Ei, ei. – Melissa acariciou os cabelos molhados, em uma tentativa de acalento. – O que aconteceu?
— O que eu estou fazendo da minha vida, Melissa? – Ela não ergueu a cabeça, impedindo que Melissa olhasse em seus olhos. – Eu estraguei tudo.
— Eva. – Chamou. – Eva. Espera só um pouquinho aqui, tá bom? Eu vou ali pegar minha bolsa e já volto. Não sai daqui, não, tá legal?
Melissa percebeu que a música de Ana já ia chegando ao fim e se apressou até a mesa.
Ao se sentar na cadeira, percebeu Jonathan chegando aos tropeções com os canecos de chopp. Ela o observou se sentar, entregar-lhe seu caneco e entornar um outro, sorvendo o líquido até a metade.
— Jonathan. – Ela o chamou e, como não obteve resposta, voltou a chamar. – Jonathan.
Uma explosão de aplausos tomou o ambiente. Jonathan não pareceu se importar.
O rapaz a olhou, aturdido, como se acordasse de um sonho.
— Hã. O que foi?
Melissa bebeu um longo gole do caneco, fazendo uma careta de preocupação.
— Você está bem? – Ela perguntou, levando a mão ao seu joelho.
O barulho ensurdecedor de aplausos tomou o ambiente enquanto Jonathan a encarava, completamente aturdido.
— É a sua vez. – Ela disse, o sorriso disfarçando a tensão.
O rapaz a encarou, confuso.
— Eu coloquei seu nome na fila. – Ela explicou. – É sua vez de cantar.
Jonathan balançou a cabeça em uma negativa e estava preparado para negar quando seu nome foi chamado no microfone.
— Jonathan... – O próprio proprietário do 8ball, que sempre fazia as vezes de organizador, chamou. – Quem é Jonathan?
Jonathan tentou se esconder, fuzilando Melissa com os olhos. Um estrondo começou a soar de maneira ritmada, vindo do tampo da mesa à qual estavam sentados. Logo o trovoar quase ensurdecedor de seu nome sendo clamado junto ao bater de punhos se espalhou por todo o salão. E então, o rapaz se levantou, vencido pela pressão.
Melissa levou a mão ao seu ombro e o direcionou ao palco.
— Arrasa, grandão. – Ela cochichou em seu ouvido, depositando uma sonora palmada em sua bunda. Ela percebeu, com o canto do olho, Ana a observá-la, com um óbvio ressentimento no olhar.
Melissa o observou cambalear em direção ao palco, preocupada. Ficou observando seus atos por um tempo, checando se ele saberia o que fazer e pensou em ir até lá para lhe prestar auxílio.
Parecendo um tanto perdido, ele procurou no livro de títulos por alguma música por um bom tempo e, quando as pessoas começavam a ficar impacientes, caminhou até o violão que servia como decoração para o palco e o dedilhou. Quando ela pensou que ele pretendia desistir, ele ergueu o instrumento do suporte na parede e puxou uma cadeira para o centro do palco, ajeitando o microfone à altura ideal.
— Ahem. – Ele pigarreou. – Eu não encontrei nenhuma música ali a qual eu me sentisse seguro para cantar.
Melissa olhou em direção aonde Eva estava, constatando que sua atenção havia sido chamada instantaneamente pela voz do rapaz.
— Pelas músicas que vocês têm escolhido ao longo da noite, talvez acabem não gostando do que vou cantar. – Melissa observou Eva a esfregar os olhos enquanto chorava. – Mas é uma música que meu pai costumava cantar para minha mãe quando eu era uma criança e ela tem muito significado para mim.
Melissa olhava de Jonathan para Eva, ela a encará-lo com o semblante entristecido, ele a dedilhar as cordas no violão de maneira mais hábil do que se era esperado. Ele aproximou a boca do microfone e, depois de alguns murmúrios, começou a cantar.
— Quando uma estrela cai... – Ele começou, surpreendendo com uma voz harmoniosa e mansa. — ... no escurão da noite, e um violeiro toca suas mágoas...
Melissa olhou para Eva, que encarava a figura do rapaz sobre o palco com o rosto aconchegado à palma da própria mão, uma torrente de lágrimas a escorrer, abundantemente pelas bochechas coradas. Ela se levantou e seguiu, de volta até a amiga.
— Evinha. – Ela chamou, tirando da mão dela as sandálias em farrapos. – Me dá isso aqui.
Eva parecia hipnotizada. As pupilas eram dois buracos negros em meio aos contornos azuis. Melissa levou um lenço até as bochechas encharcadas e as secou, com cuidado.
— Eu não sabia que ele cantava. – Ela suspirou, olhando na direção de Melissa. – Eu estraguei tudo, não foi?
O lábio inferior de Eva avançou em um beicinho manhoso quando os olhos se contorciam e se enchiam, novamente de água.
— Vem aqui, meu anjo. – Melissa a puxou contra si, sentindo os cabelos molhados encharcarem sua blusa. – Vamos ali naquele canto pra gente conversar, tá bom?
Melissa segurou a mão de Eva e a puxou até um local onde uma pilastra as daria um pouco mais de privacidade. Quando se virou para ela, Eva fungou, como fazia quando criança.
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