O pecado original romance Capítulo 77

Jonathan se sentou em um banco que ficava a meio caminho de volta para o 8ball. A garoa fina havia, gradativamente, se tornado um pé d’água, como se as nuvens escuras estivessem acompanhando o desenrolar daquela noite e mimetizando seu humor. Os pingos pesados passaram a golpear o rosto de Jonathan quando ele atirou a cabeça para trás, amaldiçoando baixinho. Ele olhou adiante, na direção do cordão partido, tomando cuidado para que o pingente não se desprendesse e caísse na poça que se formava entre seus pés na calçada. “Que mal-entendido de merda” pensou, lembrando-se do olhar magoado que Eva o lançava enquanto ele beijava Ana, uma moça a qual mal conhecia, pensando estar a beijar a sua amada. “Agora eu estraguei tudo”.

Eva esteve perto de ser atropelada enquanto corria aturdida pela rua e, apesar de grato por Eric tê-la salvo, evitando o pior, Jonathan estava ciente de que a chegada dele deixaria as coisas ainda mais complicadas. A bem da verdade, o rapaz se sentia egoísta e ingrato por desejar a esposa de seu primo depois deste tê-lo cedido hospedagem por tempo indefinido em sua própria casa, mas, aquilo que Eva e ele vinham sentindo um pelo outro deixava pouco ou nenhum espaço para ponderações. Era como se estivessem em um carro potente, à toda velocidade, em uma ladeira e desprovido de freios. O máximo que poderiam fazer para mitigar os danos inevitáveis seria tentar guiar o veículo da melhor maneira possível.

Jonathan apoiou os cotovelos sobre os joelhos e suspirou, lamentando pelo que havia acontecido. Estava angustiado, sozinho, se sentindo o pior dos homens e, ainda por cima, estava encharcado. Pelo menos, o efeito do álcool parecia estar passando. Ele não pretendia voltar para o apartamento naquela noite e a maior parte do dinheiro que tinha havia ficado dentro de sua mochila, no quarto de visitas, o que o obrigava a descartar a possibilidade de estadia em um hotel. Aquilo tudo estava lhe servindo, de maneira quase literal, como um banho de água fria.

Por algum tempo ele permaneceu sentado, sendo golpeado pelos pingos de chuva a imaginar como seria sua noite se tudo tivesse ocorrido como o planejado. Em sua fantasia, Eva e ele caminhariam sob a garoa para casa, com ele lhe a carregar as sandálias, rindo das vezes em que ela, em uma gargalhada pueril, chutaria a água de alguma poça com os pés descalços. Em dado momento, quando os olhares se ancorassem um ao outro por um tempo que nenhum dos dois seria capaz de mensurar, um beijo sôfrego e repleto de paixão uniria os dois corpos e então ela o empurraria, fazendo-o se sentar naquele mesmo banco em que se encontrava, enquanto a chuva se intensificava. Ela olharia para os lados e, percebendo a ausência de olhos característica de uma madrugada chuvosa, ergueria o vestido e montaria em seu colo. Então, de maneira apressada e até mesmo desajeitada, ela abriria sua braguilha e tiraria seu membro para fora. E, Jonathan tinha certeza, ela o montaria ali mesmo, guiada por uma selvageria bestial e ardorosa, ansiosa por sentir sua semente novamente dentro de si.

Quando a realidade voltava a golpeá-lo, ele a imaginava fazendo amor com o marido, na cama dos dois como deveria ser. “O intruso sou eu. Talvez tenha sido para o melhor”. Ao longo da hora que se passou, Jonathan ignorou as vibrações em seu bolso, perdido que estava em seus próprios pensamentos. Hora em suas boas lembranças, hora em suas fantasias, hora na angústia do que viria a seguir.

Ele demorou para notar um veículo que se aproximou e reduziu a velocidade ao passar por ele, parando mais adiante.

— Jonathan, é você? – A voz o chamou, vinda da Pajero Sport. – Jonathan.

Jonathan olhou em direção ao veículo, demorando a reconhecer o rosto que o observava pela janela.

— Cara, você está bêbado? – Thomas perguntou, saindo do veículo e vindo até ele, correndo na chuva.

— Thomas? — Jonathan o encarou, aturdido.

— O que você está fazendo aqui? – Thomas perguntou, segurando no ombro de Jonathan e puxando-o, apressado. – Anda, vem pra dentro do carro.

Jonathan se levantou e seguiu até a porta do carona, mas, percebendo que o banco estava ocupado, abriu a porta traseira.

— Aqui. – Thomas o atirou uma toalha. – Se seca com isso.

Jonathan demorou a perceber que a figura no banco do carona se tratava de Erica, a garçonete da churrascaria, por quem Thomas nutria uma paixão havia muito tempo.

— Oi Jonathan. – Ela cumprimentou, preocupada, analisando-o por cima do banco. – Você está bem?

Jonathan sorriu, anuindo, querendo evitar o assunto.

— Oi Erica. Que bom ver você.

— O que aconteceu? – Erica perguntou, meiga. – Por que estava na chuva a essa hora da noite?

O rapaz encostou a testa no vidro da janela e apenas suspirou.

— Nada sobre o que eu consiga falar nesse momento... – A voz saia falhada. – ...mas obrigado por perguntar.

Ele captou com o canto do olho uma troca de sinais entre Thomas e Erica e, então, as perguntas cessaram.

Jonathan permaneceu em silêncio, ao contrário do casal, que trocou palavras e risadinhas por todo o caminho, até que o veículo parou, em frente à casinha em estilo enxaimel e a jovem de cabelos ruivos, depois de trocar um longo beijo com Thomas, desembarcou e correu até a porta de casa, acenando alegremente antes de fechá-la.

— Passe para o banco da frente. – Thomas sugeriu.

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