O pecado original romance Capítulo 80

Jonathan se havia sentado na cadeira de plástico diretamente ao lado da de Eva. Ele se lembrava do olhar que ela ostentava ao assisti-lo enquanto ele e Ana se beijavam no banheiro feminino. Aturdido pelo álcool, ele havia dito à garota as exatas palavras que vinha querendo dizer a Eva desde o momento em que haviam se amado pela primeira vez. “Eu quero que seja minha. Só minha”. Depois daquilo, os dois não mais haviam se falado. Ele sentia falta de mergulhar na imensidão azul que eram seus olhos e se afogar no êxtase avassalador que aquele ato trazia. Sentia falta das respostas de seu próprio corpo quando, mesmo que por um breve momento, as peles dos dois se tocavam. Sentia falta da maneira como ela corava e suspirava toda vez que ele passeava com suas mãos por seu corpo pequeno, se demorando em suas curvas. E do cheiro de seu cabelo recém lavado, sua voz manhosa e sonolenta ao lhe desejar bom dia e a maneira como ela se entregava completamente a ele, sem duvidar por um momento que fosse de suas intenções. E com um beijo ele havia jogado fora tudo aquilo.

Ele a havia cumprimentado antes de se sentar. O fato de ela ignorá-lo o havia deixado tristonho e envergonhado na frente das enfermeiras que passavam, de um lado para o outro, apressadas. Ele pensou em tocá-la, apertá-la contra si, tomá-la nos braços e obrigá-la a ouvir seus pedidos de desculpas, mas não se atrevia. Manteve-se, então, afastado, respeitando seu espaço.

— Eva. – Ele chamou, sendo novamente ignorado.

Ele suspirou, sentindo o ar a sua volta esfriar.

— Eva... – Ele achou que deveria insistir. — ...eu sei que você deve estar me achando um canalha agora. Eu vou entender se não quiser olhar em meus olhos nunca mais, mas me deixe, pelo menos, dizer o que eu sinto.

Eva continuou em silêncio, acompanhando com os olhos aqueles que passavam por ela, como se deles esperasse alguma coisa. Seus olhos suplicantes se enchiam d’água a cada vez que um médico ou enfermeira cruzava o corredor.

— Eu sei que estivemos juntos durante pouquíssimo tempo e, talvez, não tenha sido tempo suficiente para amadurecer a ideia. Talvez, por ter sido muito afoito, por ter ido com tanta sede ao pote, eu tenha te obrigado a erguer as suas defesas. – Ele decidira continuar o seu monólogo. Se ela permanecesse ali, mesmo que em silêncio, enquanto o ignorava, ao menos, ela o ouviria e, ainda que ela e Eric tivessem ajeitado as coisas entre si, a pressão que parecia querer fazer seu coração explodir desde o momento em que ela havia deixado o apartamento para o encontro com o tal Marcos seria aliviada. – Mas eu tenho certeza do que sinto por você. Para mim, a pequena possibilidade de você ter sentido o mesmo por mim, mesmo que por um breve momento, me deixa mais satisfeito do que jamais estive antes. E mesmo que tudo o que você tenha amado durante esses dias, tenha sido a maneira como eu te amo, ainda assim me sentirei satisfeito, por que meu amor por você é a melhor parte de mim.

Eva esfregou o braço com a mão, como se sentisse frio. Jonathan observou, em sua nuca, seus pelos se eriçarem devagar. Seu cabelo estava amarrado em um coque desajeitado, como se ela tivesse saído de casa com pressa. Ela vestia uma calça jeans e uma camiseta simplória. Nem um pingo de maquiagem cobria seu rosto. Por que?

— Você disse que eu te dei asas. Bom... nas suas asas eu voei e encontrei um lugar do qual vou guardar a lembrança pelo resto de minha vida, ainda que, com essas mesmas asas, você tenha decidido voar para longe de mim. – Ele engoliu em seco, temendo a reação dela ao que viria a seguir. – Eu te amo, Eva. – Para sua total frustração, ela não esboçou reação alguma. – E você está marcada tão profundamente em meu coração, que eu apenas sei que vou te amar pelo resto de minha vida, e, quem sabe, para além dela. Só que, por menos que eu quisesse admitir, por medo de te afastar, eu te desejo só para mim.

Ele suspirou, percebendo o pezinho de Eva bater, impacientemente no chão. Não pretendia mesmo se prolongar.

— Eu queria que fosse minha. – Ele hesitou. – Só minha e de mais ninguém.

Jonathan esperou uma resposta, em silêncio. Ela olhava, angustiada, para nenhum ponto específico da parede branca do corredor do hospital, enquanto mais um rastro de lágrimas se formava em suas bochechas e se juntavam a uma pequena poça delas no chão.

Ele se levantou, se achando um incômodo. Já a havia incomodado demais. Quando ia se virando para partir, no entanto, estacou ao ouvir a vozinha de Eva sussurrar, trêmula.

— Por favor, não vá para longe de mim.

Os olhos de Jonathan se encheram de esperança, mas, quando pretendia sentar ao seu lado para abraçá-la, sua atenção foi chamada em direção à figura que chegava apressada pelo corredor.

— Eu vim o mais rápido que pude. – Eric se sentou ao lado de Eva, onde Jonathan havia estado sentado até então e a abraçou. Ele parecia ignorar sua presença completamente. – Como ele está?

A melancolia se apossou de seu coração uma vez mais e ele pensou em ir embora, mas se lembrou de algo que gostaria de devolver antes de partir. Levou a mão aos bolsos, em busca do pingente e do cordão partido, se desesperando ao não o encontrar. E foi então que o viu. Eva já o tinha, enroscado entre os dedos, enquanto o acariciava freneticamente com o polegar.

Quando o havia entregado a ela? Parecia incapaz de lembrar. Como havia chegado até ali? Por que estavam em um hospital?

— Ele está passando por uma cirurgia agora. – A vozinha de Eva desabou em um choro repleto de dor e angústia. – Os médicos disseram que o risco é muito alto.

Jonathan deu dois passos para trás, sem entender. Sentiu-se confuso, caindo em uma espiral de memórias dolorosas e intensas.

Lembrou-se do cano da arma apontado para a sua cabeça. Lembrou-se do “clic” do cão sendo puxado para trás. E depois o estampido ensurdecedor.

“BAM”

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