— Erica não tinha me comentado nada sobre o seu pai. – Thomas falou, esfregando a cabeça. – Para falar a verdade, ela disse que morava na casa de uma tia.
Jonathan parecia levemente absorto, apesar de tentar prestar atenção ao que o amigo falava.
— Desde quando estão namorando? – Ele perguntou, quebrando o assunto.
Thomas riu, sonhador.
— Desde ontem, ué. Foi nosso terceiro encontro, se é que me entende.
Jonathan o observou, como se não entendesse.
— O terceiro encontro, cara. – Thomas inquiriu, como se devesse ser óbvio. – O terceiro encontro... não sabe o que significa um terceiro encontro?
Jonathan não fazia ideia. Algumas garotas passaram pela sua vida ao longo dela, mas, exceto pelo namorico com uma garota da sua escola que havia durado toda a adolescência, mas não passado do status de namorico, oscilando e sendo interrompido de quando em quando por conta dos ciúmes obsessivos, o relacionamento mais sério e intenso que havia tido, era, certamente, o que tinha com Eva. E o mais cheio de intenções também. Eles não haviam formalizado seus encontros. Tudo havia sido tão intenso sobre os dois que, nada parecia seguir um padrão pré-estabelecido ou um cronograma de namoro.
Ele deu de ombros, esperando uma explicação.
— Ontem nós passamos o dia em um parque e, à noite, aluguei um chalé. – Ele contou, se lembrando. – E então, transamos, logo depois de eu a pedir em namoro.
Por um momento, Jonathan o invejou. Daquela maneira as coisas pareciam tão descomplicadas, ao contrário daquilo que vinha vivendo. Ele se pegou sonhando com um dia em que poderia marcar aquele tipo de programa com Eva e, ao fim de um dia romântico e repleto de lembranças e fotos, a pudesse pedir em namoro, tendo a lua como sua testemunha. Isso se ele a tivesse, um dia, de volta em seus braços.
Ele sorriu, feliz por Thomas e, apesar de sincero, seu sorriso continha um tanto de melancolia. Thomas levou a mão em seu ombro, apertando-o com os dedos.
— Elas têm a ferramenta certa para nos deixar loucos, não é? – Thomas pareceu melancólico à princípio, encarando um Jonathan cabisbaixo.
Jonathan anuiu, à princípio, parecendo ponderar se a tal ferramenta da qual o amigo falava se trataria mesmo de algo abstrato, relacionado aos sentimentos intensos os quais as mulheres tinham o poder de desencadear, mas, notando o deboche na boca torcida, desatou a rir, entendendo a gracinha.
— Você é um idiota. – Jonathan socou seu ombro, incapaz de permanecer indiferente.
Thomas gargalhou, deixando-se contagiar pela risada momentânea de Jonathan.
— Cara, você está tão pra baixo que eu acho que aquela plantinha ali murchou por sua causa. – Ele apontou para um pequeno vaso decorativo que continha um arbusto que já parecia ter secado intencionalmente há anos.
Os dois estavam sentados de frente para a piscina, aproveitando o sol que havia dado a graça de sua presença naquela manhã pós chuva.
— O que acha de darmos uma volta? – Thomas sugeriu. – Afinal, você nem vai querer voltar para o apartamento agora. Seu primo ainda deve estar lá.
Jonathan anuiu, achando uma boa ideia.
— Tem certeza de que não tem problema ficar aqui até amanhã? – Ele perguntou. – Pode mesmo me emprestar um pouco de dinheiro? Tem certeza de que não vai te fazer falta até segunda feira? – Jonathan olhou em volta.
Os dois riram de maneira abobada da piada repentina e então se levantaram para se trocar.
— Aonde vamos? – Jonathan perguntou.
Thomas deu de ombros.
— Acho que, já que somos oficialmente amigos agora, seria legal que você e Erica se conhecessem melhor. O que acha?
Jonathan deixou a cabeça pender para o lado.
— “Oficialmente amigos”? – Ele levou a mão ao queixo. — O que isso significa?
Thomas torceu o semblante de uma maneira cômica e deu de ombros novamente.
— Eu não sei. Você é o primeiro amigo oficial que eu tenho.
— E quando me tornei isso? – Jonathan debochou.
Thomas continuou caminhando na frente enquanto falava.
— Sei lá, cara. Desde o momento em que eu soube que podia confiar em você.
— E quando foi isso? – Ele percebeu que o amigo parecia, de alguma maneira, estar querendo dizer algo sem parecer sentimental demais.
Thomas se virou, apontando para o rosto de Jonathan. Mais especificamente para a região do olho e do supercílio, ainda marcados.
— Quando você sangrou pra me defender, cara. – Ele meneou a cabeça. Havia algo sincero em seu olhar. – Não é todo mundo que faz isso. Não será esquecido.
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