O pecado original romance Capítulo 81

— Erica não tinha me comentado nada sobre o seu pai. – Thomas falou, esfregando a cabeça. – Para falar a verdade, ela disse que morava na casa de uma tia.

Jonathan parecia levemente absorto, apesar de tentar prestar atenção ao que o amigo falava.

— Desde quando estão namorando? – Ele perguntou, quebrando o assunto.

Thomas riu, sonhador.

— Desde ontem, ué. Foi nosso terceiro encontro, se é que me entende.

Jonathan o observou, como se não entendesse.

— O terceiro encontro, cara. – Thomas inquiriu, como se devesse ser óbvio. – O terceiro encontro... não sabe o que significa um terceiro encontro?

Jonathan não fazia ideia. Algumas garotas passaram pela sua vida ao longo dela, mas, exceto pelo namorico com uma garota da sua escola que havia durado toda a adolescência, mas não passado do status de namorico, oscilando e sendo interrompido de quando em quando por conta dos ciúmes obsessivos, o relacionamento mais sério e intenso que havia tido, era, certamente, o que tinha com Eva. E o mais cheio de intenções também. Eles não haviam formalizado seus encontros. Tudo havia sido tão intenso sobre os dois que, nada parecia seguir um padrão pré-estabelecido ou um cronograma de namoro.

Ele deu de ombros, esperando uma explicação.

— Ontem nós passamos o dia em um parque e, à noite, aluguei um chalé. – Ele contou, se lembrando. – E então, transamos, logo depois de eu a pedir em namoro.

Por um momento, Jonathan o invejou. Daquela maneira as coisas pareciam tão descomplicadas, ao contrário daquilo que vinha vivendo. Ele se pegou sonhando com um dia em que poderia marcar aquele tipo de programa com Eva e, ao fim de um dia romântico e repleto de lembranças e fotos, a pudesse pedir em namoro, tendo a lua como sua testemunha. Isso se ele a tivesse, um dia, de volta em seus braços.

Ele sorriu, feliz por Thomas e, apesar de sincero, seu sorriso continha um tanto de melancolia. Thomas levou a mão em seu ombro, apertando-o com os dedos.

— Elas têm a ferramenta certa para nos deixar loucos, não é? – Thomas pareceu melancólico à princípio, encarando um Jonathan cabisbaixo.

Jonathan anuiu, à princípio, parecendo ponderar se a tal ferramenta da qual o amigo falava se trataria mesmo de algo abstrato, relacionado aos sentimentos intensos os quais as mulheres tinham o poder de desencadear, mas, notando o deboche na boca torcida, desatou a rir, entendendo a gracinha.

— Você é um idiota. – Jonathan socou seu ombro, incapaz de permanecer indiferente.

Thomas gargalhou, deixando-se contagiar pela risada momentânea de Jonathan.

— Cara, você está tão pra baixo que eu acho que aquela plantinha ali murchou por sua causa. – Ele apontou para um pequeno vaso decorativo que continha um arbusto que já parecia ter secado intencionalmente há anos.

Os dois estavam sentados de frente para a piscina, aproveitando o sol que havia dado a graça de sua presença naquela manhã pós chuva.

— O que acha de darmos uma volta? – Thomas sugeriu. – Afinal, você nem vai querer voltar para o apartamento agora. Seu primo ainda deve estar lá.

Jonathan anuiu, achando uma boa ideia.

— Tem certeza de que não tem problema ficar aqui até amanhã? – Ele perguntou. – Pode mesmo me emprestar um pouco de dinheiro? Tem certeza de que não vai te fazer falta até segunda feira? – Jonathan olhou em volta.

Os dois riram de maneira abobada da piada repentina e então se levantaram para se trocar.

— Aonde vamos? – Jonathan perguntou.

Thomas deu de ombros.

— Acho que, já que somos oficialmente amigos agora, seria legal que você e Erica se conhecessem melhor. O que acha?

Jonathan deixou a cabeça pender para o lado.

— “Oficialmente amigos”? – Ele levou a mão ao queixo. — O que isso significa?

Thomas torceu o semblante de uma maneira cômica e deu de ombros novamente.

— Eu não sei. Você é o primeiro amigo oficial que eu tenho.

— E quando me tornei isso? – Jonathan debochou.

Thomas continuou caminhando na frente enquanto falava.

— Sei lá, cara. Desde o momento em que eu soube que podia confiar em você.

— E quando foi isso? – Ele percebeu que o amigo parecia, de alguma maneira, estar querendo dizer algo sem parecer sentimental demais.

Thomas se virou, apontando para o rosto de Jonathan. Mais especificamente para a região do olho e do supercílio, ainda marcados.

— Quando você sangrou pra me defender, cara. – Ele meneou a cabeça. Havia algo sincero em seu olhar. – Não é todo mundo que faz isso. Não será esquecido.

Jonathan sorriu quando o amigo virou novamente de costas.

*

Jonathan entrou pelo lado do carona quando o BMW 320i deixou a garagem. Por pouco que o conhecesse, Thomas sabia que Jonathan se perdia demais em seus pensamentos para deixar que ele ficasse em casa. O tal lance com Eva, a esposa do primo, parecia algo realmente profundo que tinha a capacidade acorrentá-lo em um estado de aflição do qual precisava ser constantemente libertado.

— Sai. – Ele ordenou. – Eu vou aí.

Jonathan o olhou, confuso.

— Você dirige.

Os olhos de Jonathan brilharam, por um momento, com a ideia, mas, da mesma maneira que o sorriso havia surgido na face, ele se desvaneceu.

— Não, não. – Jonathan negou. – Acho melhor não. Nunca dirigi algo assim.

Thomas saiu pela porta, dando a volta no carro e se prostrando de frente para a porta do passageiro.

— Anda logo. Não me faça arrancar você daí. – Percebendo que o amigo não pretendia aceitar a sugestão, Thomas decidiu argumentar. – É basicamente uma reta vazia daqui até a casa da Erica. Dirige até lá e depois eu assumo.

Jonathan ainda pensou por um momento, antes de abrir a porta e sair do carro.

— Assim que se faz. – Thomas incentivou.

Jonathan se sentou no banco do motorista, lutando para ajeitar sua posição nos controles eletrônicos, depois, acariciou o volante, estupefato. Ele afundou apenas um pouco do pedal do acelerador, como que para sentir a vibração do motor e, seguindo as diretrizes de Thomas, pôs o carro em movimento.

A estrada até a entrada do bairro onde Erica morava era lisa e prazerosamente reta, com tão pouco trânsito que Thomas até mesmo foi capaz de convencer Jonathan a usufruir um considerável tanto dos mais de cento e oitenta cavalos de potência do veículo.

O rapaz parecia inseguro, mas, ao chegar na frente da casa de Erica, ostentava um sorriso entusiasmado.

— É incrível. – Disse, apenas, passando para o banco traseiro.

Erica não demorou a sair pela porta. Vestia um vestido florido que combinava com o alaranjado em seus cabelos. Ela tinha um sorriso estampado no rostinho miúdo ao se aproximar de Thomas, mas, deixou-o morrer quando a voz masculina chamou seu nome.

— Vai sair, Erica? – O dono da voz era um rapaz com os cabelos, também ruivos. Ele era magro, possuía um cavanhaque ralo e tinha os braços finos e o pescoço repletos de tatuagens. Havia um cigarro entre o indicador e o médio. – Aonde você vai?

O rapaz abria a porta de um caminhão o qual estava estacionado sobre o gramado da casa vizinha.

— Não é da sua conta, Guto. – A voz de Erica saiu desafinada.

O rosto do rapaz se torceu em uma carranca enraivecida, mas ele se conteve ao ver Thomas sair de dentro do carro.

Thomas estendeu a mão para Erica e puxou-a contra si, em um abraço e um beijo contido, estendendo, depois, a mão para cumprimentar o tal Guto. Ele notou que o outro tinha os olhos muito arregalados e a íris estava quase que completamente tomada pela enorme pupila dilatada. Um arrepio correu sua espinha.

— Seu pai sabe que anda saindo com macho por aí, priminha? – Ele ignorou o cumprimento de Thomas, sustentando um olhar assustador por muito tempo.

— Nossa, desde quando você se tornou tão babaca? – Erica perguntou, repreendendo-o.

O rapaz ergueu a mão, apontando para Thomas.

— E desde quando você virou puta de luxo?

— Ei! – Thomas gritou, irritado, segurando-o pela gola da regata.

Guto levou a mão à gola da camisa polo de Thomas.

— Se garante, playboy? – Ele tinha um semblante ensandecido e, seu rosto estava tão perto que Thomas podia sentir seu hálito repugnante. Os dois se encaravam.

— Já chega. – Erica gritou, levando a mão ao braço de Thomas. – Larga ele, Thomas.

O olhar de Thomas foi de Guto para Erica, novamente para Guto, que sorria um sorriso vitorioso.

— É Thomas, me larga.

A porta traseira do carro se abriu e Jonathan surgiu de lá de dentro, erguendo-se, pelo menos, um palmo sobre os dois, encarando Guto com um semblante sério.

Thomas estremeceu com o olhar que o amigo lançava à ameaça. Guto pareceu hesitar por um momento e acabou largando a camisa de Thomas, se afastando alguns passos, sem dar as costas, sob o olhar lupino e ameaçador de um Jonathan transformado. Antes de se virar, Guto apontou para Thomas.

— Se cuida, playboy. – Ele sumiu em uma ruela próxima.

Os três entraram no carro e Thomas fez a volta.

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