— Droga. – Amaldiçoou Erica. – Sinto muito pelo idiota do meu primo.
Thomas parecia transtornado.
— Seu primo tem cara de louco. – Constatou. – Parecia ter usado alguma coisa.
— Ele estava cheirado, só pode. – Erica baixou a cabeça, claramente envergonhada. — Aprendeu a usar essas coisas na estrada. Certeza. Ele não costumava ser assim. Ah, oi Jonathan.
— Oi, Erica. – Ele a cumprimentou. – Como vai? Soube que vocês estão namorando.
Ela deitou a cabeça no ombro de Thomas e olhou para trás.
— Ele te contou?
Jonathan sorriu e anuiu.
— Fico feliz por vocês. – Ele torceu a boca, sem jeito. – Desculpa estragar o seu sábado. Se preferirem, posso ficar em outro lugar. Posso mandar mensagem para uma amiga minha. Tenho certeza de que ela me conseguiria um cantinho num quarto.
— A tal da Melissa? – Thomas perguntou, puxando pela memória o nome da mulher da qual Jonathan havia falado.
— Ela mesma. Não quero ser um incômodo.
— Besteira. – Erica cortou. – Vou ficar feliz de conhecer você melhor. Se não fosse por você, provavelmente nem estaríamos namorando agora. Quando nos casarmos, você pode ser nosso padrinho.
— Casar? – Thomas olhou para o lado, assustado.
Erica o encarou, como se o estivesse analisando. Thomas se sentiu em um território delicado. Não negava, em nenhum momento, que possuía sentimentos pela garota, mas, não sentia urgência em passar daquele estágio o qual haviam acabado de alcançar de maneira tão afobada.
— É, ué. – Ela deu de ombros. – Talvez não agora, mas, um dia, a gente vai se casar, não é? Quer dizer. Qual o motivo de namorar se não pretende se casar um dia?
Thomas voltou a olhar a estrada, sentindo o coração disparar.
A conversa se prolongou por boa parte do caminho. O assunto girou em torno de relacionamentos e amores mal resolvidos e, quando Thomas deu a entender que Jonathan era apaixonado por uma mulher casada, Erica levou a mão à boca, estupefata.
— Sério, Jonathan?
O rapaz ergueu a sobrancelha em reprimenda quando conseguiu captar o olhar de Thomas e, então, concordou.
— O coração quer o que ele quer, não é? – Jonathan respondeu.
— Mas é tão errado. – Ela criticou. – E arriscado. Digo. E se ela decidir continuar com o marido dela? Como vai ser? Você quer ser um amante pelo resto da vida?
Diante da resposta em forma de silêncio, Thomas olhou para Jonathan pelo espelho e percebeu que ele parecia realmente ponderar sobre aquilo.
Quando Jonathan ia abrindo a boca para responder, Thomas viu a cabeça do amigo ser lançada contra o vidro da janela antes de se dar conta do impacto que o carro havia sofrido.
O mundo inteiro pareceu sofrer o impacto enquanto o barulho horrendo de metal se retorcendo se tornava quase ensurdecedor. Thomas queria conseguir controlar o veículo que se recusava a se manter estável e teimava em ser arrastado contra a amurada na beira da estrada. Ele queria checar se Erica estava bem, mas, se via impedido de fazer tal coisa. Os gritos agudos ao seu ouvido, ao menos, lhe diziam que estava viva. Jonathan, por outro lado, permanecia em silêncio desde o momento em que havia batido a cabeça.
A amurada chegou ao seu fim, o que permitiu que o carro fosse atirado para fora da estrada. Thomas sentiu como se estivesse voando por um momento, quando o carro desceu o barranco à toda velocidade. Quando sentiu novamente a gravidade fazer efeito, o airbag do volante golpeou sua face com a força de um soco, pressionando sua cabeça contra o encosto no banco. O mundo girou, pelo menos três vezes antes de o veículo parar de capotar, ficando de ponta cabeça.
— Erica. – Chamou Thomas. – Você está bem?
A garota gemeu, indicando que estava viva.
— Jonathan. – Ele chamou, sem resposta. – Jonathan.
Thomas conseguiu desafivelar o cinto de segurança, batendo com as costas contra o teto do veículo. Com algum trabalho, ele conseguiu levar a mão até a maçaneta e abrir a porta, atirando-se para fora.
— Merda. – Ele amaldiçoou. – O que aconteceu?
Ele olhou ao seu redor. Estava em um local abaixo do nível da estrada. Havia vegetação e pedregulhos por todos os lados e, ao olhar para cima ele conseguiu ver um caminhão parado no acostamento, pouco adiante.
Uma voz se erguia sobre o barulho dos veículos.
— Você é retardado, seu filho de uma puta? – O dono da voz parecia furioso. — Se a minha filha tiver se machucado por sua causa, eu arranco a sua cabeça. Retardado.
— Você queria que eles parassem o carro. – A voz era familiar. – Agora o carro está parado.
— Eu só quero pegar o moleque do Lincoln, seu burro. – O som seco, característico de um murro, seguiu a frase.
— Ai, porra. – A voz de Guto se tornou fanha. – Acho que quebrou meu nariz.
— Vamos descer lá, agora. Deus do céu, Guto. Se alguma coisa aconteceu com a Érica, eu arranco o seu pau, enfio na sua boca e costuro ela antes de te amarrar e te dar para os porcos te comerem vivo, desgraçado.
— Foi mal, tio George, foi mal.
— Mal pra caralho. Agora desce lá, desgraça.
Thomas seguiu até a porta de Jonathan, que se sentava logo atrás do seu banco.
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