O pecado original romance Capítulo 83

Eva havia deixado seu apartamento logo que recebera a ligação do tal Thomas. Havia saído às pressas, mal cumprimentando Walter quando o encontrou na porta do Hall. O hospital Santa Maria ficava do outro lado da cidade, mas ela pagou o dobro do valor ao motorista para que ele a levasse o mais rápido que podia até lá.

Lá chegando, perguntou pelo nome de Jonathan na recepção. Como não havia, nenhum Jonathan, dado entrada na emergência, pôs-se a esperar. Fez uma ligação apressada, tanto para Melissa quanto para Eric e se prostrou sobre a calçada, lacrimejando, aflita enquanto aguardava.

Ela havia tentado retornar a ligação para o número de Jonathan, sem resposta. Não saber o que estava acontecendo trazia uma agonia que a aniquilava. Sentia seu coração se chocando contra o peito, temendo o pior.

Quando a sirene soou ao longe, Eva já havia destroçado suas unhas em uma ansiedade incontrolável.

A ambulância parou, em frente ao portão de emergência do hospital. Ela se aproximou, sendo repelida pelo motorista enquanto os socorristas carregavam uma maca para fora. Ela sentiu, de maneira egoísta, o coração bater um tanto mais aliviado quando percebeu, por conta do rosto barbado do homem mais velho, não se tratar de seu amado. O homem permanecia acordado e gemia em dor, mas um ferimento em seu flanco vinha sendo pressionado por um dos socorristas. Uma segunda maca carregava um rapaz raquítico e tatuado que parecia morbidamente pálido e desacordado. Tranquilizou-lhe o fato de seus cabelos serem ruivos e seus braços e pescoço, repletos de tatuagens.

Ela tentou organizar seus pensamentos, querendo acreditar que aquilo tudo não passara de um trote de Jonathan para chamar sua atenção, mas, o soar de uma outra sirene a chegou ainda mais alto e Eva engoliu em seco, levando uma unha roída novamente à boca.

Ela se aproximou, novamente sendo repelida. Um rapaz ensanguentado desceu o degrau, amparado por um dos socorristas. Seu rosto estava completamente inchado, quase irreconhecível. Sangue manchava cada uma de suas peças de roupa e ele mancava de maneira copiosa. “Não é Jonathan” ela pensou, aliviada. Sentiu, no entanto, o coração se acelerar em desespero quando uma figura completamente disforme surgiu, carregado em uma terceira maca.

— Jonathan... – Ela se ouviu gritar, caindo em prantos. – O que aconteceu?

O rapaz sobre a maca estava lavado em sangue, o braço esquerdo estava fixado por uma tala improvisada e um dos socorristas pressionava um ferimento que vazava sangue sobre seu tórax.

— Não. Não. – A voz saiu esganiçada, trêmula e repleta de angústia.

Ela se desvencilhou do motorista que a segurava e conseguiu se aproximar, ignorando os apelos dos socorristas.

— Ai, meu Deus. – Ela soluçou ao perceber que o rapaz não estava consciente.

O choro deixou sua garganta de maneira desconsolada.

O rapaz que mancava em direção ao portão de emergência enquanto acompanhava a maca de Jonathan a encarou sob o inchaço disforme que era seu olho e se aproximou.

— Você é a Eva? – Ele perguntou através dos lábios destroçados, parecendo ter certeza da resposta.

Eva o segurou pelos ombros, arrancando do rapaz um esgar de dor.

— O que aconteceu? – Ela gritou. – Pelo amor de Deus, me diz que ele vai ficar bem.

O rapaz baixou a cabeça, a tento de esconder o semblante choroso.

Ele segurou a mão dela entre as suas mãos ensanguentadas, virou a palma para cima e depositou algo sobre ela, voltando, então, a fecha-la.

— Ele ainda não tinha perdido as esperanças. – A frase saiu distorcida pelos lábios inchados.

O Socorrista segurou Thomas pelo ombro e o guiou para dentro.

Quando Eva abriu a mão para ver o que ele havia depositado ali, sentiu seu coração se partir com a visão do pingente o qual havia atirado na calçada em um momento de raiva. Ele estava completamente pintado em sangue. O cordão partido estava enrolado em si mesmo, como se alguém tivesse passado algum tempo ajeitando-o com esmero.

Thomas ainda se virou para ela uma última vez antes de entrar.

— Não joga fora de novo, tá bom? – Ele voltou a se virar, deixando Eva com seus pensamentos.

Ela chorava, sentindo as lágrimas lavarem seu rosto, enquanto fungava, constantemente.

*

Quando se lembrava da imagem de Jonathan inerte sobre a maca, Eva baixava a cabeça, tentando conter o embrulho em seu estômago.

Eric tentara animá-la, incentivando-a a comer alguma coisa, sem sucesso. Algumas horas se haviam passado desde que as ambulâncias haviam chegado, mas, Eva sentia-se anos mais velha por conta da tensão constante.

Quando Melissa voltava pelo corredor, Eva se levantou, correndo em sua direção.

— Então, descobriu algo? – Eva a segurou pelos ombros.

Os olhos de Melissa se encontravam vermelhos, como se ela também tivesse chorado.

— Eu falei com meu amigo. – Ela se referia ao contato que havia tido alguns meses atrás com um dos residentes. – Ele conseguiu descobrir algumas coisas.

Eva esperou, ansiosa.

— Eva. Você tem que tentar ficar calma. – Melissa guiou a amiga até a cadeira. – Mas as coisas são bem mais sérias do que eu pensava.

Eva suspirou, impaciente, não querendo interromper.

— Aparentemente o Jonathan quebrou o braço quando o carro em que ele estava foi tirado da estrada. Além disso, ele tem alguns indícios de traumatismo craniano.

— Ai, meu deus. – Eva levou a mão para esconder a boca.

Melissa fechou os olhos, como se estivesse se preparando para o que viria a seguir.

— Só que esse não é o pior... – Ela silenciou, ponderando as palavras que iria usar. — ... Eva. O Jonathan foi baleado.

Eva puxou o ar, assustada, emudecendo.

— O projétil errou o coração por menos de dois centímetros, mas perfurou um dos pulmões e está alojada ali. – Uma lágrima escorreu do canto do olho de Melissa e Eva percebeu que ela tentava se manter forte apenas para que ela mesma não perdesse as esperanças. – A cirurgia é arriscada. Ele precisou ser reanimado algumas vezes. O médico diz que é um milagre que ele esteja vivo. É como se ele estivesse tentando se agarrar à vida com toda a força que ainda possui.

Eva se atirou aos braços de Melissa e enterrou o rosto em seus cabelos, chorando sonoramente enquanto esfregava o pingente com o polegar.

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