Melissa havia adormecido com a cabeça encostada no ombro de Eva e Eric andava de um lado para o outro, ansioso. Algumas horas já se haviam passado.
Eva continuava a verter lágrimas, entregando-se, algumas outras vezes, a um soluço copioso. Seu rosto estava inchado e vermelho. O nariz se encontrava irritado de tanto ser esfregado, assim como os olhos. As pontas de seus dedos já sangravam e doíam, mas ela se recusava a parar de roê-los. O pingente já estava brilhando de tanto ser esfregado e os pés ainda batucavam sobre o piso branco.
Eric parou de andar em círculos, olhando em direção ao fim do corredor, de onde um grupo de pessoas vinha vindo.
Ele caminhou até eles sob o olhar analítico e ansioso de Eva.
Haviam, ao todo, cinco pessoas. Quem liderava o grupo era uma mulher na sua meia idade de cabelos claros. Seus olhos verdes, assim como os de Eva, indicavam uma tarde em prantos. Dois rapazes altos, de seus quinze ou dezesseis anos, quase cópias perfeitas um do outro, vinham atrás, vestindo cores semelhantes e praticamente mimetizando movimentos como se um fosse o espelho do outro. Finalizando a fila, um homem de maxilar travado e tenso se erguia acima de todo o grupo, carregando uma menininha que não devia ter mais do que cinco anos de idade.
O coração de Eva disparou quando o olhou. O homem era a imagem perfeita de Jonathan quando se tornasse mais velho e sua maneira de se mover, firme e orgulhosa, a fez lembrar do rapaz. A lembrança trouxe mais lágrimas aos seus olhos, mas ela tentou disfarçar, se levantando e indo em sua direção.
— Tia. — Eric abraçou a mulher, não dizendo mais nada enquanto os soluços da mãe de Jonathan se intensificavam.
A única que parecia estar alheia ao fatídico acontecimento era a criança, que olhava de um lado para o outro, escondendo o rosto no pescoço do pai quando seus olhos encontravam os olhos de outra pessoa.
Eva limpou o rosto com as mãos, se aproximando. Ela esticou a mão para o pai de Jonathan. O aperto firme, porém, cuidadoso do homem e os calos em suas mãos trouxeram à memória, lembranças das do amante.
— Senhor Valente. – Eva cumprimentou, usando o sobrenome.
O homem fez um breve aceno com a cabeça e não disse mais nada, erguendo a mão para cumprimentar o sobrinho.
— Tio. – Eric o cumprimentou, de maneira serena.
Eva foi até a mãe de Jonathan, que a encarou profundamente. Ela se sentiu despida ante seu olhar, que se havia moldado em um semblante repleto de empatia.
— Senhora Valente. – Eva estendeu a mão.
A mulher levou as mãos às maçãs do rosto de Eva, enxugando-lhe as lágrimas, como se compreendesse e se sentisse agradecida pela angústia da qual compartilhava de maneira tão óbvia no olhar.
— Eva. – Ela a puxou para um abraço mais caloroso do que Eva fora capaz de esperar. – Pode me chamar de Helena, querida.
Eva se sentiu aquecida por aquele ato, não entendendo exatamente o porquê de todo aquele carinho. Então, suspirou, levemente aliviada.
O pai e a mãe de Jonathan se afastaram com o sobrinho até um canto do corredor, provavelmente, a tento de receber a informação precisa sobre o que havia posto seu filho na mesa de cirurgia sem que os outros filhos soubessem dos pormenores. Os outros permaneceram aonde estavam, juntos de Eva e Melissa.
— Gabriel. – Disse um dos gêmeos, estendendo a mão para Eva.
— Miguel. – Disse o outro, logo em seguida.
Eva sorriu, divertindo-se com as semelhanças que a família inteira carregava.
— Eu sou Eva. – Ela se apresentou, estendendo a mão para eles.
Eva olhou para o rostinho miúdo da pequena que a encarava de maneira tímida. Os cabelinhos lhe caíam lisos até os ombros e ainda possuíam uma coloração dourada. Os olhos, eram enormes, curiosos e desconfiados e perscrutavam Eva e Melissa de trás da perna de um dos irmãos.
— E você, gracinha? Como se chama? – Ao ser encarada por Eva, a menina escondeu os olhos no tecido da calça de Miguel.
— Diz o seu nome para ela. — O irmão a incentivou, tentando sair de sua frente e sendo peremptoriamente seguido. — Diz o seu nome para a tia Eva.
— Ester. – Ela sussurrou.
— Oi Ester. – Eva se obrigou a sorrir, estendendo a mão, fazendo a menina se afastar para trás da perna e esconder seu rosto. – Eu sou Eva.
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