O manto escuro da noite já havia coberto o mundo lá fora quando a dra. Mariana ia passando pelo corredor.
Ao perceber que ela não trazia novidades e, sequer pretendia parar para falar, o senhor Ricardo se levantou e foi até ela.
— Doutora. – Ele a chamou de maneira mais ríspida do que pretendia.
Ela o encarou com o olhar cansado, esperando que ele iniciasse o assunto.
— Tem alguma notícia do meu filho?
A esposa se juntou a ele, tentando compensar, com um semblante tristonho e uma voz mansa, a maneira abrupta com a qual o marido havia se dirigido à médica.
A cirurgiã fechou os olhos, pressionando-os com o polegar e o indicador, como se tentasse espantar o cansaço. Havia, sem sombra de dúvidas, trabalhado por horas à fio, salvando os pacientes que chegavam a ela na ala de emergência.
— Como eu lhes disse antes. – Ela começou, levando a mão ao antebraço de Ricardo, que estava cruzado sobre o peito. – Nós fizemos tudo o que podíamos fazer. Agora tudo vai depender de como o corpo do Jonathan vai responder. Ele está respirando com o auxílio de aparelhos e nós introduzimos um dreno em seu pulmão para evitar o acúmulo de líquidos. Seu filho está sob observação constante, senhor Valente.
— Não podemos vê-lo? – Helena perguntou, aflita.
— Infelizmente, não. – Ela respondeu. – O risco de contaminação, nesse momento, é muito alto. O que eu indico para vocês é que vão para casa, descansem e, se vocês tiverem fé, rezem. Rezem bastante.
O pai de Jonathan apertou os lábios.
— Qual o tamanho do risco que nosso filho corre, doutora? – Ele claramente temia a resposta.
A médica suspirou sonoramente, como se estivesse, até então, torcendo para que aquela pergunta não fosse feita.
— Eu não vou enganar vocês. – Ela esperou, tentando encontrar boas palavras para descrever algo muito ruim. – O caso de Jonathan é bem grave. Além de um pulmão perfurado, ele sofreu um traumatismo craniano, teve uma fratura na ulna, no rádio e em quatro costelas e, pior do que todo o resto, ficou sem respirar por muito tempo. O que pode, ou não, deixá-lo com sequelas severas. Nós tivemos de reanimá-lo, pelo menos, três vezes durante a cirurgia. Seu filho está se prendendo à vida com muita força, senhor Valente. Enquanto ele não desistir de si mesmo, nós não desistiremos também. Mas, apesar de o pior já ter ficado para trás, ele ainda corre risco de vida.
Eva, que ouvia a conversa de longe, sentiu seu estômago se revirar de ansiedade.
— Vão para casa e descansem. – A cirurgiã reiterou. – Não há nada que possam fazer aqui. Eu tenho seu contato. A qualquer novidade, eu ligo para vocês, pessoalmente. Amanhã já devemos ter mais notícias.
O senhor Ricardo anuiu, aconchegando a esposa em seus braços.
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