— Nós começamos a reduzir o sedativo durante a noite. Ele tem estado em observação desde então. Como eu já havia dito, nós o estávamos mantendo em coma induzido por conta do desconforto que gera o aparelho de respiração artificial e o dreno. – Disse a cirurgiã ao senhor Ricardo enquanto Eva escutava, de longe. – Hoje, como sua taxa de cicatrização estava sendo relativamente eficiente, decidimos rodar alguns testes. Mas o Jonathan, por algum motivo, não tem respondido aos estímulos externos. Temos tentado trazê-lo à consciência de todas as maneiras possíveis, mas ele não acorda.
Cinco dias já se haviam passado enquanto a família Valente permanecia no apartamento, à espera de notícias. O sol já havia se erguido a algum tempo e o clima de apreensão era quase palpável. Melissa havia acordado Eva para avisá-la das notícias que havia recebido naquela madrugada e, quando Eva se levantou para preparar o café, a família de Jonathan já estava se preparando para sair de casa em direção ao hospital. Eric havia decidido viajar durante a mesma noite em que Jonathan havia passado pela cirurgia, mesmo ante os protestos de Eva e de seus tios, clamando que já havia ficado por tempo demais e que a empresa precisava de seus serviços, mas ela sabia que ele estava apenas querendo evitar conversar sobre os dois na presença de sua família.
— E o que isso significa, doutora? – Helena perguntou.
A doutora Mariana levou a mão ao ombro de Helena, encarando-a, gentilmente, como se estivesse pensando em como dizer aquilo da maneira menos abrupta possível.
— Ele passou por um trauma que normalmente mataria uma pessoa. O corpo dele está usando de toda a energia que tem para se regenerar. Precisamos considerar a possibilidade de Jonathan permanecer em coma. – A voz saiu pesada, como se cada má notícia que desse a um ente próximo a um paciente partisse um pouco mais do seu coração. – Vamos realizar mais alguns testes. O neurologista vem durante a tarde para fazer isso e, assim que tivermos uma posição mais concreta, eu os aviso.
— Coma? – Eva se exaltou, atraindo a atenção dos pais e dos irmãos de Jonathan, que flagraram uma Eva trêmula e boquiaberta, sem forças para disfarçar. – Me desculpem.
Sentindo o pranto a lhe subir pela garganta de maneira inexorável, correu, soluçando até o banheiro, trancou-se no cubículo mais próximo à porta, sentou-se sobre o vaso e se pôs a chorar, desconsolada.
— Não, por favor, não. – Implorou a si mesma e ao universo. – Isso é tudo culpa minha. Por que?
O ar dos pulmões era expulso após cada suspiro trêmulo. Quando tudo parecia estar tomando rumo, um destino tão incerto havia se abatido como uma nuvem negra acima da ponte estreita sobre a qual Eva se encontrava. Havia, agora, apenas um caminho para onde seguir, mas o destino adiante, era tomado por uma névoa densa e assustadora.
Eva ignorou quando a porta que dava para o corredor se abriu e se fechou, indicando que uma pessoa havia entrado. Continuou a chorar em uma tentativa de aliviar toda a pressão que sentia em seu peito.
— Por que? Por que? Droga. – Choramingou, ignorando a coriza que lhe descia pelo nariz. – Estávamos tão perto.
O ar lhe ameaçou faltar e Eva se obrigou a controlar o pranto, que se recusava a cessar. Ela amontoou um chumaço de lenços de papel na mão e os usou para assoar o nariz, percebendo, pela primeira vez, o par de calcanhares que apareciam sob a porta, calçados em um par de sapatilhas azuis. A pessoa que estivesse ali, devia estar recostada à folha de madeira e também chorava baixinho.
Eva se recompôs como pôde e passou a caixa de lenços por baixo da porta, chamando a atenção de quem quer que estivesse ali com duas batidinhas no tornozelo.
— Lenço? – Perguntou, baixinho.
Uma mão foi em direção à caixa e puxou duas folhas, assoando, também, logo depois.
— A senhora deve estar me julgando, desde que soube, não deve? – Ela perguntou, sabendo se tratar de Helena a pessoa que ali permanecia.
A mulher suspirou.
— Eva. – A mulher começou, em um tom maternal. – O amor encontra maneiras estranhas e loucas de se manifestar, querida. Eu confesso que estive preocupada com o que poderia vir a acontecer quando percebi a entonação com a qual Jonathan se referia a você. Pensei em Eric. No que o resto da família podia dizer. No que o Ricardo iria pensar.
Eva ergueu a cabeça, tentando imaginar a tal entonação à qual a mulher se referia.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O pecado original