O Príncipe do Oriente romance Capítulo 1

― Onde você estava? Eu estava te procurando, bobinha. ― Ouvi o príncipe Karim falar com um sorriso bobo nos lábios. Arregalei meus olhos, assustada com a intimidade que ele me dava e também pela sua aproximação.

Será que aquele era o quarto dele e eu meio que tinha invadido o banheiro dele? Mas porque então ele me procuraria? Aliás, para que? Eu era o ser mais invisível da festa toda! Mas tudo mudou ― ou pelo menos minha vida começou a ficar uma loucura ― depois desse momento que Karim se aproximou de mim e agarrou minha nuca me puxando para um beijo ― meu primeiro beijo.

Mas antes que eu comece essa história e a loucura que minha vida se tornou com isso, preciso começar de quando cheguei a festa e de como tudo começou a virar uma avalanche. Então vamos do começo.

Estava muito quente. Para a noite, quando a temperatura geralmente caia bastante, encontrar um clima desses parecia ser um atestado para enxaqueca. Afinal, estar de hijab, cabelo bem amarrado por baixo, não ajudava em nada nisso. Agnes tinha me convidado para fazer companhia no que ela chamou de “festa de uma pessoa importante com pessoas importantes que ignorariam ela”, já que as mulheres do meio social que ela fazia parte ainda não estavam deveras acostumadas com o jeito da Ag nem com o fato de ela ser ocidental, ainda que ela nem pareça tanto assim. Então eu meio que estava fazendo companhia para que ela não se sentisse tão só.

Essas festas, infelizmente, acabavam sendo bem polarizadas. Homens entre homens num canto, mulheres entre mulheres em outro. E as mulheres realmente em grande parte dos assuntos excluíam a Ag, mesmo.

E se tratando de uma festa no palácio da família real, não era para menos.

Eu tinha colocado um hijab vinho que combinava com o vestido de uma cor similar ao vinho que eu mesma havia costurado, com pedrinhas adornando o colo fechado. Era algo que eu gostava de fazer: desenhar e costurar alguns modelitos aqui e acolá. Eu também havia feito como presente o vestido de meia manga alaranjado de Agnes e um véu que ela usava jogado no cabelo, mas só para que o cabelo não ficasse tão em vista, já que Seth insistia que gostava do cabelo dela e que não havia casado com ela para que ela visse o uso do hijab como uma imposição, que ela fosse a Agnes de sempre que ele conheceu. E acho que a Ag até ficou mais calma depois que ele disse isso. Ela, por conta disso, não parecia sentir o mesmo calor sufocante que eu estava sentindo. Algo deveras que incomodava.

Decidi que jogaria uma água no rosto e tentaria sobreviver. No entanto, aquele parecia ser o meu dia de azar: alguém havia tomado conta do banheiro. Alguma mulher que provavelmente não estava bem do intestino, presumo pelo cheiro. Franzi o nariz tentando não me contaminar com o cheiro que conseguia sair da porta e decidi que perguntaria sobre um banheiro. Assim que vi um empregado passando perguntei:

― O senhor saberia se tem outro banheiro além desse que foi tomado? ― E o homem arregalou os olhos com minha ousadia de dirigir a palavra a ele e assentiu.

― Lá em cima. Na ala leste. ― Ele se limitou a dizer escapulindo de mim como se eu fosse um ser contagioso que meia dúzia de palavras pudessem o contaminar. Suspirei. Eu conhecia bem esse tipo de atitude. O medo de que a pessoa com que falávamos fosse uma Nadirah da vida que pudesse nos xingar por não termos “nos colocado no nosso lugar de empregados”. O homem não tinha como saber que eu era do mesmo mundo que ele. Mas eu o entendia. E acho que isso bastava.

Segui na direção que me foi oferecida e caminhei olhando as paredes repletas de quadros e artistas que eu não conhecia. Observei as portas com maçanetas cromadas de ouro e suspirei porque aparentemente seria difícil encontrar um banheiro.

Quando avistei uma porta aberta de um quarto com suíte, olhei para os lados para me certificar que não seria pega no crime. Todo mundo estava no andar de baixo comemorando. Ninguém perceberia que invadi um quarto que bem que poderia ser pessoal. Mas seria rapidinho, prometi a mim mesma. Eu só precisava lavar o rosto e tirar o hijab um pouquinho.

Segui até o banheiro com rapidez e primeiramente joguei água no rosto antes de tirar o hijab. A água gélida até que ajudou a diminuir o calor e mal estar que eu estava sentindo. Mas como eu disse, o azar tinha decidido me acompanhar naquele dia.

― Onde você estava? Eu estava te procurando, bobinha. ― Ouvi o príncipe Karim, O segundo príncipe de Omã!!! Primeiro, a surpresa. Eu não conseguia nem acreditar que estava cara a cara com um dos herdeiros da família real de Omã. Eu! Que nem era rica ou coisa assim, só estava na festa mais como dama de companhia!

Ele tinha um sorriso bobo nos lábios. Arregalei meus olhos, assustada com a intimidade que ele me dava e também pela sua aproximação. Desajeitadamente, dei um passo para trás tentando me certificar de ficar longe do homem, ainda mais de um homem com tanto peso para carregar nas costas.

Certamente aquele era o quarto dele e ele iria me dá um sermão que por Alá eu não estava a fim mesmo de ouvir. Mas também, eu tinha feito uma coisa errada entrando num quarto sem conferir se era de alguém. Engoli em seco.

― Me - me desculpe. Não foi minha intenção invadir o quarto do se-senhor majestade. ― Disse gaguejando e com medo da reprimenda. Mas Karim continuou se aproximando e meus olhos se arregalaram quando sua mão direita agarrou com força o meu queixo me fazendo olhar nos seus olhos. Eu podia jurar que aquela mão deixaria marcas dos dedos na minha pele. E isso não era algo esperado.

― Fico feliz que tenha me achado tão rápido. Me poupará esforços. ― Arquei uma sobrancelha sem entender o porquê seus olhos verdes brilhavam na minha direção. Eram de um tipo de brilho que eu não conhecia, por isso minha total dificuldade em fugir até que fosse tarde de mais.

Karim puxou meu queixo na direção do seu rosto e seus lábios agarraram os meus em um beijo que não tinha nada de cálido. Eu não esperava por isso. Na verdade, não sei nem dizer se esperava um beijo antes do meu casamento!

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