Perverso romance Capítulo 11

Acordei tendo a certeza de que não era um sonho, eu ainda estava na prisão vermelha que Sebastian me colocou.

Se eu ficasse muito tempo parada pensava em Ethan, então comecei a desbravar os livros na estante do quarto, eram todos de capa dura com histórias conhecidas, nenhuma que me tirasse o foco.

Finalmente abri a porta do banheiro, lá dentro tinha uma pia branca com espelho acima, vaso sanitário e uma banheiro, isso mesmo, uma banheira.

Levei as mãos até os lábios.

Pensei que fosse coisa de filme, porém ela estava bem ali na minha frente e o melhor de tudo: tinha água encanada. Na boate, para tomar um banho tínhamos que aparar água em um balde, May não gostava que tomássemos banho no banheiro dos quartos.

Liguei a torneira dourada, a água começou a invadir a banheira. Levei a mão até debaixo da toneira, estava gelada, mas boa o suficiente para um banho.

Fechei a porta do banheiro, tirei a camisola alça por alça, o tecido de seda escorregou pelo meu corpo, eu não tinha curvas para marcar, então foi mais fácil. Hesitei em olhar poucos instantes para meu reflexo no espelho, eu podia contar meus ossos, meu rosto parecia a parte mais morta em mim, até meus olhos verdes pareciam apagados, as olheiras fundas já faziam parte de mim, levaria muito tempo para sumirem. Desviei o olhar. Por isso evitava os espelhos, era doloroso demais ver o que fizeram comigo.

Coloquei um pé de cada vez na banheira e sentei. Um arrepiou percorreu meu corpo, mas a sensação era boa. Segurei nas bordas e por fim me inclinei para trás submergindo. A sensação da entrando nos meus ouvidos era a mesma de quando fui deixada no orfanato após a morte dos meus pais, chovia quando um policial me deixou lá, o olhar se pena dele nunca sairia da minha cabeça. Era mais fácil adotar um cachorro do que uma criança. Fiquei debaixo da água até meus pulmões arderem buscando por ar, meu peito descia e subia exasperado enquanto eu puxava o ar com força sorrindo, tentei mais uma vez, tirei a conclusão de que não dava para me matar afogada.

A água fria acalentava meu corpo, eu gostava do frio, já Ethan preferia o calor do sol, talvez aquela não fosse a única coisa que não tínhamos em comum, mas eu poderia abdicar da chuva em troca de um dia na praia se fosse com ele.

Abriria mão da minha vida pela dele.

Emergi novamente, dessa vez eu não sorria mais enquanto buscava por ar, eu estava chorando.

Apertei as costas nas mãos nos olhos, mas nem isso controlou minhas lágrimas.

Certa vez ouvi que chorar fazia bem quando estávamos tristes, mas o que fazer com a tristeza constante? Aposto que não tinha uma resolução para isso, nem mesmo chorar o dia inteiro até sentir dor de cabeça.

Tudo em mim, doía.

As feridas que May deixou em meu corpo, o peso na consciência e o principal de todos: o oco que ficou após a morte de Ethan.

Quando percebi, eu já estava chorando sem expressão alguma, as lagrimas simplesmente escorriam se misturando com a água.

Saí do banheiro vestida com um roupão no corpo e uma toalha na cabeça. Quase voltei para trás quando vi Marília plantada no meio do quarto olhando na minha direção.

— Por deus! — Exclamo com a mão no peito. — Você parece um espírito.

— Precisa de ajuda?

Balanço a cabeça.

— Aposto que após esse banho se sente melhor, senhorita.

— Nada pode tirar a tristeza de mim, Marília. — Franzo o cenho. — Esse é seu nome, certo?

— Sim, senhorita.

Passo por ela procurando a camisola.

— Onde está a camisola? —

— Levei para lavar, algum problema?

Olho para a cama, apenas o maldito vestido azul.

Bufei.

Marília me ajudou a vesti-lo, ficou folgado no meu corpo, mas segundo Marília não era necessário que ficasse tão apertado. A pior parte de estar perto dela era ter seu olhar de pena. Me sentia ainda indefesa, odiava me sentir assim.

Penteei meus longos cabelos, pelo menos agora eles não estavam duros de sujo.—

— Sebastian lhe aguarda para o café da manhã.

Reviro os olhos.

— Diga-lhe que não vou.

Marili não esperou nem sequer outra negação.

— Certo, senhorita.

Saiu do quarto batendo a sola das sapatilhas no chão limpo. Permaneci no quarto, jogada no sofá enquanto lia um livro qualquer, eu já não estava tão interessada na leitura.

Aproximei-me da janela, hoje o lado estava especialmente agitado, me perguntei se sobreviveria se pulasse daqui, provavelmente não, pois eu estava a metros de distância da água.

— Sebastian ordenou que desça. — Marília fala atrás de mim.

Mais um susto, após me recuperar, suguei o ar pela boca e disse:

— Pois diga que me recuso. Ele não pode me obrigar a comer!

Marília solta um suspiro despercebido e sai novamente, imagino o quão cansativo estaria sendo para ela.

Apoio minha cabeça nos braços, continuou apreciando a paisagem dos pinheiros. Onde estou? Esse lugar não se parecesse nenhum pouco com a Izmir, era frio e isolado, conseguia ouvir meus pensamentos.

Olho ligeiramente para trás e avisto Sebastian com uma carranca nada boa, apesar do terceiro susto no mesmo dia, finjo não ser nada de mais, não queria demonstrar nenhum sentindo em frente a ele. Vou para o sofá e abro o livro novamente enquanto ele me acompanha com os olhos.

— Não ouviu a Marília? — Perguntou.

— Ouvi sim, só não quis ir. — Rebato. O ouço bufar.

— Não está com fome?

Olho-lhe, estava plantado a minha frente com as mãos na cintura. Volto a atenção para o livro.

— Certo. — Assentiu. — Então a partir de hoje você não come mais. Já deve está acostumada, não é?

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