Mas ela virou o rosto para o outro lado, mantendo o orgulho.
Fernando ficou se mexendo na cama, rolando de um lado para o outro, inquieto, tentando dormir. E quando ela finalmente apagou o abajur e deitou-se de costas para ele, sentiu o colchão afundar ao seu lado.
Ele se aproximou, colou o corpo quente ao dela, passando o braço pela cintura e puxando-a contra si. Bianca sentiu com clareza a ereção dele, dura como pedra, pressionada a ela.
— Vai mesmo me deixar dormir de pau duro? Vai fazer essa covardia comigo? — murmurou ele, com a voz rouca e carregada de desejo.
Bianca tirou as mãos dele com firmeza, afastando-se para a beirada da cama, ainda que o corpo implorasse por ele.
— Se estiver tão ruim pra você, por que não procura a Alice pra te ajudar com isso? O quarto dela fica só a alguns passos do nosso. Já transou com ela quando estava na mesma situação, não foi?Pelo menos foi o que me disse.
O silêncio se espalhou como uma explosão contida. Fernando cerrou os dentes, os olhos faiscando.
— Ok. Chega, Bianca. Tudo agora vai ser motivo para jogar a maldita traição que eu cometi na minha cara , mas se você pensa que vou passar a noite discutindo, está enganada. Boa noite.
Ele se virou de costas, cobriu-se com o lençol e tentou dormir, mesmo com o corpo em brasa e o coração em chamas.
Bianca ficou ali, imóvel, sentindo-se dividida. O calor entre as pernas pulsava, o peito doía, e os olhos ardiam com lágrimas contidas. Ainda o amava. Ainda o desejava. Mas havia coisas que nem o maior dos tesões podia apagar.
E naquela noite, mesmo com seus corpos separados apenas por centímetros, a distância entre seus corações era de quilômetros.
Os dias se arrastaram em silêncio naquela casa onde sorrisos pareciam cada vez mais raros. Bianca e Fernando dividiam o mesmo teto, o mesmo quarto... mas não a mesma conexão.
A paixão que antes queimava entre eles, agora era uma brasa adormecida, sufocada por mágoas não resolvidas e palavras engolidas.
Desde o confronto com Alice, Bianca se manteve firme. Evitava conversas desnecessárias, ignorava as provocações sutis — e eram muitas — e concentrava toda sua energia na filha, Valentina. A pequena, com seus cachinhos escuros ,e olhos curiosos, era a luz naquela atmosfera pesada. Já andava com firmeza, ainda um pouco desajeitada, tropeçando vez ou outra, mas sempre com um sorriso no rosto e um gritinho de alegria.
A menininha hesitou, balançou um pouco, e depois correu com passinhos rápidos e desajeitados até ele, que a pegou no colo girando-a no ar.
— Isso, minha campeã! Já está quase correndo. Daqui a pouco nem me espera mais.
Valentina gargalhou, agarrando o rosto do pai com as duas mãozinhas. Fernando beijou a bochecha dela demoradamente, sentindo o cheiro adocicado da filha misturado ao perfume suave do shampoo infantil. Aquele momento, por alguns segundos, parecia curar todas as dores do mundo. Mas bastava ele erguer os olhos em direção à janela do quarto para lembrar-se de que nem tudo estava bem.
Bianca o observava de longe. Viu a cena com um leve sorriso triste no rosto. Era impossível não se emocionar com a conexão entre pai e filha — e talvez fosse isso que mais doía: saber que, apesar de tudo, ainda havia amor entre eles. Mas o amor, sozinho, não estava dando conta.
As horas foram passando e ela não conseguia parar dele olhar para ele ,agora ela observava da sacada do segundo andar, com os braços cruzados sob o peito e os olhos presos na cena no jardim. O sol acariciava a pele de Fernando, destacando o brilho escuro do terno sob medida que moldava perfeitamente suas costas largas e ombros firmes. Ele conversava com o pai, depois de entregar Valentina à babá, e cada gesto, cada expressão tranquila, reforçava o motivo pelo qual Bianca ainda ardia de desejo por ele — mesmo tentando puni-lo com o silêncio e a abstinência.
Não transar com Fernando era uma forma de punição. Mas para ela também. Porque seu corpo gritava por ele todas as noites. Porque, mesmo dormindo, ele a fazia perder o fôlego. Bianca ficava acordada, observando o rosto dele adormecido, a barba por fazer , os lábios entreabertos, o peito subindo e descendo em ritmo calmo... e, às vezes, o volume sob o tecido da cueca ,denunciava o desejo que persistia mesmo nos sonhos. Sua vontade era montá-lo ali, acordá-lo com gemidos e se perder nele, mas sempre recuava. Não queria dar o braço a torcer. Ainda não.

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