Bruxas ergueram colunas de vento e barreiras de energia, desviando, empurrando inimigos para longe dos mais feridos. Uma das velhas, com cabelos completamente brancos, murmurava baixinho:
— Deusa, o supremo está livre… então que essa noite seja julgada por ti!
No centro de tudo, River continuava parado por um segundo, as patas plantadas ao redor de Lyra, o olhar cravado em Atlas.
Lyra tentou se erguer.
Os músculos tremiam e ela conseguiu, com muito esforço, apoiar as patas dianteiras, tirando a cabeça da neve. O mundo girou um pouco, mas ela ignorou, precisava ver, precisava estar consciente.
O supremo baixou a cabeça, o focinho enorme roçou de novo na lateral dela, um toque rápido, quase uma carícia. Lyra fechou os olhos por um instante, deixando aquela sensação a atravessar. O vínculo queimou, mas de um jeito diferente agora, quente, firme, como se estivesse se recompondo.
“Você voltou…”
Ela conseguiu enviar, a voz mental fraca, mas cheia de alívio.
“Você me chamou.”
Ele respondeu, a frase veio acompanhada de imagens rápidas, fragmentadas: a filha deles esmagando o pingente, o cheiro de Lua, o grito “não mexe com a minha família” ecoando pelo campo. Tudo aquilo tinha sido a corda que puxou River de volta para fora do buraco onde Atlas o enfiou.
“Eu… quase matei você.”
A dor naquela confissão quase a derrubou de novo. Lyra sentiu o peso daquela culpa, a forma como ele se via pelo lado de dentro: um monstro com as garras sobre o pescoço da própria companheira.
“Você lutou.” Ela respondeu, firme. “Você me escolheu, mesmo preso. Isso é o que importa.”
O supremo guinchou baixinho, como se o peito doesse.
Ao redor, gritos, uivos, o som de ossos quebrando. A batalha não parava por causa deles, e Atlas, lá na frente, se reajustava, o lobo cinzento andando em círculos, rosnando, procurando uma brecha, tentando se convencer de que ainda tinha chance.
Lyra sentiu River tomar uma decisão.
O supremo se abaixou um pouco mais, até que os olhos vermelhos ficassem quase na altura dos dela. Lyra viu sua própria forma prateada refletida naquela íris rubra e, por um instante, lembrou da primeira vez que o viu assim, naquela caverna, tantos anos atrás. A diferença é que agora ele não estava perdido.
“Você vai ficar segura.”
A frase veio como uma ordem suave, mas inquebrável.
Ela arregalou os olhos, quis protestar, quis dizer que não precisava ser protegida, que lutaria ao lado dele como sempre fez.
“River, eu posso…”
“Não.”
A resposta cortou, mas não com dureza, era firme, carregada de um carinho desesperado. Ele encostou o focinho de leve na testa dela, o equivalente a um beijo na forma de lobo, e completou:
“Você já fez o suficiente, salvou a minha mente. Agora… eu vou acabar com isso.”
Lyra sentiu a resistência dela derreter um pouco, o corpo estava exausto demais, e a parte racional sabia que, se tentasse entrar no meio daquela luta, só atrapalharia. Ainda assim, o coração doía em deixá-lo ir sozinho.
Ela respirou fundo, o ar frio queimando os pulmões.
“Volta pra mim.”

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...