A viagem de volta para a Lua Sangrenta parecia mais longa do que realmente era, não por causa da distância, mas por causa do peso.
O peso dos passos, o peso da vitória, o peso das ausências.
A neve tinha parado de cair quando atravessaram as terras de ninguém e se afastaram das montanhas, onde o clima era mais frio, mas o silêncio que acompanhava a alcateia parecia ainda mais denso que o frio. Lobos caminhavam devagar, alguns mancando, outros apoiando amigos, irmãos, companheiros. As raposas vinham logo atrás, mantendo uma formação unida, honrada. As bruxas fechavam a retaguarda, exaustas, mas dignas, com as mãos ainda marcadas pelos feitiços que salvaram tantos.
River estava à frente.
A postura ereta, imponente, mas não havia orgulho em seu caminhar, havia luto. Porque, mesmo vitoriosos, a vitória era amarga, haviam perdido muitos, e muitos se sacrificaram para que chegassem onde estavam agora.
Lyra caminhava ao lado dele, a mão entrelaçada na dele, mesmo com o braço doendo tanto que mal conseguia mantê-lo levantado. Só que não soltaria. Não depois de tudo.
Nunca mais.
Atrás deles, Lua e Caleb caminhavam como se estivessem grudados. Ele mantinha o braço ao redor dela o tempo todo, como se temesse perdê-la caso respirasse fundo demais. Lua sentia a mesma coisa. Caleb quase havia morrido, de novo, ela não permitiria que ele se afastasse nem um passo.
Quando atravessaram os portões da alcateia, o som não foi de comemoração.
Foi de choro.
De lamento.
De casa reconhecendo seus mortos.
***
Horas mais tarde
As fogueiras foram acesas pouco antes do crepúsculo. Cada uma delas marcava um nome que não voltaria pela estrada que tinham acabado de percorrer.
Lyra parou diante da primeira pira e sentiu o coração apertar tanto que quase perdeu o fôlego.
Eram muitos.
Muitos lobos bons.
Muitos amigos.
Muitos rostos que nunca mais veriam a lua nascer.
Petra chorava abraçada a Solomon, ironicamente, era ele quem a segurava dessa vez, mesmo cambaleando de dor. Cecile estava entre Ignis e Helena, segurando-lhes as mãos como se fosse o elo que as unia ao chão naquele momento. Bertil estava com Jully, que chorava pelos que haviam partido.
A alcateia inteira se reuniu diante das fogueiras, os aliados também estavam ali, outros alfas, Lunas, que também velavam os seus que haviam partido..
E foi River quem deu o primeiro passo para a frente.
O alfa supremo, o supremo guerreiro, o homem que tinha matado o próprio irmão para salvar seu povo. Mas não era como guerreiro que ele falava agora, era como alguém que conhecia a dor de perder pessoas importantes numa guerra.
A voz dele soou forte apesar do cansaço:
— Hoje… enterramos heróis.
A alcateia silenciou, até o vento pareceu parar para ouvir o alfa supremo.
River olhou para a fogueira crepitando diante dos corpos preparados com flores, ervas e peles limpas. Ele inspirou fundo, o peito ainda marcado por cortes, mas sustentado por uma força que vinha de muito mais do que músculos.
— Não existe guerra sem custo, mas existe honra — continuou, a voz baixa, grave, cheia de significado. — Eles lutaram para que pudéssemos viver. Lutaram para que nossas famílias tivessem paz. Para que nossas filhas e filhos crescessem sem medo. Para que nenhuma outra alcateia fosse esmagada pelo terror que meu irmão espalhou por séculos.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...