– Sara, onde está minha bolsa? – Perguntou vovó raivosa enquanto andava de um lado para o outro na minha pequena sala. Suspirei. Já não bastava a noite mal dormida, no colchão duro, ainda havia vovó tentando me tirar do sério.
– Eu não sei vó! Onde você pôs da última vez? Na sala não está! Eu arrumei ontem a sala assim que cheguei. – Disse e vovó decidiu ir então para o quarto procurar. Suspirei.
Vovó, embora muito querida, não sabia onde devia colocar as coisas na minha casa. Em parte, meu toque tinha culpa nesse sentido. Assim, quando cheguei em casa, percebi uma sala mal organizada, com almofadas nos lugares errados, controles no lugar errado, e copos, que deveriam ter sido lavados, na mesinha de centro da sala. E, então, como eu ainda estava muito acordada, acordada até demais, eu decidi que faria essas coisas enquanto isso.
O que tinha acontecido entre mim e Alexander não aconteceria novamente. Era um trato e ele era um cafajeste, como Mara já tinha deixado bem claro. Eu tinha pensado, em algum momento, em quão tolas eram as meninas que tinham deixado ser levadas pelo libertino, mas, pensando bem agora, eu talvez fosse uma idiota também. Eu tinha me deixado levar pelo momento, pelo cafajeste idiota. O que dizer das outras então? Não, o problema era Alexander. A forma como ele enxergava as mulheres. E não. Eu não deixaria que ele viesse a me enxergar da mesma forma. Não mesmo. Se dependesse de mim, isso mudaria. Afinal, Alexander não mais tocaria um dedo em mim.
Alexander ainda fez o favor de me mandar uma mensagem, perguntando se eu não queria almoçar com ele. Descaradamente! Respirei fundo e disse que não, mas ele continuou mandando mensagem e me convenceu de que, já que não poderia me levar, que ele iria ao menos nos buscar e almoçar conosco, para fazer as aparências. Eu já estava odiando toda essa ideia de aparências e ainda estava com medo de encarar Ale depois de tudo o que tinha acontecido. Ainda assim, acabei sendo uma idiota e concordando.
– Vovó, o uber já está nos esperando, vovó! – E eu não tiraria Dobby com uma vovó histérica que odiava meu carro. Já bastava a viagem que iria fazer com o Dobby até nossa cidade. Não bastaria mais outra por aqui.
– Achei. – Disse vovó vindo ao meu encontro. Finalmente, então, pudemos descer. A cirurgia da vovó seria ali pela parte da manhã.
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– Por que você não me atende, Sara? – Perguntou Alexander depois da décima quinta vez que ele tinha me ligado. Revirei os olhos. Ainda que não estivesse a fim de falar com ele, sabia que precisava. Mas Alexander continua: – Ainda estamos no trato, não é mesmo? – Ele pergunta e eu só consigo revirar os olhos. Minha vontade era de dizer não, também, mas acabo decidindo parar um pouco com a birra que estava fazendo.
– Continuamos. E não atendo palermas, sabe? – Digo fazendo Alexander rir do outro lado, achando graça do que eu dizia.
– Ah, que ultraje! Vovó sabe como você trata seus namorados, chuchu? – Ele pergunta risonho, o que me faz tirar a cara de rabugenta que eu estava, enquanto sorria também e o respondia:
– Vovó está numa cirurgia. Ela entenderia que você merece um pouco de aperto. – E então ouço Alexander rir do outro lado, enquanto, mais uma vez, ele retoma as brincadeiras que são de praxe ele fazer:
– Hum, aperto, é? "To" afim de comprar umas amarras, o que você acha Sarinha? – Ele pergunta e eu só consigo corar do outro lado da ligação, agradecendo a Deus por ele não poder ver a forma como eu estou.
– Ale, seu idiota! – Digo e então reviro os olhos. – Quando vovó estiver apta a sair, eu te aviso. Até mais, Ale! – Digo e não dou a oportunidade de ele responder, desligando. Só Alexander para me fazer rir mesmo estando braba com ele.
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– Próxima parada, comer! – Disse Alexander enquanto passa o braço da minha avó pelo braço dele ajudando-a a seguir até o carro dele. Só consigo observar ao mesmo tempo que fico a tentar entender.
Por que Ale é assim? Por que ele é tão gentil com as pessoas? Seria apenas uma representação? Mas se ele é tão gentil assim pelo simples fato de ser, por que ele não se arruma de verdade com alguém? Quer dizer, porque ele não procura um relacionamento sério? Por que tantas? Não se sentiria vazio dessa forma?
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