Sal, Pimenta e Amor(Completo) romance Capítulo 21

Em casa novamente, Alexander, para meu desagrado, deita no sofá, enquanto vovó senta numa poltrona e passa a tricotar. Enquanto ambos continuam a falar mal de mim, que é o que devem estar fazendo, começo a arrumar minhas coisas para viajar. Já é depois de amanhã e tenho que me preocupar com isso.

Pensar que depois de amanhã viajarei e encontrarei minha família parece me despertar uma sensação terrível no peito. Tenho a sensação de que algo de ruim vai acontecer e só tenho a impressão que Alexander estará no meio disso tudo. Espero que eu não presencie tal mal. Na verdade, espero de verdade, que eu também não precise ver isso.

Continuo arrumando minhas coisas e não deixo de pensar em Alexander. Pouco sei dele. Mas ele parece saber tanto de mim. Ele parece ser um exímio notador, observando-me todas as pouquíssimas vezes que saímos juntos, pois ele sabe mais de mim do que imaginei que ele soubesse. Me assusto com tal pensamento, pois sei que preciso saber mais dele, ainda mais agora que toda a família está reunida. Afinal, sei muito pouco sobre ele.

A começar pela loucura que se faz na nossa história toda. Ainda que os pais dele pareçam ter aceitado isso muito bem, estamos juntos a o que? Duas semanas? Menos? Não sei informar direito. Até agora, ninguém me chamou para um convite para almoçar ou coisa parecida na casa dele. Parece um descaso total com minha figura.

Além disso, quase nada sei de Alexander, ao passo que minha família faz questão de contar tudo para ele. Não sei se eles têm medo de eu nunca mais ter a sorte de encontrar um homem que queira fazer parte da minha vida. Eu realmente não sei. Mas a verdade é que me assusta pensar o quanto ele sabe o quão pouco eu sei. Me sinto perdida.

– Chuchu, você tem algum compromisso amanhã de noite? – Ouço Alexander quase gritar da sala. Desperto dos meus pensamentos, ainda pensando no que ele fala.

– Não, porque? – Pergunto saindo do meu quarto e me dirigindo até a sala. Alexander está escrevendo no celular e sou obrigada a esperar que ele termine antes de receber uma resposta dele.

– Jantar lá em casa. – Ele comunica com um sorriso no rosto e eu apenas concordo, ainda temerosa, pois tinha acabado de pensar que não conhecia a família dele direito. Teria Alexander alguma forma estranha de invadir o cérebro dos outros e ouvir os pensamentos desses? Por que era a única explicação que eu tinha para isso.

– Ta bom. – Respondo ainda receosa, ao passo que vovó se levanta da poltrona, parando com o tricô.

– Vou fazer a janta e vocês arrumem a cozinha depois. – Diz vovó deixando-nos sozinho na sala enquanto segue para a cozinha. Não que a sala e a cozinha não estivessem muito próximas, separadas apenas por uma bancada. Mas ao menos era alguma mínima privacidade que vovó nos dava.

– E como eu preciso me arrumar para amanhã? – Pergunto quase sussurrando para Alexander, pois o medo me assombra de parecer não ser suficiente para a família dele.

Mas que pensamento é esse, Sara? Me vejo recriminando a mim mesma. Não é para pensar o que vão achar de você. É apenas um trato e eles vão aceitar você. Ponto final.

Seria mesmo um ponto final? Alexander não me abandonaria se a família dele não aprovasse? Não seria do feitio dele? É uma pergunta que eu realmente não sei responder.

– Bom, a esperar o banquete que os Falcões fazem. – Alexander lança um belo sorriso para mim. – Espere um pouco de pompa, Sara. Um vestido longo, talvez. – Alexander então, como sempre, sorri, e emenda com uma de suas gracinhas. – Ainda que eu prefira vestidos curtos, são mais fáceis de... – E eu não deixo Alexander terminar, pois sei que dele vem besteira, com certeza.

– Não! Quieto! – Digo e recebo uma gargalhada por parte de Alexander que então volta a sua concentração para o celular.

– Vou confirmar nossa presença então. Pode voltar a arrumar suas coisas, chuchu. – Ele responde e eu reviro os olhos decidindo voltar para o meu quarto e me empenhar na arrumação das minhas malas. É o que faço então.

**

Quando volto para sala, percebo que Alexander está empenhado olhando para algum ponto próximo da minha televisão e logo eu compreendo o que é. É uma foto que tenho com meus pais, de quando eu era pequena, ambos dando cada um, um beijo na minha bochecha. Era de quando eu tinha sete anos, mais ou menos, e era uma foto que sempre me fazia ter lágrimas nos olhos, pois foi de uma época muito boa, quando papai ainda estava vivo.

Senti as lágrimas já querendo se aproximar e limpei rapidamente antes de me aproximar de Alexander. Não gostava de mostrar fraqueza. Para ninguém.

– Papai e mamãe. Lindos, não? – Disse e Alexander parecia pensativo enquanto analisava a foto. Acabou balançando a cabeça concordando e então falou:

– Não tenho muitas lembranças da minha infância. – Murmurou secamente e, desde que eu conhecia Alexander, que convenhamos, era pouco tempo, eu nunca tinha visto Alexander tão pensativo, tão seco na forma de falar e como falar. Parecia uma dor lá dentro que ele sentia, o que só aumentava a minha curiosidade sobre o passado dele. Sobre o que ele passava, o que podia estar na mente dele. Se eu pudesse escolher um desejo, escolheria saber o que se passava na mente dele, o que teria sido o seu passado e o que ocasionou a forma como Alexander vive hoje: Parecendo se esconder entre gracinhas, sorrisos e piadas. Teria sido Ale assim a vida toda?

– Mas você era... – Começou Alexander e eu sorri.

– Feia quando mais nova? – Perguntei e ele negou balançando a cabeça. Seus olhos, que brilhavam como duas pequenas orbes de água cristalina, voltaram-se para mim e seu olhar, compenetrado no meu, ousou falar:

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