Eu já tinha o visto assim, quando eu tinha me atrasado e, podia dizer com todas as letras, não gostava nem um pouco quando Alexander passava um pouco dos limites e passava a ser um pouco grosso com as pessoas. Era, de certa forma, rude.
No entanto, as palavras dele me deram outra sensação incomoda. Jornalista. Murilo estaria ali comigo tentando conseguir algum tipo de informação comigo? Eu teria, de alguma forma, conseguido passar a ele a informação que ele queria? Confesso que quando se trata do meu rosto, eu não consigo esconder o que se passa e acabo entregando somente por isso: Por conta da minha face.
– Acalme-se, Lorde Alexander. Estava apenas tendo uma conversa amigável com a Srta. Sara, que diga-se de passagem, é muito bonita para você deixar rolando solta por aí pelo salão, meu amigo. – Disse Murilo e percebi que havia um sorriso no canto dos lábios dele enquanto ele dizia isso.
Voltei meu olhar para Alexander, os olhos dele brilhando de algo que se assemelhava a raiva e ao mesmo tempo ódio. Por um segundo, tive medo dele.
– Eu sei disso. – Rosnou Alexander novamente. – E não sei se ficou claro para você, Murilo, mas ela é minha. – Ele disse arqueando uma sobrancelha, ao que foi recebido por outro arquear de sobrancelha de Murilo.
– Tal como Isabela era minha e você fez questão de que não fosse? – Perguntou Murilo, o olhar brilhando implacável de raiva também. O clima ali já não estava dos melhores. Eu tinha que me meter, do contrário, os dois acabariam na porrada ali.
– Cavalheiros, paremos com essa criancice, tudo bem? – Perguntei, mas ambos fingiram que não tinham me ouvido. Alexander o respondeu:
– Não tenho culpa se Isabela queria experimentar um pouco mais de mim também, Murilo, e Mentiu para mim dizendo que não era comprometida. Afinal, você mesmo sabe que ela escondeu o anel de noivado. – Disse Alexander sorrindo muito. Aquilo pareceu ser uma facada no meu coração.
Além de idiota, que não respeitava as mulheres, Alexander ainda roubava a dos outros? Que tipo de homem era esse com quem eu estava me relacionando, meu Deus? O pior de tudo, ele não parecia nem um pouco abalado em comentar essas coisas na minha frente. Como se isso não fosse nada, como se isso não representasse nada. O que eu era ali, afinal? Uma maldita telespectadora? Uma idiota que não servia para nada?
– Da mesma forma que a sua noiva não tem um, Milorde? – Perguntou Murilo desdenhando de Alexander. Não me mexi. Eu sabia que não tinha aliança alguma, mas, tecnicamente, a gente ainda não estava noivando de fato. Ao menos, era o que eu tinha em mente.
– Como queira, Murilo. Mas você pode perguntar para a Isabela por quem ela mais chamou em todo o tempo que esteve contigo e no pouco tempo que teve comigo. Eu diria que eu já venci essa. – E, então, eu não aguentei. Não servia como uma idiota. Não ficaria ali com cara de tacho ouvindo todas as barbaridades que eles falavam, principalmente Alexander, que tratava as mulheres como objetos. Se dependesse de mim, não ficaria assim.
– Eu vou me vingar de você, Alexander! Vou descobrir todos os seus podres! – Ameaçou Murilo antes que eu falasse alguma coisa.
– Já chega! – Disse alto e percebi que tinha até mesmo chamado a atenção de algumas pessoas que estavam dançando, alheia a tudo em virtude do som alto. Aparentemente, eu tinha me exaltado demais nessa frase. Respirei fundo e voltei a falar, com a voz mais controlada e suficiente para que apenas os dois me ouvissem.
– Eu não tenho porque ficar no meio de dois idiotas. – Murilo e Alexander começaram a abrir a boca, como a se defenderem, mas eu não deixei, já emendando: – Murilo, você é um jornalista que já perdeu o meu respeito, pois eu mal te conhecia e não faço parte do passado entre você e Alexander para servir como um boneco na sua mão, coletando todas as informações que você julgue pertinentes. – Virei-me então para Alexander, que estava com as mãos na calça do terno, casualmente sorrindo com o canto dos lábios. – E você é um retardado maior do que achei que você era. – Para meu agrado, o sorriso de Alexander sumiu, formando ares de raiva contida diante do que eu dizia. – Eu não sou uma mulher qualquer, Alexander. E eu não admito ouvir você falar de outras mulheres, principalmente aquelas que já estiveram com você, da maneira como você fala delas, e, pior, na minha frente! Você só deve ter perdido a trave mental ao pensar que alguma mulher gosta de ser tratada por um homem arrogante assim. Pois saiba que sendo eu, virgem, me recusarei um dia a dar a um homem como você. Você precisa mudar muito se um dia pensas em me conquistar. – E dito isso eu voltei minha atenção para Murilo dizendo: – Pois deixe claro, jornalista melindre, que eu estou terminando com Alexander. A julgar o homem que ele transparece ser, ele precisa reconquistar-me para tal. – Disse com um brilho no olhar.
Alexander ainda parecia boquiaberto com o que eu dizia, mas eu não parei ali. Não conseguia parar. Não depois de ver como Alexander tratava as mulheres.
– Você talvez nunca tenha se apaixonado. Se o tivesse, veria que não importa a quantidade de pessoas que se pega, mas a pessoa que se tem ao seu lado. Acho que eu ainda não consegui te mostrar isso. Ah, e outra. – Umedeci os lábios. – Eu não sou sua, eu sou eu mesma. E ponto final. Não há minha. Se um dia planeja que eu seja sua, cresça. – Disse e então, como finalização, dei as costas para Alexander que ainda estava boquiaberto e sai andando em passos rápidos em direção ao Dobby.
Dobby estava relativamente distante e eu precisei apressar meus passos, pois Alexander estava em transe ainda com o que eu tinha dito e eu tinha que aproveitar essa chance. Ele talvez estivesse morto de raiva minha agora. Mas eu precisava dizer tudo isso! Estava entalado na minha garganta! Eu não conseguiria conviver com essa mentira junto dele se ele não aparentasse mudado. Afinal, um homem mudado não fala de outras mulheres como ele falava das outras! E outra, porque a mim? Se ele vivia assim tão cercado de outras mulheres, porque eu?
Eu não me importava. A única coisa que queria era ficar longe daquele homem idiota que tratava as mulheres como objetos. Sua, minha, dele, fosse como fosse, eu era uma mulher independente! Não podia ser tratada assim. Eu não deixaria que ele me tratasse assim. Nem em um milhão de anos. Poderiam dizer que eu estava fazendo uma tempestade num copo d’água, para quem estava em apenas um simples trato, mas aquilo envolvia a minha honra! E eu nunca iria querer sujá-la como a moça que deixava ser corna.
– Sara... – Ouvi ao longe, entre respirar apressados. – Espere. – Era Alexander. O meu carro ainda estava distante. Num outro quarteirão das mansões, onde havia menos pessoas e menos carros também. Eu precisava chegar a tempo, já que não queria olhar para Alexander nem pintado de ouro. Tirei os saltos altos que estavam nos meus pés, atrapalhando que eu corresse, e passei a fazê-lo, correndo pelo asfalto descalça, como uma idiota faria.
Eu não fazia parte daquele trato idiota para ser maltratada pela mãe dele. Tampouco para ser alvo de uma rixa que ele tinha com jornalistas. Ainda mais, para ficar sozinha, ouvindo falar que ele sempre estava cercado de mulheres. Não, eu preferia nem fazer parte de trato algum a ter que me sujeitar a uma coisa dessas.
Consegui chegar até Dobby, mas podia ouvir que Alexander também vinha correndo logo atrás. Abri a porta de Dobby, e quando estava a fechar, Alexander segurou a porta do meu amigo, respirando forçadamente e não me deixando fechar. Grunhi de raiva.
– Me deixa ir embora, seu idiota! – Disse e Alexander que ainda se recuperava da corrida, que tinha sido maior que a minha, negou.
– Não! Eu não vou deixar você ir embora até conversar comigo, Sara. – Ele disse rosnando para mim. Balancei a cabeça negando.
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